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Banco genético da Embrapa, em Brasília (DF). Pesquisadores estão atualizando os dados sobre genética vegetal no Brasil (Foto: Divulgação/Embrapa)

 

Pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, com sede em Brasília (DF), estão realizando uma ampla pesquisa para atualizar o banco de dados sobre genética vegetal no Brasil. As informações serão compiladas em um relatório de nível nacional e irão compor uma base mundial reunida pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

“O levantamento vai dar visibilidade aos recursos genéticos do país. É importante mapear para saber onde eles estão conservados e servir de base para políticas públicas que possam favorecer seu uso”, explica Rosa Lia Barbieri, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.

A pesquisadora, que também é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos, esteve na equipe que elaborou o relatório anterior sobre a genética vegetal brasileira, datado de 2008. E conta que, para esta edição, está coordenando o trabalho de coleta de dados em diversas frentes de pesquisa.

A ideia, diz ela, é ter um mapeamento completo daquilo que é conservado in situ – próximo dos locais de origem – e ex situ – quando o material está armazenado em bancos genéticos, como o de universidades, empresas, institutos de pesquisa ou mesmo nas unidades da própria Embrapa.

“Nós sabemos que tem muita coisa, mas, como o último levantamento é da década passada, mudou muita coisa e ainda não temos isso sistematizado. O objetivo é fazer o levantamento e disponibilizar”, pontua Rosa Lia.

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A coleta de informações está sendo feita através de três questionários online. Um deles é para quem conserva variedades tradicionais ou crioulas (conservação in situ). O segundo é voltado a responsáveis por bancos genéticos e coleções de germoplasma (conservação ex situ) e o terceiro para quem trabalha com melhoramento genético (uso sustentável).

Os questionários da pesquisa estarão disponíveis até 15 de setembro, com participação aberta a representantes do setor público e privado. As informações dessas consultas serão complementadas com material coletado em outros bancos de dados, como quantidade de cultivares registradas no Brasil, volume de artigos publicados sobre recursos genéticos vegetais e políticas públicas ligadas ao tema.

Depois, os pesquisadores – um grupo de pelo menos 20, de diversos segmentos relacionados à conservação e uso de recursos genéticos – farão a organização do relatório do Brasil. O novo documento nacional será editado em inglês e em português, conta Rosa Lia. Materiais em vídeo também devem ser produzidos para divulgar a publicação.

O grupo de trabalho também tem até o final deste ano para enviar as informações para a FAO. Esses dados irão compor o Terceiro Relatório Mundial sobre o Estado dos Recursos Genéticos Vegetais, previsto para 2023. A edição anterior do levantamento global é de 2010.

“Vamos analisar e organizar os dados, inserir em uma base da FAO e, paralelamente, começamos a escrever o nosso relatório. No ano que vem, publicamos”, explica Rosa Lia. “Nossa prioridade é que essas informações estejam acessíveis para os brasileiros”, acrescenta.

Conhecimento fundamental

Rosa Lia Barbieri destaca que o conhecimento sobre os recursos genéticos disponíveis é fundamental para a agricultura e a segurança alimentar no Brasil e em outros países. Afinal, é a partir desses recursos que são desenvolvidas variedades com características específicas, como resistência a pragas e doenças, tolerância a mudanças climáticas ou mais nutritivas.

“Novas variedades são desenvolvidas todos os anos com base nesses recursos genéticos. E tem os recursos mantidos pelos agricultores, povos e comunidades tradicionais”, destaca.

Ela acredita que a nova edição do relatório nacional deve dar mais ênfase ao trabalho dessas comunidades tradicionais e agricultores guardiões de sementes. São diversos grupos espalhados pelo país que atuam de forma organizada na conservação de cultivares tradicionais, muitas vezes, herdadas de antepassados ou compartilhadas entre eles.

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Segundo Rosa Lia, levantamentos anteriores indicavam que a conservação dos recursos estava concentrada em instituições de pesquisa e universidades. No entanto, a conservação ex situ é complementar ao feito ao longo de gerações, in situ, pelas comunidades rurais. A ideia, portanto, é tirá-las do que chama de invisibilidade e mostrar sua importância na preservação da variabilidade genética na agricultura.

“Nosso compromisso é mostrar as várias facetas do uso e conservação dos recursos genéticos no país. E tivemos a preocupação de ter pessoas com grande ligação com esse tema no nosso grupo de trabalho. Queremos mostrar a importância do que esses agricultores historicamente fazem”, diz ela.

Para a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, o trabalho ganha mais importância depois da ratificação, por parte do Congresso, do Protocolo de Nagoya, que estabelece diretrizes de acesso e repartição de benefícios do uso de recursos genéticos. O protocolo foi estabelecido em 2010 e assinado pelo Brasil em 2011, mas precisava ser ratificado, o que foi feito neste ano pela Câmara e pelo Senado.

“Vai servir de subsídio para esse tipo de política internacional. Tem o protocolo de Nagoya e outras políticas internacionais que o Brasil ratificou há mais tempo, como o Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para Alimentação e Agricultura (Tirfa) e a Convenção da Diversidade Biológica (CDB). Esse relatório tem uma relação com essas três políticas internacionais”, explica a pesquisadora.
Source: Rural

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