Diante das dificuldades enfrentadas por produtores para renegociar dívidas, CNA pediu mudanças nas regras ao Ministério da Agricultura (Foto: Max Pixel/Creative Commons)
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) informou, neste sábado (18/4), ter relatos de dificuldades de produtores rurais em prorrogar parcelas de financiamentos depois do anúncio do governo federal de medidas de apoio ao setor. A informação está em novo relatório sobre os efeitos da pandemia de coronavírus no agronegócio brasileiro. Segundo a entidade, bancos estariam cobrando taxas elevadas ou se recusando a repactuar os contratos.
“Muitos produtores foram às agências bancárias prorrogar as parcelas dos seus financiamentos. Tivemos relatos de situações em que o banco se recusou a prorrogar ou cobrou taxas mais elevadas para fazer”, reforça o superintendente técnico da CNA, em mensagem de vídeo divulgada pela internet.
Nem Lucchi, no vídeo, nem o relatório mencionam nomes de instituições financeiras que estariam dificultando as prorrogações de financiamentos. A CNA informa apenas que pediu ao Ministério da Agricultura que sejam feitas alterações na resolução 4.801/2020 no que se refere à reclassificação das fontes de recursos utilizadas para a prorrogação.
“A entidade defende que as condições pactuadas nos contratos originais sejam mantidas e que o produtor tenha seu direito de prorrogação assegurado”, diz o relatório.
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A CNA também pediu à Secretaria da Receita Federal a prorrogação do prazo para que prefeituras apresentem os Valores de Terra Nua (VTN). Esses valores servem de referência para o cálculo do Imposto Territorial Rural (ITR). Na visão da entidade, como os sindicatos rurais não estão participando dos levantamentos, por conta das medidas de isolamento social, há o risco de supervalorização das terras.
“Temos orientado nossos sindicatos a discutir com as prefeituras a determinação correta do Valor da Terra Nua, pois muitas tem superestimado, aplicando cotações de mercado. Os sindicatos tiveram dificuldades de discutir os valores. Por isso, a solicitação da prorrogação do prazo para após o dia 30 de abril”, explica Bruno Lucchi, no vídeo.
Mercado
Ainda na mensagem em vídeo, Lucchi lembra que, na sexta-feira (17/4), fez um mês da criação do comitê de crise da entidade para monitorar os efeitos da pandemia sobre a agropecuária do país. “Dificilmente conseguiremos prever como tudo isso vai acabar”, diz.
No relatório, a CNA destaca ainda que o setor de frutas e hortaliças ainda sente os efeitos da redução de demanda. Produtos como caqui e maçã tem sofrido baixas de preços enquanto tomate, mamão e melancia tiveram recuperação em função de oferta menor.
Já os exportadores estão com dificuldades em fechar contratos, especialmente com importadores da Europa, que sinalizam postergação de negócios. Na avaliação da CNA, a fruticultura parece ter sido o setor mais afetado no comércio com a União Europeia.
“As exportações brasileiras de frutas (incluindo nozes e castanhas) para o bloco, no primeiro trimestre de 2020, caíram 13,8% em valor e 8,4% em volume, em relação ao mesmo período em 2019. Os consumidores europeus estão preferindo frutas de casca grossa ou com tempo de prateleira mais longo, como banana, maçã e abacaxi” diz a CNA.
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A instituição destaca que 60% das exportações brasileiras de frutas têm o bloco como destino e há dificuldades em redirecionar os excedentes de frutas tropicais para outros mercados. Desta forma, mesmo que boa parte da produção seja absorvida pelo mercado interno, a expectativa é de perda de renda para o setor.
De outro lado, a CNA pondera que a produção europeia de frutas é intensiva de mão-de-obra e medidas de distanciamento social podem levar a um aumento na demanda por produtos importados.
A Confederação informa ainda que, para as cadeias de hortifruti, assim como a de flores, pediu para o Banco do Brasil conceder melhores condições para a prorrogação de financiamentos. Segundo a entidade, o pagamento de parcelas de custeio vencidas ou a vencer entre março e junho foi adiado por 180 dias.
"Para investimentos, a prorrogação irá para o último ano do pagamento, algo muito próximo do que foi sugerido pela CNA", explica Bruno Lucchi, no vídeo.
Petróleo, etanol e grãos
O relatório da CNA destaca também a situação do setor de açúcar e etanol. E que foram reivindicadas medidas de apoio, como a garantia de remuneração do fornecedor de cana, uso do produto como garantia de empréstimo, isenção de PIS/Cofins sobre o etanol e aumento da Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina.
A Confederação acrescenta que a baixa da cotação do petróleo e a menor produção de etanol estão refletindo também no mercado de grãos. Esse movimento e o fechamento de frigoríficos nos Estados Unidos pressionaram cotações de soja e milho no mercado brasileiro. O relatório menciona que os indicadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) para os dois grãos acumulam retração no mês de abril.
“A retomada de compras de soja brasileira pela China nesta semana impediu queda mais acentuada das cotações”, informa a CNA. “Ainda assim, os preços de milho e soja estão favoráveis aos agricultores brasileiros”, pontua. Até a sexta-feira (17/4), a referência do Cepea para o milho acumulava queda de 14,28% a da soja tinha retração de 0,28%.
Já para a União Europeia, as exportações do complexo soja não foram afetadas, pelo menos até o momento, relata a Confederação, registrando aumento no primeiro trimestre de 2020 em comparação com 2019. O relatório informa que, de janeiro a março, foram 3,5 milhões de toneladas, com receita de US$ 1,21 bilhão. O que mudou foi o perfil das exportações. Enquanto os embarques de soja em grão aumentaram 35%, os de farelo e óleo caíram 22%.
“Se confirmada a redução de 20% a 30% na demanda interna por biodiesel, a indústria de esmagamento deverá reduzir ainda mais o ritmo de produção nos meses de maio e junho, o que reduzirá a oferta de farelo de soja para a UE e outros destinos”, informa a CNA, no relatório, acrescentando que as principais associações de importadores europeus pediram à Comissão Europeia a manutenção de fronteiras abertas para insumos importados.
Carne bovina
A CNA relata também que a indústria de carne bovina começa a enfrentar dificuldades na venda de cortes mais nobres no mercado interno. Já as exportações aumentaram na primeira semana de abril em comparação com a última de março. E a demanda externa deve ser reforçada depois da habilitação de plantas exportadoras brasileiras pelo Egito.
Para a União Europeia, no entanto, os embarques de carne bovina caíram tanto em volume quanto em valor no primeiro trimestre de 2020 em comparação com o mesmo período em 2019, informa o relatório. Na avaliação da entidade, um prolongamento da pandemia poderá prejudicar as vendas do produto brasileiro para o bloco, por causa de uma potencial retração de demanda nos países europeus.
De acordo com o relatório, a redução nas exportações para a União Europeia veio, principalmente, dos produtos congelados e preparados de carne bovina, o que, na avaliação da entidade, estaria ligado a uma desaceleração do ritmo de produção da indústria processadora de alimentos no bloco. De outro lado, os embarques de carne fresca e resfriada para a região cresceram.
“Este aumento nas exportações se deu por conta do câmbio atrativo, que estimulou os operadores econômicos da UE a antecipar os embarques, e por dificuldades que o mercado argentino tem encontrado para exportar carne fresca para o bloco”, diz.
Aves e suínos
Segundo o relatório da CNA, a aprovação da lei que mantém as compras do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) trouxe expectativa positiva, especialmente entre criadores indepedentes de suínos, que ainda enfrentam dificuldades de comercialização. A entidade reporta que alguns produtores de Minas Gerais conseguiram negociar animais que estavam parados na terminação e enviaram leitões para abate.
Já no mercado externo, o relatório destaca que as exportações de carne de aves para a União Europeia aumentaram de 55 mil para 63 mil toneladas no primeiro trimestre de 2020 em comparação com o mesmo período em 2019. Mas o faturamento caiu de US$ 150 milhões para US$ 140 milhões.
Por enquanto, a única dificuldade reportada pelo setor em relação à Europa tem sido a logística, pela indisponibilidade de contêineres refrigerados, diz a Confederação. Mas, de acordo com o relatório, existe uma expectativa de queda nas exportações de carne de aves para o bloco nos próximos meses, pela retração de demanda com o fechamento de hoteis, restaurantes e cafés, e pela possibilidade maior oferta de produtos de países como a Polônia.
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Source: Rural