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(Foto: Departamento de Agricultura de Iowa/Divulgação)

 

*Conteúdo publicado na edição de 419 da Globo Rural (setembro/2020)

Às vésperas de iniciar a colheita de verão nos Estados Unidos, os produtores norte-americanos estão de olhos bem atentos às cotações da soja e do milho, que começaram a reagir nas últimas semanas depois de longo período pressionadas por estoques elevados e pela crise do novo coronavírus.

As compras recordes da China, associadas ao dólar enfraquecido no mercado internacional e às preocupações com a piora das condições das lavouras em agosto, ajudaram a recuperar os preços na Bolsa de Chicago – trazendo aos agricultores a esperança de algum lucro ou, pelo menos, de redução dos prejuízos.

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Os contratos futuros da soja em dólar alcançaram nesta semana o nível mais alto desde junho de 2018, chegando a US$ 9,65 o bushel para novembro, enquanto o milho atingiu o pico de preço desde março, US$ 3,62 o bushel para dezembro. A reação do mercado pode aliviar a apreensão de uma safra marcada pela incerteza do início ao fim.

Por outro lado, a colheita que prometia ser recorde até o começo de agosto, conforme levantamento divulgado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), passou a ser ameaçada após uma tempestade com força de furacão que atingiu o Meio-Oeste americano. Os ventos no dia 10 de agosto chegaram a 160 quilômetros por hora, achatando campos de milho e de soja, retorcendo silos e devastando galpões.

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Estimativas do USDA indicaram que o temporal impactou 15,2 milhões de hectares de terras agrícolas, dos quais 5,66 milhões em Iowa, mais de um terço da área plantada no maior Estado produtor de grãos. Além disso, a escassez de chuva em agosto passou a prejudicar o desenvolvimento das lavouras no corn belt, o famoso cinturão do milho. Em Iowa, é a maior estiagem desde 2013.

"Ainda não sabemos ao certo o tamanho do impacto na safra, mas os danos são enormes. Os números recordes previstos dificilmente acontecerão”, lamenta Kevin Ross, presidente da Associação Nacional de Produtores de Milho.

Casal Donald e Nancy Uchtmann cultiva cerca de 80 hectares nos condados de Champaigne Piatt, no Estado de Illinois (Foto: Joana Colussi)

 

No último boletim, divulgado na segunda-feira (31/8), o USDA informou que 62% das lavouras de milho e 66% das lavouras de soja estão em condições boas ou excelentes. Há um mês, os percentuais passavam de 70% nas duas culturas.

Com propriedades rurais nos condados de Champaign e Piatt, no Estado de Illinois, o casal Donald e Nancy Uchtmann plantou cerca de 80 hectares no sistema de arrendamento a preço variável – em que proprietário e arrendatário compartilham o risco de preço e de rendimento.

 

Nos últimos cinco anos, as lavouras da família alcançaram, em média, 254 sacas de milho e 86 sacas de soja por hectare. A colheita deste ano se encaminhava para uma excelente  produtividade até a área de Champaign ser atingida por uma chuva de granizo no dia 11 de julho.

"A tempestade foi bem localizada, danificando principalmente as lavouras de milho. Calculo que teremos resultado 20% menor em razão disso”, detalha Donald Uchtmann, acrescentando que as plantas de soja conseguiram se recuperar.

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O dano causado pelo granizo é o menor dos problemas comparado à preocupação em relação ao preço de venda dos produtos – fator determinante para a rentabilidade da atividade.

“As cotações baixas são resultado de bons rendimentos nos últimos anos, criando grandes estoques de transição, juntamente com o impacto de uma guerra comercial prolongada com a China e outros fatores, incluindo o coronavírus”, indica o produtor.

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O milho foi a cultura mais prejudicada pelos efeitos da pandemia de Covid-19, especialmente no período de lockdown, quando milhares de americanos deixaram seus carros na garagem. A queda brusca no consumo de gasolina – que contém etanol produzido à base de milho – fez a demanda pelo produto despencar pela metade em abril.

A produção do biocombustível, que consome quase um terço da safra do cereal nos EUA, se recuperou nos últimos meses, mas, em agosto, permanecia 10% abaixo do normal para a época do ano.

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“A demanda por gasolina deve se manter mais fraca do que o normal no restante do ano em razão da retração econômica, por isso não se espera aumento significativo na produção de etanol”, indica o economista agrícola Todd Hubbs, professor da Universidade de Illinois.

Com contratos futuros do milho cotados ao redor de US$ 3,50 o bushel, muitos agricultores já preveem retornos negativos nesta safra, segundo o presidente da Associação Nacional de Produtores de Milho.

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“Tivemos aumento no custo de produção e continuamos com preços baixos. Muitos produtores perderão dinheiro neste ano”, lamenta Ross, acrescentando que o seguro agrícola e o auxílio do governo deverão ajudar os produtores a “não perder tanto”.

No caso da soja, os volumes menores de exportações dos EUA para a China, que passou a comprar mais do Brasil, devido ao efeito cambial, fizeram com que os estoques americanos se elevassem no primeiro semestre, destaca Marcos Araujo, analista de mercado da Agrinvest Commodities.

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Em agosto, a China passou a intensificar as compras de produtos americanos, prometendo volumes recordes até o final do ano – em uma tentativa de cumprir a fase 1 do acordo comercial.

“Com a maior demanda chinesa, combinado com a desvalorização do dólar no mercado internacional, os preços em Chicago se recuperaram”, completa Araujo, acrescentando que, apesar disso, os retornos financeiros para a soja e para o milho deverão ser negativos na safra norte-americana.

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As vendas da nova safra de soja para o país asiático nesta época do ano são as mais altas desde 2014, destaca Mac Marshall, vice-presidente de inteligência de mercado do United Soybean Board e do U.S. Soybean Export Council.

“Vendo essa força contínua na demanda internacional, juntamente com forte esmagamento doméstico, certamente será um suporte para a sustentação dos preços”, estima Marshall.

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O novo cenário fez o USDA elevar as estimativas de exportação americana da safra 2020/2021 para 57,83 milhões de toneladas de soja, aumento de 28,8% em relação ao esperado para a safra 2019/2020 (encerrada em agosto).

“Se houver uma recuperação econômica, com a chegada de uma vacina por exemplo, poderemos ver a demanda avançar ainda mais”, avalia Hubbs.

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No relatório de agosto, antes da tempestade e da estiagem de agosto, o USDA previu produção recorde de 388,08 milhões de toneladas de milho – superando os 384,78 milhões de toneladas do ciclo 2016/2017.

Para a soja, a estimativa é de uma colheita de 120,43 milhões de toneladas, a segunda maior da história e muito próxima da produção recorde de 120 milhões de toneladas da safra 2018/2019. O novo levantamento, refletindo as perdas recentes, será divulgado na próxima quinta-feira (10/9).
Source: Rural

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