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Nos oito primeiros meses do ano, cenário foi de alta para os preços do trigo, mas a expectativa é de queda nos próximos meses por conta da entrada da safra nova e a possibilidade de trazer o cereal de fora do Mercosul (Foto: Divulgação/Biotrigo)

 

Mesmo com os efeitos da geada em lavouras de trigo no sul do Brasil e na Argentina no fim de agosto, a opinião de analistas e da indústria é que os preços devem ser menores nos próximos meses. Eles entendem que houve perdas de produção, mas acreditam que isso não deve ser suficiente para evitar a pressão sobre as cotações que deve vir com a entrada das safras dos respectivos países.

Segundo a Consultoria Safras e Mercado, a produção no Paraná será 6% menor do que o estimado inicialmente. No Rio Grande do Sul, a queda deve ser em torno de 10%. No total, o Brasil deve deixar de produzir 350 mil toneladas (5,2%), para 6,315 milhões de toneladas.

Na última semana, o Departamento de Economia Rural da Secretaria de Agricultura do Paraná (Deral) informou que aproximadamente um terço da área plantada sofreu com a intempérie. Por isso, a produção no estado paranaense é avaliada em 3,4 milhões de toneladas, 200 mil a menos do que o projetado no começo do último mês.

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No Rio Grande do Sul, a Emater-RS ainda busca calcular as perdas, mas ressalta que 20% da área de 920 mil hectares está nos estágios reprodutivos, fase mais sensível à problemas climáticos. Dessa forma, a Safras & Mercado estima que a projeção atualizada para
a safra gaúcha é de 2,15 milhões de toneladas ante projeções iniciais de 2,4 milhões.

"No Brasil, ainda não vemos grandes impactos nos preços. O mercado aguarda a entrada da safra. Conforme o avanço da colheita, os preços devem recuar, mesmo com a quebra no Brasil e na Argentina", afirma o analista da Safras & Mercado, Jonathan Pinheiro. "É um movimento sazonal. Os preços caem com a entrada de mais trigo no mercado."

Nos oito primeiros meses do ano, o cenário foi de alta o cereal. A média mensal calculada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, com base no Rio Grande do Sul, passou de R$ 804,67 em janeiro para R$ 1.235 em agosto, alta de 53,47%. No Paraná, o indicador foi de R$ 908,98 em janeiro para R$ 1.211,40 no último mês, valorização de 33,2%.

Concorrência

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o embaixador Rubens Barbosa, o fornecimento da matéria-prima para o Brasil está garantido a um custo competitivo por conta da maior concorrência no mercado. O governo federal aprovou a importação de uma cota extra de 450 mil toneladas sem a cobrança de 10% de tarifa para fora dos países do Mercosul até 17 de novembro. A cota adicional poderá ser acionada caso sejam consumidos pelo menos 85% das 750 mil toneladas por ano permitidas atualmente. 

"Os estoques globais são muito grandes. Com a competição maior e a Rússia os Estados Unidos, interessados em ampliar a presença no mercado brasileiro, se a Argentina aumentar o preço, os moinhos vão buscar o produto em outros lugares", diz Barbosa.

Analista de mercado do Cepea, Lucilio Alves pondera que a paridade atual do real com o dólar, de R$ 5,34 nesta quarta-feira (2/9), e o valor do frete, desestimulam a importação de locais mais distantes. "A discussão sobre a TEC (Tarifa Externa Comum), no patamar de
câmbio que a gente tem, é muito difícil. Há um aumento de preço para diversas culturas por conta do dólar", explica.

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Atualmente, o valor do trigo no porto argentino varia entre US$ 225 a US$ 235, patamares mais altos até do que Canadá, de US$ 218,50, e Estados Unidos, entre US$ 250 a US$ 256. O que favorece as compras da Argentina é que os preços de entrega dos países norte-americanos ultrapassam a casa dos R$ 100.

Além disso, assim como o real, o peso argentino também está desvalorizado, acima de $ 70 para cada dólar. “Eles têm preços competitivos em relação ao mercado internacional atualmente, e, caso necessário, podem recuar um pouco, já que o produtor seguiria ganhando valores interessantes”, diz Pinheiro, da Safras & Mercado.

Com o avanço da safra brasileira e a entrada da safra argentina daqui a dois meses, a consultoria espera que os valores no Paraná girem em torno de 1.150 por tonelada ao final de setembro, R$ 1 mil em outubro e R$ 900 em novembro. No Rio Grande do Sul, as cotações devem ser cerca de R$ 100 abaixo do Paraná em cada um dos meses.

Cenário de perdas

A demanda mais aquecida e as cotações elevadas pelo trigo usado na preparação de bolos, massas e biscoitos levaram os produtores do sul a aumentarem a área plantada na safra atual. O movimento levou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a projetar a produção em 6,8 milhões de toneladas para o ciclo, 500 mil a mais do que na última temporada. 

Por isso, o órgão governamental revisou o montante que os moinhos brasileiros importariam, de 7,3 milhões para 6,7 milhões de toneladas, quantidade considerada suficiente, somada à produção brasileira. O consumo interno é estimado de 12,4 milhões.

Agora, a Conab afirmou que a colheita que seria iniciada em algumas áreas no Paraná em meados do último mês só deve começar nesta semana, enquanto avalia que, no Rio Grande do Sul, as geadas afetaram tanto a qualidade como a quantidade do plantio de trigo.

Maior fornecedor do mercado brasileiro, a Argentina reportou um aumento na quantidade de lavouras em situação crítica. De acordo com relatório da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, 38% das lavouras apresentavam condição de regular a ruim ao final da última semana,
enquanto na semana anterior eram 36%. Da mesma forma, a seca já afeta 62% das áreas produtivas, ante 59% há duas semanas.

Por outro lado, Santa Catarina não só atravessou bem o período mais intenso de temperaturas baixas, como deve aumentar a produção. Segundo a Epagri, o plantio da safra catarinense alcançou 99%, e a produção deve ser 18% maior do que na última temporada, com 182,3 mil toneladas.
Source: Rural

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