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Fogo na rodovia BR-163, em Altamira (PA) em 2019 (Foto: Emiliano Capozoli/Ed.Globo)

 

Um ano após os holofotes do mundo se voltarem ao Brasil devido ao episódio conhecido como Dia do Fogo, pouco foi feito para evitar queimadas ilegais e punir os criminosos. É o que dizem ambientalistas consultados por Globo Rural, como a organização não-governamental Greenpeace e o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

Do Dia do Fogo para cá, nós andamos mais para trás do que para frente

Paulo Moutinho, líder do Fórum Desmatamento da Coalizão e pesquisador sênior do IPAM

Cristiane Mazzetti, porta-voz da campanha da Amazônia do Greenpeace, diz que, desde agosto do ano passado, foram implementadas “ações pontuais de fachada, como Moratória do Fogo e colocar o combate dos crimes nas mãos da GLO [Garantia da Lei e da Ordem], já que não geraram redução no desmatamento ou focos de calor”.

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Para Cristiane, a prova de que as ações são "de fachada” são os números de queimadas não terem tido uma redução significativa no Pará mesmo com a entrada das Forças Armadas na Amazônia.

Foi no Estado que um grupo de produtores rurais se mobilizou e combinou pelo Whatsapp atear fogo na floresta nos dias 10 e 11 de agosto de 2019. O assunto veio à tona em reportagem de Globo Rural publicada há exatamente um ano.

O Pará, onde se concentrou o Dia do Fogo, continua com altos números de focos de calor e índices de desmatamento. A destruição continua se perpetuando

Cristiane Mazzetti, porta-voz da campanha da Amazônia do Greenpeace

De acordo com o Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os dois dias concentraram 22.810 focos de queimadas em 2019, cujos municípios principais foram Altamira (29,1%), Novo Progresso (22,9%) e São Félix do Xingu (17,6%).

Mesmo com a repercussão internacional e sem que saiba de mobilização semelhante, nos mesmos dias de 2020 houve 16.741 queimadas, com a repetição dos municípios protagonistas: Altamira (30,8%), Novo Progresso (20,1%) e São Félix do Xingu (12,6%).

(Foto: Reprodução/Greenpeace Brasil)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Investigação

No dia 25 de agosto de 2019, o presidente da República, Jair Bolsonaro, instituiu uma investigação para descobrir quem seriam os integrantes deste grupo do Whatsapp. "O presidente Jair Bolsonaro determinou abertura de investigação rigorosa para apurar os fatos narrados", postou o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, à época.

Apesar de o governo sinalizar uma “investigação rigorosa”, o Greenpeace aponta que, das 207 propriedades que registraram queimadas entre 10 a 11 de agosto do ano passado, apenas 5% foram autuadas.

Se você tem todas as provas, é como se você soubesse quem cometeu um crime hediondo e a polícia não ir atrás

Paulo Moutinho, líder do Fórum Desmatamento da Coalizão e pesquisador sênior do IPAM

Na visão de Paulo Moutinho, líder do Fórum Desmatamento da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e pesquisador sênior do IPAM, o Dia do Fogo e seus desdobramentos são “o exemplo típico de um dos mais graves problemas na Amazônia e em outros biomas no Brasil para combater o desmatamento e a degradação ambiental, que trata-se simplesmente da lentidão ou mesmo ausência de punição a quem comete o crime ambiental”.

Ele acredita que a falta de investigação, combate e punição se deve a um conjunto de fatores, como uma Justiça lenta, que pouco aplica multas e onde há vários etapas de recurso até que, no final, poucas pessoas vão parar na cadeia. “O segundo ponto é falta de vontade política em alguma dimensão. Acho que existe uma série de forças locais que impedem o avanço célere de um processo de punição como esse”, aponta.

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Contraponto

Globo Rural procurou o Conselho da Amazônia para avaliar a situação no Pará e na Amazônia um ano após o Dia do Fogo, além de questionar se há alguma ação em conjunto com o governo estadual para prevenir novos incêndios.

Mas o órgão comandado pelo vice-presidente, Hamilton Mourão informou apenas que acompanha “o número de focos de calor pelo órgão do governo responsável pelo monitoramento, qual seja o INPE/MCTI" e que, "no tocante às demandas relativas ao Estado do Pará, sugerimos procurar contato com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente”.

As secretarias do Meio Ambiente do Estado do Pará e dos municípios de Altamira, Novo Progresso e São Félix do Xingu também foram procuradas por Globo Rural, mas nenhuma retornou até a publicação desta reportagem. O Ministério do Meio Ambiente também foi contatado para comentar o assunto, mas não respondeu.

O Inpe foi consultado sobre o mapeamento dos focos, mas limitou-se a dizer que "todas as pessoas do grupo de queimadas estão sobrecarregadas atendendo órgãos de governo responsáveis pela fiscalização e ações de combate a incêndios florestais".

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Source: Rural

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