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Diego André Goldschmidt, coordenador, e Marcelo Peglow, gerente da Fazenda Pamplona (GO) (Foto: Claus Lehmann)

 

*Publicado originalmente na edição 414 de Globo Rural (abril/2020)

À primeira vista, a Fazenda Pamplona, da SLC Agrícola, em Cristalina (GO), é como tantas outras Brasil afora. Em plena fase de colheita da soja e desenvolvimento das lavouras de algodão, colheitadeiras e pulverizadores realizam os trabalhos comuns de cada cultura.

Por dentro e por fora dessas máquinas, contudo, há um grande sistema de controle  do uso de insumos, além de um levantamento de dados diversos, enviados em tempo real durante a operação, que contribuem para uma gestão de cada talhão da propriedade.

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O monitoramento vai desde o clima, com 32 pluviômetros e três estações meteorológicas distribuídas ao longo de cerca de 16 mil hectares, até a fase de comercialização da safra. Um software criado pela própria equipe de desenvolvedores da fazenda mantém um canal direto com os compradores, que podem detalhar que tipo de produto desejam.

Além disso, o programa organiza os lotes de algodão, de acordo com a qualidade da pluma, e informa em qual talhão da fazenda aquele fardo foi formado. Isso porque, na hora da colheita, a máquina cola no fardo de algodão uma etiqueta com código de barras, que carrega todas as informações do produto, incluindo os dados georreferenciados do local e data de plantio, tratos culturais e da colheita.

Gerente de produção da SLC para a Região Centro-Oeste, Marcio Silveira lembra que, antes da chegada da tecnologia às fazendas da empresa, há quatro anos, eram necessárias horas de análise dos dados de campo, que eram coletados manualmente, depois incluídos em planilhas que ninguém abria, confessa.

Estações meteorológicas e pluviômetros: monitoramento em 16 mil hectares (Foto: Claus Lehmann)

 

Márcio Silveira, Marcelo Peglow, Diego Goldschmidt e Leandro na sala de comando da Fazenda Pamplona (Foto: Claus Lehmann)

 

“A tecnologia nos ajuda na tomada de decisão. Antes, as informações ficavam paradas. Hoje, os dados estão em nossas mãos a todo momento”, afirma Silveira. Entre as tecnologias mais importantes, o gerente regional da SLC destaca justamente o maior controle climático da fazenda.

Até a adoção da tecnologia, desenvolvida por uma startup contratada, a rotina da propriedade começava com um ronda em cada pluviômetro para, só após quatro horas, essas informações chegarem até a sede da propriedade para serem analisadas.

Hoje, com a transmissão em tempo real dos dados de campo, a equipe de administração da fazenda pode realizar o planejamento do dia às 6h30 – e não mais após as 9 horas. “Se choveu num determinado bloco, o gestor responsável pode pegar as máquinas já de manhã e remanejar a rota. A decisão, que antes levava três horas, hoje é feita instantaneamente”, explica Marcelo Peglow, gerente da Pamplona.

Há 16 anos na SLC Agrícola, Peglow revela que não imaginava que o nível de tecnificação das operações de campo pudesse ir tão longe. “Há sete anos, a gente não imaginava que teria essa facilidade de leitura de dados e tomada de decisões. A gente sabe que na cidade já é difícil a questão de transmissão de dados e, se na cidade é difícil, imagina no campo”, observa o gerente da Pamplona.

Monitoramento georreferenciado de pragas no algodão (Foto: Claus Lehmann)

 

 

Amostras de algodão classificado (Foto: Claus Lehmann)

 

Menos insumo, mais lucro

Para ele, o principal ganho das novas tecnologias no campo foi a economia de insumos e maior controle dos gastos. Na safra 2019/2020, a economia somente com a aplicação localizada (contra pragas) e direcionada (ervas daninhas) de defensivos ficará em torno de R$ 4,7 milhões, conforme os gestores da Pamplona.

As despesas com defensivos representam 25% de todos os custos da fazenda, segundo eles. Essa redução de gastos é viabilizada por um sistema de  identificação georreferenciada de pragas, para aplicação localizada de inseticidas e outra de leitura de solo, o que permite a aplicação direcionada de herbicida. Com isso, a empresa obteve uma redução de 65% com a aplicação localizada nas lavouras de algodão.

Nas áreas de soja, a economia com uso de herbicidas foi de 83% no pós-colheita. “O manejo de pragas georreferenciado, somado à aplicação localizada, tem nos trazido maior produtividade com grande redução de custo. Além da economia, o meio ambiente agradece”, ressalta Peglow.

 

Leituras de códigos de barras no algodão (Foto: Claus Lehmann)

 

Para a identificação das pragas, os colaboradores da fazenda substituíram o tradicional papel e caneta por um tablet. A partir dele, os dados gerados são cruzados e processados, formando uma mapa que aponta as regiões exatas onde é preciso aplicar o produto.

“Antes, a gente não tinha como saber onde ela estava, tinha de aplicar toda a lavoura”, lembra o gerente de produção da Pamplona. Também na área de aplicação de químicos, a propriedade contratou recentemente os serviços de controle e monitoramento de rota de aeronaves e drones, visando ao maior controle da pulverização aérea.

(Foto: Claus Lehmann)

 

“A gente fez os testes e viu que poderia melhorar algumas coisas na aplicação aérea. Às vezes ficava alguma faixa sem aplicar, ou ocorria sobreposições”, lembra Silveira. Segundo ele, a tecnologia tem permitido um índice de assertividade de 98% nas aplicações com ajuda de drones e aviões.

No plantio, o controle da quantidade de sementes e das linhas já semeadas contribui para uma semeadura uniforme, além de uma economia de 15% com o uso de sementes, já que as máquinas estão programadas para evitar a sobreposição de linhas. “Antes, a gente só percebia que houve alguma falha no momento em que as lavouras começavam a brotar. Hoje, a gente tem esse controle em tempo real, na tela da plantadeira”, ressalta Peglow.

Funcionário acompanha informações geradas por colheitadeira e se comunica com a gestão da fazenda (Foto: Claus Lehmann)

 

(Foto: Claus Lehmann)

 

O surgimento de tantas inovações para o agro, lideradas por startups, fez o grupo que comanda a Fazenda Pamplona criar um programa de relacionamento com essas novas empresas. Frederico Loggeman, responsável pela área, estima que mais da metade das soluções adotadas em fazendas da companhia tenha sido desenvolvida por agtechs, as startups do agro.

“O interessante é que nesse meio de tecnologia está havendo uma mescla de players tradicionais com startups. Hoje a inovação não vem mais só de grandes empresas, mas de todo o canto”, observa o executivo. A SLC é um verdadeiro campo de testes para novas tecnologias.

Entre as novas tecnologias em teste destacam-se o sensoriamento remoto de lavouras, a avaliação nutricional de plantas por imagem e a análise de solos via robótica (dispensando a necessidade de laboratórios). “Do plantio à colheita, 100% da empresa está sendo monitorado”, conclui o gerente Marcio Silveira.
Source: Rural

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