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(Foto: Divulgação)

 

Todos os dias, bem cedinho, o biólogo Leandro Silveira aparece nas redes sociais do Instituto Onça Pintada, uma organização sem fins lucrativos localizada no interior de Goiás, para dar notícias. E detalhe: em suas postagens, ele sempre está em boa companhia.

Seja com a sua fiel escudeira Zabelê, uma cadela da raça blue hiller, Trovão, companheiro de Zabelê, ou com as onças-pintadas Mamba, Ogum e Tufão, que desenvolveram um amor fraternal por Leandro e um respeito invejável pela Zabelê.

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A rotina da turma, que ainda conta com a esposa do Leandro, a também bióloga Anah Tereza Jácomo, e o filho deles, Tiago, de 14 anos, é divertida e, ao mesmo tempo, muito séria. Leandro e Anah comandam em Goiás, em área próxima ao Parque das Emas e rodeada de lavouras de grãos e cana-de-açúcar, o Instituto Onça Pintada.

O principal objetivo da instituição é entender o comportamento dos animais em áreas de agropecuária, preservar a espécie e, de quebra, dar uma força em sua multiplicação. “Mitigar os impactos que causamos ao meio ambiente não é só cuidar da flora, mas também, cuidar da fauna. Sem esse cuidado, não estaríamos cuidando da biodiversidade de forma correta”, diz Leandro.

(Foto: Divulgação)

 

O biólogo conta que sempre foi apaixonado por felinos de grande porte, mas só teve a real dimensão de como seu projeto poderia dar certo quando percebeu que precisaria entender o funcionamento do agronegócio.

“A onça-pintada é uma espécie que vem se adaptando às mudanças que ocorrem no meio ambiente, mas ela sempre será um predador temido”, diz. “Sem monitoramento, a espécie se torna uma praga para o agronegócio, porque ela ataca rebanhos bovinos, ovinos e então, vira um alvo para os empresários rurais”.

“Desde quando o homem modificou o meio ambiente para incluir pastos e gado, a onça se adaptou e aprendeu a comer gado. É muito mais fácil para ela comer boi”, reforça o biólogo, que participou do festival Fruto, organizado pelo chef de cozinha Alex Atala, onde o foco é o resgate de alimentos e a sustentabilidade.

A onça tem tudo a ver com a produção de alimentos no Brasil. Vemos muitos projetos de recuperação de solo, manejo de florestas, produção sustentável, mas ninguém fala de manejo de fauna. O que está acontecendo?

Leandro Silveira, biólogo

 

Onça e a agropecuária

 

O Instituto Onça Pintada realizou, em 2016, um levantamento mundial sobre a espécie. Segundo Leandro, metade das onças pintadas, em suas áreas de distribuição originais, já foi exterminada. “A onça-pintada ocorre entre a Argentina até o México, mas 25% das onças existentes no continente estão no Brasil”, explica.

(Foto: Divulgação)

 

Só que, no estudo, os biólogos também concluíram que, em 80% dos locais onde onças pintadas existem, como áreas de conservação, parques e reservas, as populações de animais são tão pequenas que a sua reprodução está ameaçada. “Teríamos que ter corredores ecológicos que ligassem essas populações para que elas pudessem se reproduzir sem a interferência do homem”, afirma.

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Traçados hipoteticamente no mapa, estes corredores ecológicos atravessam as principais áreas de produção agropecuária brasileira. “A população mundial está indo para quase 8 bilhões e, ainda que todas as pessoas do mundo virassem vegetarianas, as áreas de produção de alimentos precisam estar lá”, pontua.

“Em áreas de agricultura, como milho ou cana-de-açúcar, há populações de algumas espécies se reproduzindo desenfreadamente e saindo de controle também, como as queixadas no Cerrado. É preciso ter onça para compor a cadeia alimentar para que as queixadas não se tornem a praga”, pondera.

O desequilíbrio da biodiversidade, em um primeiro momento, vai sobrar para os produtores rurais que não conseguem manejar o problema. Posteriormente, para o meio ambiente. O manejo de espécies em áreas de produção agrícola precisa ser feito para que a onça não se torne a praga

Leandro Silveira, biólogo

 

 

(Foto: Divulgação)

 

Colaboração do agricultor

Mamba, Ogum, Tufão, e ainda, Maya, Kyara, Tupã, Paloma, e a recém-chegada Coragem, são apenas algumas das onças pintadas que foram resgatadas em áreas de lavouras ainda filhotes. Suas mães foram caçadas, atropeladas ou se engalfinharam pela mata com outros animais e levaram a pior.

Localizadas por produtores rurais da região nas lavouras e estradas, os filhotes órfãos foram entregues a Leandro e Anah, para que ainda tivessem uma chance de sobreviver. No Instagram, ele faz questão de ressaltar que aqueles filhotes fofos que botam pra quebrar com a Zabelê e o Trovão, são exceções.

“São animais que não terão nunca condições de sobrevivência na mata, mas podem ser utilizados para reprodução da espécie”, afirma Leandro, que também cuida com zelo e amor de dezenas de macacos, tucanos, juparás, antas e até um lobo guará de três pernas, o Minduim. A todos, chama de filho ou filha.

Algumas das oncinhas se adaptaram e vivem brincando com a gente, com a Zabelê e o Trovão. Outras, como a Coragem, ainda estão se adaptando. É um animal que visivelmente não será tão dócil, mas pode ser uma ótima reprodutora futuramente

Leandro Silveira, biólogo

Logo que foi resgatada, em meados de março, também por produtores rurais da região, que acharam que ela era um gato do mato, a onça Coragem passou por um tratamento intensivo, estava desnutrida e desidratada. As outras oncinhas dão uma força passando-lhe calma e segurança. Diariamente, Mamba e Ogum brincam com ela para que o medo vá embora.

Recentemente, a sede do instituto começou a ser visitada, durante a noite, por outras onças. A maioria das que vivem na região já tem colar com rastreador para que seu comportamento possa ser avaliado. Leandro e Anah capturam as imagens dos animais através de armadilhas fotográficas e sabem até seus nomes.

(Foto: Divulgação)

 

“A observação é importante para entendermos os hábitos dos animais e suas adaptações às modificações que o homem faz no meio ambiente”, afirmou. Para proteger os animais da sede, todos os recintos são telados e protegidos. Já a Zabelê e o Trovão dormem dentro de casa. Ela, mais que ele, é quem impõe o respeito às onças.

Para acompanhar o dia a dia do trabalho, basta acessar o perfil do instituto no Instagram (@instituto_onca_pintada) ou o do biólogo Leandro Silveira (@leandro_silveira_iop).
Source: Rural

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