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(Foto: Globo Rural)

 

As preocupações com a pandemia de coronavírus devem levar a um maior rigor nas certificações de produtos halal, produzidos de acordo com as tradições muçulmanas.

A afirmação foi feita, em entrevista à Globo Rural, por Ali Saifi, diretor da Cdial Halal, empresa sediada em São Bernardo do Campo (SP) que atesta a procedência de produtos para o mercado islâmico.

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Segundo ele, as certificações, hoje mais voltadas para os produtos, tendem a ser estendidas ao longo da cadeia produtiva, e chegar a armazéns, locais de criação e estruturas de transporte.

O executivo afirma que essa ampliação da rastreabilidade halal já estava prevista. Mas diante do alastramento do Covid-19 pelo mundo, as exigências feitas às certificadoras começaram a aumentar mais rapidamente.

Essas exigências estão chegando mais rápido do que imaginávamos. O coronavírus deu uma acelerada nisso. Imagino que, em um futuro não muito distante, estaremos certificando portos, transporte, contêiner, aviários, ração. Todos os serviços envolvidos no produto halal

Ali Saifi, diretor da Cdial Halal

Saifi afirma que as autoridades dos países muçulmanos tem solicitado informações atualizadas das certificadoras halal sobre medidas preventivas em relação à pandemia. Da parte da Cdial, diz ele, uma das ações foi suspender auditorias presenciais. "Eles querem posição forte do certificador sobre um trabalho de prevenção.”

Mercados em adaptação

Em relação ao comércio de produtos halal, Saifi diz ter notado uma redução entre os asiáticos. Do Brasil, pelo menos por enquanto, não. De acordo com o executivo, os mercados estão passando por um momento de adaptação diante das restrições impostas pela pandemia, o que interfere no comportamento dos consumidores.

Ele acredita que haverá ajustes. Lembra, por exemplo, que a Arábia Saudita suspendeu peregrinações a Meca, cidade sagrada para os praticantes da religião islâmica. E países da Europa adotaram medidas mais severas de restrição, em função do avanço da pandemia.

 

O primeiro momento é de adaptação. As pessoas estão tomando mais cuidado. Tem um ajuste de mercado na Arábia Saudita, porque está suspensa a visitação a Meca. É uma parcela importante, mas não condena o negócio porque estamos falando de um mercado de 300 milhões de pessoas

Ali Saifi, diretor da Cdial Halal

 

Logística desafia

Saifi espera que a situação permaneça pelo menos até maio, quando acredita que deva começar a se normalizar. Pontua que a China já registra uma desaceleração dos casos e, aos poucos, retoma as atividades. Ainda há a expectativa de desenvolvimento de medicamentos e vacinas, o que deve ajudar a reduzir o pânico com o avanço do coronavírus.

"O problema é a logística. Por isso digo que nossa expectativa é normalizar a partir de maio. É uma expectativa. Estamos acreditando em um crescimento da demanda por produtos brasileiros. Nossos preços estão interessantes, considerando que o dólar está alto”, diz ele.

Países árabes

 

No primeiro bimestre do ano, as exportações do Brasil para os países árabes, de um modo geral, tiveram um faturamento 17,2% menor que no mesmo período no ano passado, de acordo com dados compilados pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB). Ainda assim, o saldo comercial do Brasil com os integrantes da Liga Árabe foi positivo no período, já que as importações caíram 43,2%. 

Como grupo, esses países representam o terceiro maior destino das exportações brasileiras, atrás da China e dos Estados Unidos, segundo a entidade. Uma corrente comercial que, no primeiro bimestre, somou US$ 2,28 bilhões e que tem no agronegócio um importante item da pauta.

O presidente da CCAB, Rubens Hannun, não vincula o resultado do bimestre apenas à pandemia de coronavírus, embora pontue que ela trouxe restrições em países como Arábia Saudita e Emirados Árabes. Ele destaca também as tensões entre Estados Unidos e Irã, que pressionaram custos com frete e seguros de transporte.

Petróleo

Outro componente importante dessa relação, diz Hannun, é o preço do petróleo, que tem caído de forma significativa no mercado internacional. Como os países árabes têm na commodity um importante componente de suas economias, esse movimento impacta nas receitas e no ritmo de compra de produtos.

Ainda assim, lembra o executivo, o comércio de produtos alimentícios, de uma forma geral, manteve certa estabilidade. As exportações de carne de frango tiveram volume 3,2% maior no primeiro bimestre, de acordo com a CCAB. Os embarques de açúcar subiram 31,6%. Já os de carne bovina diminuíram 35,8%, sentindo mais os reflexos das dificuldades de logística.

O setor frigorífico está enfrentando baixa disponibilidade de contêineres refrigerados, boa parte deles parados em embarcações estacionadas na China. O impacto da doença no comércio, se houver, será mais bem evidenciado a partir de abril, quando os dados de março estiverem disponíveis, até porque já se identifica uma redução na demanda do setor de food service em todo mundo

Rubens Hannun, presidente da CCAB

 

Mudança de rotina

O avanço da pandemia também mudou a rotina na Câmara Árabe. O trabalho nos escritórios de São Paulo, Itajaí (SC) e Dubai, nos Emirados Árabes, passou a ser remoto.

E foram feitas adaptações de escala em serviços que demandam atuação presencial, como recebimento e certificação de documentos de cargas com destino à Liga Árabe. Atendimento a representações de empresas e de governos passou a ser remoto e eventos promovidos pela entidade foram suspensos.
Source: Rural

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