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Pauta de exportações brasileira poderia ser muito mais ampla que a atual, segundo as fontes.  (Foto: Ernesto de Souza/ Ed. Globo)

 

O Brasil tem que abrir seu mercado e importar mais produtos se quiser ter inserção internacional. O recado foi dado pelo secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo, a produtores rurais e lideranças no 8º Forum Lide de Agronegócios realizado na sexta-feira (4/10) em Ribeirão Preto, interior paulista.

“Nos últimos 40 anos, a nossa inserção internacional é uma aula magna de fracassos. São quatro décadas de estagnação”, afirmou, acrescentando que todos os países que conseguiram aumentar sua participação mundial, como Alemanha, Japão, China, Coreia do Sul e Chile, têm o comércio internacional como força motriz de seu desenvolvimento.

Para Troyjo, passou da hora de inverter a velha frase “exportar é o que importa.” O número 2 do Ministério da Economia afirma que superávits gigantescos na balança comercial não são sinais de sucesso. “Há 42 anos, os Estados Unidos, maior economia do planeta, não têm superávit.”

EUA, União Europeia, China e Canadá, por exemplo, importam mais do que exportam."

Marcos Jank, professor do Insper e Esalq

Marcos Jank, professor de agronegócios do Insper e da Esalq-USP, concorda totalmente. Segundo ele, o agronegócio brasileiro, que representa 20% do PIB, já teve várias conquistas como a internacionalização e aumento de produtividade, sendo o terceiro maior exportador mundial, mas o país exporta sete vezes mais do que importa e não avança porque não faz barganhas. “EUA, União Europeia, China e Canadá, por exemplo, importam mais do que exportam. O fato é: para vender mais tem que comprar mais.”

O professor diz que o acordo Mercosul-União Europeia é importante, mas o  agronegócio brasileiro precisa focar no que realmente importa: os mercados da Ásia e África. Como exemplo, ele citou que o leste e sudeste asiático, mais o Oriente Médio importam US$ 420 bilhões em produtos agropecuários, mas apenas 10% são procedentes do Brasil. E essa região representa 54% das exportações do setor brasileiro.

“A redução tarifária é fundamental para conseguirmos avanços nos acordos comerciais tão necessários para nossas exportações. A Austrália, por exemplo, tem coberta 100% de suas exportações do agro por acordos comerciais. O Chile está indo para o mesmo caminho e nós estamos ficando para trás.”

Ligia Dutra, superintendente de relações internacionais da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), afirmou que o agro é o diferencial de exportação do Brasil, mas o país desperdiça seu grande potencial de exportar produtos diversos como os lácteos, mel, pescados e cafés especiais.

Um grande gargalo é o fato de a industrialização ser muito cara no Brasil. Fica mais barato industrializar o café especial na Itália"

Ligia Dutra, superintendente da CNA

“Somos muito bons para produzir, mas somos péssimos para contar nossa história e vender nossos produtos. Um grande gargalo é o fato de a industrialização ser muito cara no Brasil. Fica mais barato industrializar o café especial na Itália, por exemplo.”

Segundo a superintendente da CNA, seguindo nessa linha de exportar apenas commodities, o Brasil deve perder mercado logo, já que há uma tendência de queda de consumo de produtos básicos na Ásia e um aumento de consumidores que exigem produtos mais elaborados. “Fazer um acordo comercial com a Coreia do Sul é prioritário para o agro brasileiro. E nossos concorrentes já firmaram esses acordos.”

Troyjo afirma que há acordos em negociação com a Coreia do Sul, México, Canadá e EUA, mas o mais importante é que o Brasil faça antes um acordo consigo mesmo e implemente as reformas estruturais necessárias para alavancar a prosperidade do país. Para exemplificar, o secretário citou que  México é um país que teve a oportunidade, mas perdeu protagonismo comercial no mundo porque não fez seus ajustes.

Desmatamento

A questão ambiental também foi tema de debates acalorados no Forum do Agronegócio. Marcello Brito, presidente da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), disse que o Brasil foi foco de uma avalanche de notícias negativas no mundo em agosto porque o setor não tem a coragem de assumir o discurso de que é contrário ao desmatamento ilegal e à grilagem. “Foram 144 milhões de tuítes com notícias negativas sobre o Brasil de janeiro a julho. Em agosto, o acumulado subiu para 240 milhões!”

Para o dirigente, o setor precisa se reinventar e ter presença física em todos os foruns de discussão sobre agro no mundo para defender a sustentabilidade da produção agropecuária brasileira. “Cerca de 95% das propriedades brasileiras rurais produzem totalmente na legalidade. Por que não comunicar isso ao mundo? Política ambiental é uma ferramenta comercial e nós temos toda a força para usar isso.”

Falando sobre a importância de comunicar ao mundo a sustentabilidade da produção brasileira, Brito alertou para uma pesquisa que aponta que 47% dos chineses de 18 a 30 anos colocam a rastreabilidade socioambiental como fator fundamental para a compra de um produto.

Para a deputada federal Joice Hasselman (PSL-SP), o que falta ao setor é uma estratégia de comunicação que repita a mensagem de sustentabilidade ambiental do agronegócio brasileiro até que ela seja aceita por todos. “Nós perdemos a guerra nessa questão da lambança das narrativas sobre as queimadas da Amazônia porque não fomos capazes de fazer uma comunicação única.”
Source: Rural

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