Segundo a ciência, as mudanças climáticas provocam desertificação, escassez de água, aumento das inundações e do nível do mar (Foto: Thinkstock)
Não conheço o Sr. Nabhan Garcia. Até pensava que a entidade que ele preside, a UDR, tivesse sido extinta no século passado, após a criação da Frente Parlamentar Agropecuária (bancada ruralista).
Engano meu. A União Democrática Ruralista, fundada em 1985, não só está viva como é porta-voz de Jair Bolsonaro, o candidato que lidera as pesquisas nas eleições presidenciais.
E o Sr. Nabhan Garcia é cotado para assumir o Ministério da Agricultura, caso Bolsonaro seja eleito presidente neste domingo.
Há uma semana, Nahban disse à Folha, que a pasta deveria incorporar também o Ministério do Meio Ambiente para acabar com a “misturança ideológica” na questão ambiental.
Ontem, depois de se encontrar com o candidato do PSL no Rio e levar um puxão de orelha, Garcia recuou – “vai valer a vontade da maioria da sociedade”.
A fusão dos ministérios, porém, foi apenas uma das provocações de Nabhan Garcia, que conseguiu reavivar o conflito entre ruralistas e ambientalistas, apaziguado desde a promulgação do Código Florestal.
Ao jornal “O Estado”, ele defendeu o desmatamento na Amazônia e afirmou que o Acordo de Paris, “se fosse papel higiênico, serviria apenas para limpar a bunda”. Nem Trump chegou a tanto. Em junho de 2017, o presidente dos EUA anunciou que o país deixava o acordo global sobre mudanças climáticas, mas disse estar aberto a negociações para um “melhor acordo”.
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Nabhan foi mais longe, ao propor jogar no lixo um tratado internacional aprovado por 195 países, que se comprometeram em reduzir emissões de gases de efeito estufa, com o objetivo de manter a temperatura média da Terra abaixo de 2 °C. É uma tentativa de conter os efeitos do aquecimento global. Segundo a ciência, as mudanças climáticas provocam desertificação, escassez de água, aumento das inundações e do nível do mar, além de graves prejuízos à agricultura e ameaças à segurança alimentar. Segundo Nabhan, "é uma hipocrisia, que não beneficia ninguém".
Se tivesse lido o acordo, Garcia veria que ele traz mais oportunidades do que ameaças ao agronegócio brasileiro, contribuindo inclusive para a criação de uma nova economia no país, baseada no desenvolvimento sustentável.
Entre os compromissos assumidos pelo Brasil no acordo do clima, está o aumento da participação de biocombustíveis na matriz energética, que favorece a nossa produção de etanol e biodiesel. A incorporação de 5 milhões de hectares aos sistema de integração lavoura-pecuária-floresta, meta que o Brasil já alcançou e pode aumentar. A restauração e reflorestamento de 12 milhões de hectares de florestas, já prevista no Código Florestal. E o desmatamento ilegal zero, uma responsabilidade do país.
Em vez de reforçar velhos preconceitos e fomentar a guerra entre produtores rurais e entidades ambientalistas, o Brasil deve buscar o equilíbrio entre agricultura e meio ambiente para tornar o país o maior produtor de alimentos sustentável do planeta.
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Source: Rural