Só uma das indústrias de Capanema projeta ampliar em 10 vezes a capacidade produtiva (Foto: Maikelly Ribas/Divulgação)
Os produtores de melado de Capanema, no interior do Paraná, terão mais um incentivo para fabricar o tradicional doce a partir deste ano. Em dezembro, a região entrou para o grupo de 75 indicações geográficas concedidas pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), o que deve contribuir para aumentar e valorizar a produção de cana-de-açúcar no município.
“A nossa expectativa é muito grande. Já vínhamos fazendo um trabalho de articulação entre as agroindústrias e, inclusive, estamos nos organizando via cooperativa para tentar buscar novos mercados e assumir vendas em uma escala um pouco maior”, afirma Itamar Schuck, diretor-presidente da Cooperfronteira (Cooperativa Agroindustrial Fronteira Iguaçu).
Certificação foi requisitada pelos produtores ainda em 2015 (Foto: Maikelly Ribas/Divulgação)
Segundo Schuck, a expectativa é de que produção de melado no município dobre nos próximos anos. Uma das indústrias, conta, já está ampliando a capacidade produtiva de 500 quilos ao dia para 5 mil quilos. “Claro que, num primeiro momento, não vai ter matéria-prima para toda essa capacidade. Mas só uma agroindústria está estimando, por baixo, que a produção vá triplicar”, conta.
Indicação geográfica é a certificação conferida a produtos característicos de seu local de origem e que, por isso, têm reputação e valores próprios da localidade onde foram produzidos.
A indicação geográfica do melado de Capanema foi concedida em nome da Associação de Turismo Doce Iguassu, proponente do processo. Foram mais de 1.300 páginas, com informações, histórias, fotos, relatos e reportagens sobre a cultura e a produção do melado no munícipio – entregues ao INPI ainda em 2015. Desde então, outras três informações adicionais foram solicitadas pelo instituto até a certificação.
“Muitas vezes, as pessoas sequer sabem onde fica Capanema, mas com esse registro passam a ter interesse em descobrir como é e onde é feita a produção”, explica Andreia Claudino, consultora de agronegócios do Sebrae, instituição que foi responsável por auxiliar os produtores de Capanema no processo de registro.
Até mesmo o turismo rural pode se desenvolver, o que alavanca o crescimento do município como um todo, não só dos produtores do melado
Andreia Claudino, consultora de agronegócios do Sebrae
Oportunidade de renda
Capanema hoje tem 8 agroindústrias e 16 produtores de cana-de-açucar, segundo a prefeitura (Foto: Maikelly Ribas/Divulgação)
Há expectativa, também, que a obtenção da indicação geográfica desperte o interesse de produtores rurais de outras culturas, atentos à oportunidade de diversificar as atividades. “A partir de agora, pelo que já aconteceu em outros territórios, mais pessoas devem se interessar pela produção, que pode ser ampliada e gerar mais renda em Capanema”, avalia Andreia.
Hoje, de acordo com a Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Capanema tem oito agroindústrias e 16 produtores de cana-de-açúcar. Segundo o diretor-presidente da Cooperfronteira, já há cerca de 50 interessados em iniciar o plantio de cana-de-açúcar para atender a agroindústria local.
Entre eles, estão produtores de leite, que cogitam mudar de ramo em médio prazo devido às dificuldades do setor, como preços baixos e altos custos.
Acreditamos muito na abertura de novos mercados e, por isso, estamos nos criando uma cooperativa para aproveitar as oportunidades que vão se abrir
Itamar Schuck, diretor-presidente da Cooperfronteira
Exportações no radar
O burocrático processo para aquisição da indicação geográfica deve gerar outro legado aos produtores de Capanema: a organização. Andreia explica que, em outras regiões onde o Sebrae auxiliou no registro, foi possível observar uma melhora na capacitação e um aumento na adoção de boas práticas no campo. “O que a gente percebe é mais profissionalização e organização, podendo atingir outros mercados mais exigentes, já que estão mais preparados”, observa a consultora do Sebrae.
Registro de indicação geográfico impulsionou produção de Goiaba em Carlópolis (PR) (Foto: Jaelson Lucas/Divulgação)
Foi o que aconteceu com a produção de goiaba em Carlópolis, também no Paraná. Uma vez organizados e com o registro de indicação geográfica, os produtores trabalharam para obter outras certificações, inclusive internacionais, o que facilitou a abertura de mercados. Hoje, a região exporta para Espanha, Portugal e Canadá e também tem negociado com exportadores interessados em enviar a fruta para a China.
“O interesse em aumentar a produção praticamente dobrou desde 2016. Temos produtores que estão aumentando a área e outros que são novos e estão entrando na atividade agora”, destaca Rodrigo da Silva Viana, presidente da Associação dos Olericultores e Fruticultores de Carlópolis (APC).
Certificação também abriu mercados fora do país, como Espanha, Portugal e Canadá (Foto: Régis Santos/Divulgação)
Source: Rural