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(Foto: Unsplash/Creative Commons)

 

Há um mês, 15 pés de laranja e limão da Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) de Taquarituba, no sudoeste paulista, foram arrancados e trocados por cerca de 50 mudas de jabuticaba, coco, manga, jaca e outras, com a conscientização e participação dos alunos.

Em 2018, a Prefeitura de Gavião Peixoto, na região de Araraquara (SP), trocou todas as murtas da área urbana pelo dobro de mudas de outras plantas ornamentais com o aval da Câmara Municipal. Um ano depois, a aldeia indígena Kopenoti, em Avaí (SP), também arrancou seus pés de citros e os substituiu por mudas de outras frutas.

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Essas ações integram um projeto desenvolvido pelo Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) em parceria com citricultores para combater o greening, doença mais grave dos citros, que apresenta um índice de 20,87% de contaminação, segundo levantamento divulgado em agosto.

O manejo externo, desenvolvido geralmente em um raio de cinco quilômetros das fazendas produtoras, já erradicou, desde agosto de 2018, 850 mil plantas em 1,4 milhão de hectares no cinturão citrícola brasileiro, que inclui grande parte do interior paulista e o Triângulo e sudoeste de Minas Gerais. 

(Foto: Pixabay)

 

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Os alvos do projeto são pastagens, chácaras, pomares abandonados, calçadas, estradas e imóveis com pés de laranja, limão ou murta, que são fontes de criação e contaminação do inseto psilídeo, transmissor da bactéria que causa o greening.

Também conhecida como huanglongbing e HLB, a doença foi identificada no Brasil em 2004 e não tem cura. Ela afeta o desenvolvimento dos frutos, provocando a queda precoce e a redução da produtividade da planta.

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Juliano Ayres, gerente-geral do Fundecitrus, explica que pesquisas mostraram que 80% das plantas doentes estão nas bordas das propriedades citrícolas. “Descobrimos que, diferententemente das outras doenças que atingem os citros, que dependem mais da ação do citricultor em sua propriedade, o greening exige um trabalho rigoroso dentro da fazenda, mas também demanda um trabalho cuidadoso fora da porteira, com a união dos produtores da região", afirma.

A primeira missão das equipes de manejo externo, segundo Ayres, é sensibilizar os donos de imóveis que tenham pés de citros ou murtas sobre a necessidade da erradicação. O negociador da equipe precisa explicar aos donos dos imóveis o prejuízo que aquela planta pode causar ao transmitir a doença para as áreas de produção comercial, diminuindo a produção citrícola da região, a renda e os empregos. “Para que eles não se sintam prejudicados, são oferecidas mudas de outras frutas como troca”, diz Juliano.

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No caso da Apae, por exemplo, a diretora Rosangela Maria da Silva conta que os pés de laranja do pomar da unidade da zona rural já não estavam dando frutos ou produziam muito pouco. “A troca foi providencial. Além das mudas de outras frutas, passamos a receber doações semanais de laranja de um produtor da região para atender nossos 190 alunos", diz.

Ivaldo Sala, engenheiro agrônomo do Fundecitrus que coordena as ações de inteligência no combate ao greening, explica que a maioria das pessoas abordadas pelas equipes aceita as trocas e pelo menos 93% das plantas doentes são substituídas. Segundo ele, o trabalho é de médio e longo prazo, exige repasses e união dos produtores, mas, na maioria das áreas em que se faz o manejo externo, houve queda da incidência da doença. “Temos regiões que tinham 11,5% de plantas doentes e hoje têm apenas 3%.”

Produtores

 

(Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

 

Nas fazendas do grupo Agroterenas, que ocupam 8 mil hectares em Duartina (SP) e Santa Cruz do Rio Pardo (SP), 6% das árvores foram arrancadas. O índice de contaminação atual é de 0,8% a 1% ao ano graças à junção dos manejos internos e externos, segundo Aprigio Tank Junior, gerente de produção agrícola.

“E, neste ano, estamos conseguindo reduzir para 0,6%”, destaca. Ele conta que a empresa faz o controle interno do greening desde 1994, erradicando todas as plantas doentes, mas observou um aumento muito grande de árvores infectadas a partir de 2017.

A Agroterenas se aliou então à Fundecitrus e iniciou o trabalho externo em 2018. “Primeiro, formamos um grupo para conscientizar prefeituras, escolas e a comunidade sobre a doença e seus riscos para a economia citrícola. Depois, iniciamos as ações ao redor das fazendas: a cada planta erradicada, plantamos outra frutífera no lugar.” O gerente diz que houve uma certa resistência no início, mas, a partir do segundo repasse, a aceitação cresceu muito.

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Inicialmente, as ações externas eram feitas por funcionários da Agroterenas. Depois, houve uma união dos citricultores da região e foi contratada uma empresa para fazer o trabalho, com rateio dos custos entre os produtores. Aprigio diz que o manejo externo representa de 1,5% a 2% do custo de produção da laranja e as ações internas, de 3% a 4%.

André Luís Teixeira Creste, gerente da Agro São José, também destaca o manejo externo ao redor das fazendas do grupo, iniciado há dois anos em parcerias com produtores vizinhos, como fundamental para manter a sanidade das plantas.

O grupo erradicou seus laranjais em Limeira, onde o greening chegou a atingir metade das árvores, e iniciou plantio novo em 5.065 hectares em Bariri, Pirajuí e Santa Cruz do Rio Pardo. Atualmente, o índice de contaminação das novas plantas é de 0,4%. Nos pomares com idade de 5 a 8 anos, houve redução de 11% para 3,5%.

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Alta incidência

 

 

 

(Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

 

O levantamento anual feito pelo Fundecitrus e divulgado em agosto mostra que 41,3 milhões de árvores têm sintomas do greening, um aumento de 9,7% em relação aos dados de agosto de 2019. Os números apontam que a doença continua crescendo desde 2015, quando foi feito o primeiro levantamento.

O gerente da Fundecitrus mostra preocupação com os aumentos, mas ressalta que o greening é altamente agressivo e muitas regiões citrícolas apresentam estabilidade ou redução da doença e aumento de produtividade graças às ações de manejo e adoção de novas tecnologias.

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Ele acrescenta que a incidência é bem inferior à estimada na Flórida, principal produtor dos EUA e maior concorrente do Brasil na exportação de suco de laranja, que têm estimativa de 90% dos laranjais contaminados, tendo reduzido sua produção de laranja de 270 milhões de caixas há 14 anos para menos de 70 milhões na última safra. Já o Brasil colheu 386,7 milhões de caixas na safra 2019/20.

Juliano Ayres afirma que a curva de aprendizado dos citricultores brasileiros com outras doenças como o CVC e o cancro permitiu um controle maior do greening. “Temos ainda a vantagem de ter uma tecnologia de manejo interno e externo disponível não apenas para os grandes produtores, mas também para os médios e pequenos", pondera.

Brotas (60,46%), Limeira (53,18%), Porto Ferreira (33,67%) e Duartina (30,81%) continuam a ser as regiões de maior incidência de greening. Avaré, Altinópolis e Matão estão na faixa intermediária, com cerca de 15%. Os menores índices são observados no Triângulo Mineiro e Votuporanga (0,08%), Itapetininga (1,63%), São José do Rio Preto (3,5%) e Bebedouro (8,92%).

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Segundo o agrônomo Ivaldo, o greening tem historicamente maior incidência nas regiões centrais de São Paulo devido às condições de clima favoráveis à reprodução do psilídeo. “Onde a brotação é mais prolongada e intensa a população de psilídeo cresce mais e aí ocorre o aumento de incidência da doença.” Nos extremos de São Paulo, região de forte calor, déficit hídrico e brotação rápida, e no sudoeste de Minas, de clima mais frio, a infestação é menor.

No cinturão citrícola, estão instaladas cerca de 30 mil armadilhas para a captura do psilídeo, sendo pelo menos 2 mil em áreas fora das fazendas. Quando a população do inseto começa a aumentar em alguma região, é dado o alerta para que os produtores intensifiquem as ações de manejo, que incluem erradicação de todas as plantas doentes e o controle do inseto. Nos casos raros em que não é possível erradicar as árvores doentes, solta-se na região o inseto tamarixia radiata, inimigo natural do psilídeo.
Source: Rural

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