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Levamtamento da PMA Brasil mostrou uma preocupação maior das pessoas com a segurança dos alimentos durante a pandemia de coronavírus (Foto: Micolo J/CCommons)

 

O setor de frutas, flores, legumes e verduras (FFLV) teve um aumento em torno de 20% com a pandemia do coronavírus. Os consumidores demonstraram preocupados com a validade (71%) e segurança dos produtos frescos (80%), segundo pesquisa da Produce Marketing Association no Brasil (PMA Brasil). A avaliação desse cenário e as estratégias do varejo para atender às demandas do consumidor foram temas do webinar promovida pela entidade nesta quinta-feira (23/7), quando foi lançado também um e-Book gratuito de receitas saudáveis sugeridas por seus associados.

O segmento responde por 15% nas vendas do Grupo Pão de Açúcar (GPA), 14% nos Supermercados Comper, rede do centro-oeste, e chega a 40% para a rede Hortifruti Natural da Terra, de São Paulo. Representantes das três varejistas debateram o desempenho – seja positivo, no caso dos orgânicos, ou negativo, com a queda nas vendas de flores – nos negócios durante os últimos meses da pandemia.

“A preocupação que a pandemia nos trouxe quanto a uma saudabilidade favorecem demais essa categoria. O diferencial de qualidade e sortimento na loja tem tudo a ver com o momento em que a gente vive. Inicialmente, tinha um medo de abastecimento e já estamos há 4 meses vendo esse novo cenário e não sofremos nessas seções um impacto de desabastecimento”, comentou Maurício Almeida, diretor comercial de perecíveis da Comper.

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O comércio pela internet (e-commerce) foi um dos principais alicerces do varejo durante a pandemia para a venda de FLV, especialmente nos primeiros meses de distanciamento social. Maurício Almeida reconheceu que o varejo não estava assim tão preparado para essa movimentação maior dos negócios online.

“A gente sofreu um período de prazos de entrega e produtos. O varejo tem uma particularidade muito grande que é o fato de ter uma reação muito rápida. Esse pico foi superado, a gente mantém as vendas até hoje com crescimentos bem exponenciais do e-commerce. Ao mesmo tempo, o maior desafio de venda on-line para a cadeia produtiva para o setor de FLV é a questão de padrão embalagem. Ainda temos uma subjetividade muito grande nesse quesito”, comentou.

“A gente teve um grande aumento de venda on-line. Eu acredito que esse aumento não vai manter esse mesmo patamar que atingimos até agora porque as pessoas já estão começando a voltar às lojas, mas isso não vai desaparecer. A gente evoluiu no online 10 anos em 10 semanas”, afirma Thiago Picolo, CEO do Hortifruti Natural da Terra.

Segundo ele, um dos grandes desafios da venda online, especialmente no setor de FLV, e que tem a maior dificuldade em solucionar, é a ruptura. “Não tem nada que chateia mais o cliente do que fazer o pedido online com 20 itens e chegar apenas 15 itens na casa dele. No FLV, o produto varia mais porque tem safra, tem shelf life, não é um produto industrializado que não varia tanto”, explica.

Com o e-commerce parte da estratégia do GPA muito antes da pandemia, o gerente comercial do grupo, Rafael Guinutzman, destaca que isso trouxe diferencial competitivo e uma rápida capacidade de mudança para enfrentar cenários como o da Covid-19. Segundo ele, o comércio online é o modelo de negócios que tem se mostrado mais aderente de negócios no GPA.

“Essa mudança de dez anos que o Thiago (Picolo) comentou também foi bem acelerada aqui. A gente fez um processo de transição bem mais rápido e foram aumentos significativos em termos de vendas, em número de pedidos”, explica Guinutzman, destacando também um crescimento significativo na utilização do James, aplicativo de delivery da empresa.

A logística de distribuição de produtos na região Centro-oeste – mais distante dos grandes centros produtivos de Hortifruti – também foi um desafio para os produtos perecíveis como FLV durante a pandemia, mas a construção de modelos, ao longo dos anos, pelo varejo garantiram a eficiência nessa operação.

“Esse é um dos temas que gera maior satisfação nos nossos negócios. Nós temos uma operação em São Paulo, com parceiro, na qual todas as novidades de itens na Ceagesp, conseguimos levar para essas regiões. No início, foi um desafio tremendo por uma questão de volume e custo, mas temos hoje veículos que saem de lá e que ao longo dos anos se consolidou. Hoje, o que tem em São Paulo, amanhã tem em Cuiabá ou em Campo Grande, que é exatamente o tempo de distância entre o centro abastecedor e as nossas operações”, explica Almeida, da Comper.

Flores em queda

 

Produtos embalados e mais manipulados, como sucos naturais processados na loja, assim como as flores, sofreram reduções nas compras pelos consumidores em diferentes níveis. “Aqueles produtos que já vêm descascados, cortadinhos, em geral, sofreram. Muitas vezes não caíram, mas não responderam tanto enquanto outras categorias que são mais industrializadas, que não têm manipulação na loja e tem shelf life maior, performaram muito melhor”, diz Picolo.

Nas flores, a queda significativa na comercialização foi constatação unânime entre os representantes das redes varejistas. “Durante a pandemia, tivemos uma queda grande nesse setor em virtude da frequência (dos consumidores) nas lojas físicas e uma das iniciativas foi o investimento em ações promocionais, desconto e campanhas que estimulam a montagem de jardins com vasos, plantas verdes, decoração de casa que alegrem o ambiente. Dia das mães foi uma data importante na retomada de vendas e com as campanhas, as pessoas entenderam mais a importância das flores em casa, onde mais elas estavam”, explicou o gerente comercial do GPA, Rafael Guinutzman.

Segundo Almeida, a queda nas vendas de flores na rede do Centro-oeste também foi sentida no início da pandemia com a redução da frequência dos consumidores nas lojas. Mas, pouco depois, a categoria se recuperou e hoje já performa uma alta de 40% na rede. “Em virtude de as pessoas estarem em casa, elas querem melhorar o ambiente e, nesse sentido, a gente conseguiu obter bons números, especialmente em flores de vaso, como orquídea, que tem maior durabilidade”, destaca o diretor comercial da Comper.

Produtores

A relação com os produtores fornecedores de FLV, através de uma cooperativa, empresa ou do próprio agricultor, é fundamental para o varejo, ressaltaram os executivos das redes que participaram do webinar. A capacidade de fornecimento pode ser um gargalo diante da perspectiva de crescimento do varejo.

“Vinte e cinco por cento do que a gente compra vem de pequeno produtor, da agricultura familiar. Faz parte do DNA da empresa trabalhar junto com esses fornecedores para desenvolvê-los. Por isso é importante dizer que eles não estão produzindo para correr risco. Se a gente quiser crescer como a gente quer, na velocidade que a gente quer, mantendo ou melhorando a nossa qualidade, não tem outra alternativa se não trabalharmos juntos”, explica Picolo.

Pela particularidade de localização, onde há pouca produção de frutas, legumes e verduras, a Comper conta com uma gama de fornecedores de outras regiões, mas enfoca a relação de mais de 20 anos com produtores de folhosas, em cinturões verdes nas proximidades centros urbanos, que cresceram juntamente com a companhia. “Ao mesmo tempo em que a gente senta hoje e solicita algumas inovações, seja por produto ou variedade, não existe mais aquela relação de não saber pra quem vender o que produzir. Eles já sabem que o consumo vai ser pra Comper e que temos que desenvolver um item em conjunto”, explica Almeida.

Alinhar produção, varejo e logística com calendários programados de fornecimento e garantindo os contratos para que os agricultores trabalhem com certeza de venda dos produtos parece ser a melhor estratégia para o setor de FLV. Os varejistas concordam que, apesar da dificuldade em prever o futuro do setor, mas estão certos de que o mercado tem tendências de longo prazo muito boas e isso não deve mudar.
Source: Rural

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