(Foto: Rogerio Albuquerque)
O fechamento de bares e restaurantes devido à pandemia de coronavírus tem agravado uma crise que, há anos, prejudica a produção de leite no país. E o impacto tem sido maior aos pequenos laticínios e queijarias artesanais, que tem como principal mercado a venda para pizzarias, lanchonetes e padarias.
Com aumento de custos provocado pela valorização do milho e da soja no mercado interno e queda na captação após problemas climáticos no início do ano, o setor tem enfrentado dificuldade para escoar a produção.
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“Se continuarmos com essa crise por muito tempo e esse estrago começar a crescer, com descarte de leite, podemos ter um problema de desabastecimento. Mais um mês de isolamento social pode ser fatal para muitos pequenos e médios produtores e indústrias de laticínios menores”, avalia o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo de Carvalho Borges.
Ele ressalta que os impactos são maiores sobre os pequenos produtores, que não têm estrutura para produzir e estocar o produto em formato UHT. “Isso exige grandes investimentos e, por isso, são grandes indústrias que concentram a produção de UHT e leite em pó”, explica Borges.
A Abraleite estima que haja cerca de 1,2 milhões de unidades produtoras de leite no Brasil, sendo 90% delas pequenas e médias propriedades. “Nossa preocupação maior é justamente com os pequenos e médios produtores, que são muito numerosos”, lamenta o presidente.
(Foto: Getty Images)
Saída emergencial
Diante do impasse, o setor conseguiu obter um ofício do Ministério da Agricultura, no final de março, autorizando a comercialização de leite cru de laticínios sem inspeção federal para unidades maiores, com inspeção federal. A medida, embora tenha achatado os preços
da matéria-prima no campo, tem evitado que o leite captado seja descartado.
No Mato Grosso, o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) destacou em seu último boletim que, diante da menor demanda por derivados lácteos, os estoques da indústria trabalham próximo do limite.
Com isso, além da redução na carga horária diária para diminuir a produção, já estuda-se reduzir os volumes da coleta de leite no Estado caso a situação perdure – o que preocupa os produtores.
Realmente, é um cenário bem desafiador. Trata-se de uma atividade extremamente dependente da renda mensal e que já está há uns dois anos num cenário não muito favorável no Estado. Então qualquer coisa pode ter um impacto bastante grande no Mato Grosso
Cleiton Gauer, gestor técnico do Imea
Queijo artesanal
Em Minas Gerais, a preocupação é com os cerca de 30 mil produtores de queijo artesanal que, diante da pandemia, não conseguem escoar sua produção.
“Os produtores estão com dificuldade de fluxo de caixa, estão fazendo manejo do rebanho, diminuindo a produção, mas, principalmente os pequenos e médios, estão com dificuldades de honrar seus compromissos”, revela o analista de agronegócios da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG), Wallisson Lara Fonseca.
O setor tem articulado formas de criar um canal direto de comercialização entre pequenos produtores e redes varejistas que continuam em operação e espera que, com o início do pagamento do auxílio emergencial sancionado pelo governo federal e a retomada gradual
das atividades econômicas no Estado, a demanda reaqueça.
A gente espera que a reabertura lenta do comércio seja um alento para os produtores que estão em situação mais crítica, mas tudo vai depender da volta dos comércios e do food service em geral
Wallisson Lara Fonseca, analista de agronegócios da FAEMG
Source: Rural