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(Foto: Globo Rural)

 

O trabalho em frigoríficos tem sido decisivo para propagar a Covid-19 no interior do país. É o que aponta um estudo que está sendo elaborado a partir de dados públicos do Ministério da Saúde e da Economia e que cruzou os casos confirmados com o número de pessoas empregadas em frigoríficos.

Segundo o levantamento, as cidades com maior número de trabalhadores do setor concentram as contaminações fora das grandes capitais. “Não é nada contra o setor em si, mas ele reúne características que são ideais para disseminação do vírus”, conta o pesquisador do Ipea e doutorando em Geografia na UFRJ, Ernesto Pereira Galindo.

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Entre as características da atividade que contribuem para a transmissão da doença dentro das unidades, estão as baixas temperaturas em ambientes fechados e a alta concentração de pessoas – inclusive no transporte entre casa e trabalho.

"Então, mesmo que você monte um esquema em que as pessoas se afastem mais dentro da planta e tenham menos contato e por menos tempo, acaba combinando ambiente fechado, frio e período em que passam juntas no transporte de casa ao trabalho. Tudo isso são condições que facilitam a disseminação", aponta Galindo.

(Foto: Reprodução)

 

As conclusões ainda são preliminares, mas já indicam forte correlação entre a localização geográfica dos frigoríficos e as contaminações. “O impacto dos frigoríficos é extremamente relevante na interiorização dos casos em regiões que possuem essa atividade bem desenvolvida, principalmente no Centro-Sul do país”, afirma o autor do estudo.

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Exemplo em SC

 

No oeste de Santa Catarina, por exemplo, Chapecó concentra 14.310 trabalhadores em frigoríficos e tem o maior número de casos confirmados de Covid-19 no Estado – são 1.634 até a última terça-feira (23/6) – 8,5% do total do Estado. 

Só de janeiro a abril deste ano, a atividade frigorífica gerou 2 mil novos postos de trabalho na cidade enquanto, nacionalmente, o país perdeu 860 mil empregos no período. Ao todo, a atividade frigorífica gerou 10 mil postos de trabalho nos primeiros quatro meses deste ano. 

Se o vírus não for controlado desde cedo, ele se dissemina muito, levando a medidas mais drásticas, com o fechamento de unidades. E esse é o pior dos mundos, porque não houve o controle da doença e ainda por cima levou à paralisação de uma atividade econômica essencial para essas regiões

Ernesto Pereira Galindo, autor do estudo

“É um setor essencial, que emprega mais de meio milhão de pessoas no Brasil, metade disso concentrada na região Sul”, explica o pesquisador, ressaltando a importância do controle da pandemia na indústria de proteína animal, dado os efeitos socioeconômicos que um eventual colapso da produção poderia gerar.

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Segundo Galindo, o alto índice de mão de obra complica ainda mais a situação, na medida em que expõe grupos sociais vulneráveis à doença, como indígenas e imigrantes que atuam na linha de produção. “Não é uma maldade do setor, mas uma consequência natural. São cerca de 40 mil venezuelanos em SC e isso é louvável. O problema é quando isso se combina com fatores de risco”, avalia o pesquisador.
Source: Rural

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