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Charles Andrew Tang, presidente da Câmara de Comércio Brasil-China (Foto: Divulgação)

 

Ao contrário de outros países, a China tem levado a pandemia de Covid-19 à sério e fará tudo o que for preciso para evitar novas mortes no país. É o que diz Charles Andrew Tang, presidente da Câmara de Comércio do Brasil- China.

Em entrevista a Globo Rural, Tang descarta que as novas exigências sanitárias da China relacionadas à possível presença do novo coronavírus na carne in natura vá reduzir as exportações do produto brasileiro, mas reconhece que a medida pode tornar as vendas para o país asiático mais “trabalhosas”.

 

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“Ninguém quer ser proibido de exportar para a China porque, afinal, quem tem SIF China está ganhando dinheiro e quem não tem está enfrentando dificuldades. (…) Então, acho que cabe aos próprios empresários e à indústria se policiar e ao Ministério da Agricultura inspecionar cada vez mais”, avalia Tang.

Segundo ele, mesmo com as maiores exigências sanitárias, os chineses ainda precisam importar alimentos e, por isso, não deve reduzir sua demanda pela carne brasileira tão facilmente. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

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Globo Rural – Nos últimos dias, a China aumentou as exigências sanitárias relacionadas à Covid-19 na carne in natura. Como tem sido a negociação com as empresas brasileiras nesse tema?

Charles Andrew Tang – O Brasil já tem um controle bastante avançado, tanto é que as próprias empresas fecharam alguns frigoríficos por causa da Covid e o próprio Brasil fechou vários. A China leva a pandemia muito a sério – ao contrário de alguns outros países. Tanto é que, em quatro meses, eles conseguiram controlar a pandemia que afetou mais de 66 milhões de pessoas de Wuhan e entorno. E, nesse último surto de Covid-19 encontrado em uma carga de salmão, a China conseguiu em poucas semanas controlar a situação sem nenhuma morte. Mesmo que se afirme que a Covid-19 não é transmitida pela exportação de carne e peixes, a China logicamente toma um cuidado especial para não ter óbitos.

GR – Segundo alguns analistas, testar a carne in natura é considerado excessivo pela indústria brasileira. Após as normas editadas pela Comissão Nacional de Saúde da China, o país pode exigir as mesmas regras do Brasil?

Tang – Eu acredito que essas mudanças estão em discussão ainda e que não devem afetar muito as exportações brasileiras para a China. Vai dar um trabalho extra, sim, mas não vai reduzir o comércio.

Cabe aos próprios empresários e à indústria se policiar e ao Ministério da Agricultura inspecionar cada vez mais [as empresas]

 

GR – Como você avalia a resposta que a indústria tem dado à Covid-19 dentro dos frigoríficos?

Tang – Olha, eu visitei vários frigoríficos de suínos em Santa Catarina e acho que, basicamente, a atenção que eles têm dado ao processo de higiene e controle têm sido boas. E acho que o Ministério da Agricultura no Brasil também está controlando a situação junto com os próprios frigoríficos. Ninguém quer ser proibido de exportar para a China porque, afinal, quem tem SIF China está ganhando dinheiro e quem não tem está enfrentando dificuldades. Hoje, existe o preço da carne bovina padrão China, que é diferente da carne comum. Então, acho que cabe aos próprios empresários e à indústria se policiar e ao Ministério da Agricultura inspecionar cada vez mais [essas empresas].

GR – É possível que surjam novas exigências conforme avance a pandemia?

Tang – Vai depender se tiver surto por causa de outros problemas ou não. Eu acho que a China, como falei, leva a sério essa questão e quer impedir a transmissão a qualquer custo. Por outro lado, a gente tem que entender que a China precisa comer também.

Essas mudanças não devem afetar muito as exportações brasileiras para a China. Vai dar um trabalho extra, sim, mas não vai reduzir o comércio

 

GR – Justamente por isso, alguns frigoríficos menores cogitam deixar de vender para a China. Você acredita que, junto com os EUA, o Brasil tenha condições de exercer pressão contra as exigências chinesas?

Tang – Acredito que não porque os EUA são concorrentes do Brasil. Eles não vão comprar soja nem carne brasileira. Pelo contrário, vão torcer para venderem mais e o Brasil, menos. Então, não acho que vai adiantar muito. Agora, logicamente que, se o Brasil começar a tomar atitudes contra os interesses chineses, isso poderá afetar as relações comerciais entre os dois países.
Source: Rural

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