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(Foto: Reprodução)

 

A crise econômica gerada pela pandemia do coronavírus no Brasil e no mundo é uma ótima oportunidade para as startups que atuam no segmento do agronegócio oferecerem novos produtos e serviços aos produtores, assim como enfrentar gargalos importantes, a exemplo da ausência de conectividade nas áreas rurais. A avaliação foi feita por representantes da cadeia produtiva, entre empresas de tecnologia e agricultores.

A análise foi apresentada na manhã desta quarta-feira (16/9) em live transmitida pela Globo Rural para debater o impacto da pandemia sobre o mercado das agtechs. Participaram da conversa Marcelo Carvalho, co-founder do AgTech Garage, Rafael Sant'anna, country business manager na Agrofy Brasil, e Éder Giglioti, CEO da SmartBreeder. A mediação foi do editor-chefe da revista, Cassiano Ribeiro.

Nesta quarta-feira, Globo Rural divulgou com exclusividade um levantamento com 104 empresas realizado pelo AgTech Garage, hub de inovação localizado em Piracicaba (SP), onde a maioria delas disse ter lançado novos produtos e serviços (55,8%) e manteve ou elevou suas receitas (65,4%) mesmo com as incertezas durante o período de isolamento social.

“A gente tem que avaliar o que vem acontecendo, independente da pandemia. O agro tem um presente e futuro interessantes. A gente vê muitas corporações nos procurando. Nós temos um hub físico e serviços de inovação digital que fazemos com as empresas e vimos que houve um aquecimento grande nos últimos dois meses, voltando com carga total porque estão entendendo que é um processo de crescimento que vai continuar”, afirmou Marcelo Carvalho.

Assista à live na íntegra

Entre as 27,9% de empresas afetadas negativamente pela pandemia, uma parcela importante está no mercado de cana-de-açúcar (25,5%), impactado negativamente pela conjuntura de queda na demanda por combustíveis e preço baixo do barril de petróleo no mercado externo. Segundo Éder Giglioti, CEO Smart Breeder, startup que trabalha no setor sucroenergético, as empresas de tecnologia tiveram de oferecer novas soluções.

"O setor ficou com um pé atrás em fazer novos negócios. Isso afetou a nossa expansão de novos clientes. Em contrapartida, os nossos clientes, que somam 2,5 mil hectares, por não poderem receber visitas se sentiram quase que obrigados a fazer essa gestão e a assistência técnica remotas", disse.

O resultado é que a empresa deixou de crescer a taxas de 100%, como em anos anteriores, mas avançou 65% mesmo durante a crise econômica e em um setor considerável mais sensível. “A grande quebra de paradigma é que a agroindústria e o produtor tiveram que fazer um trabalho intenso remoto e foi até positivo para a digitalização da agricultura”, completa Giglioti. A avaliação resume um aspecto importante do levantamento: 72,1% das entrevistadas disseram ter notado uma aceleração da digitalização em função da Covid-19.

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Segundo Rafael Sant'anna, country business manager na Agrofy Brasil, marketplace com atividades no segmento agrícola, os primeiros 20 dias da pandemia foram marcados por dúvidas sobre o impacto da doença na saúde e na economia. Passado esse momento, as empresas buscaram novas formas de acessar o mercado.

"Obviamente, os riscos também trazem oportunidades. Além das feiras online, a gente tem uma unidade de negócio, a Agrofy Tech, onde além da indústria ter um espaço virtual nas feiras, nós também estamos oferecendo serviços customizados à essa indústria, como aplicativos para a digitalização do seu catálogo, e-commerce próprio e a digitalização de barter. Nós avançamos muito neste sentido", diz. Com isso, a Agrofy saiu de R$ 4 bilhões em negócios dentro da plataforma no primeiro semestre de 2019 para R$ 21 bilhões nos primeiros seis meses deste ano.

Conectividade

Para os entrevistados, a falta de conectividade nas áreas rurais no Brasil é um entrave para o avanço da digitalização no agronegócio. Ainda assim, é possível oferecer soluções que possam driblar esse problema estrutural. "Há algumas startups que acabam mirando os grandes grupos porque eles representam, individualmente, uma venda potencial significativa e são mais estruturados em termos de conectividade. Mas há também startups que estão buscando soluções para produtores de menor porte, onde a solução é mais desafiadora, mas lá na frente o mercado é mais seguro", afirma Marcelo Carvalho, do AgTech Garage.

Para Carvalho, o aumento da produtividade passa pela expansão do acesso a conexão no campo, principalmente no caso da agricultura familiar. "Se a gente analisar que para esse mundo 4.0 a conectividade e a adaptação de soluções são importantes, haverá um gap cada vez maior para o pequeno produtor. Cooperativas e agrupamento de produtores são boas alternativas."

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Segundo Éder Giglioti, da Smart Breeder, as agtechs tendem a expandir o mercado com o crescimento das operações no longo prazo. "O olhar para a agricultura familiar é natural ao longo do tempo. Nós focamos no início no mercado de cana-de-açúcar, mas é algo marginal. Eu tenho em fibras e grãos um mercado até seis vezes maior. Então, as tecnologias foram para soja e milho e depois para cana-de-açúcar", pontua. "A mesma coisa eu vejo para a agricultura familiar. As empresas buscam os setores maiores para se manter de pé, onde vai ter uma área considerável de início. Depois buscam outros segmentos", completa.

Na opinião Rafael Sant'anna, da Agrofy, o lado positivo da crise causada pela pandemia é a discussão sobre como oferecer um serviço de forma remota, o que impacta diretamente na digitalização."Se a gente olhar para 2019, pouquíssimas pessoas se reuniriam em volta de uma mesa para falar de digitalização no agronegócio e marketplaces. Hoje, esse assunto ganhou peso em discussões e com um público grande em diversos contextos", diz.

Por isso, para se destacar em um mercado competitivo, as empresas precisam saber ‘pivotar’ – termo utilizado para aludir a capacidade das startup em modificar a atuação de acordo com a oportunidade de novos negócios. "Ela tem o objetivo, mas é a facilidade de ‘pivotar’ o negócio que vai oferecer as melhores oportunidades. Nós nascemos como um marketplace, hoje somos uma empresas de tecnologia que fornece produtos e serviços. Estamos trabalhando com feiras online e queremos trazer a realidade virtual e meios de pagamento", completa Sant'anna.
Source: Rural

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