A grande expansão deste ano, no campo, é o algodão, afirmou o presidente da SLC Agrícola, Aurélio Pavinato, enquanto se dirigia para Chicago, numa highway dos EUA. Na safra 2017/2018, a área plantada da fibra cresceu 25% no Brasil, ocupando 1,2 milhão de hectares, com uma produção de 1,9 milhão de toneladas, graças ao aumento na demanda internacional, puxada pela Ásia. Alinhada à tendência positiva, a companhia sediada em Porto Alegre (RS), hoje com 16 fazendas nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, lucrou R$ 356 milhões no ano passado.
O braço agrícola do Grupo SLC, holding que movimenta R$ 3 bilhões no plantio, industrialização e venda de alimentos e máquinas agrícolas, dá início à safra 2018/2019 com o plantio de 455.000 hectares de soja, milho e algodão. A expansão da área plantada pela empresa, com uma nova unidade produtiva no Cerrado, é de 13% em relação à última temporada, quando a colheita foi de 870.000 toneladas de soja, 450.000 toneladas de milho e 440.000 toneladas de algodão, além de 100.000 toneladas de outras culturas (trigo, cana e braquiária). Apesar de corresponder à metade do volume de soja produzido pela SLC, o algodão garante 50% de sua receita.
“O valor agregado do algodão permite um faturamento quatro vezes maior do que os grãos”, pontua Aurélio. A fibra tem sido cotada a 80 centavos de dólar por libra-peso, ou 10% maior que em 2017, segundo o Centro de Pesquisas em Economia Aplicada (Cepea). Com o dólar aquecido e o aumento da demanda asiática, o produto rende uma margem de lucro de 35% à SLC, uma das líderes desse mercado.
O Brasil é o quinto maior produtor de algodão do mundo, de acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), que prevê expansão de 11% na área plantada na safra 2018/2019, para 1,3 milhão de hectares.
“O mercado internacional demanda cada vez mais algodão”, analisa Aurélio. “Em 2018, bateu recorde. A previsão para o ano que vem é que cresça novamente, em torno de 3% ou 4%. Existe um mercado crescente para o algodão e felizmente o Brasil ocupa um espaço importante na oferta”, acrescenta o empresário, que lida com Indonésia, Turquia, Malásia, China, Bangladesh e Vietnã. No ranking das exportações, o Brasil passou a Austrália na safra 2017/2018 e alcançou o terceiro lugar, atrás de Índia e EUA, informa a Abrapa.
O maior investimento da SLC em 2018 foi, portanto, na cotonicultura. Para armazenar a fibra que cultiva no Centro-Oeste, a companhia investiu R$ 50 milhões em duas algodoeiras em Mato Grosso. Em paralelo, aportou R$ 30 milhões em processos de recepção, secagem e beneficiamento de grãos no mesmo Estado. Soma-se a isso o arrendamento da Fazenda Pantanal, na divisa entre Mato Grosso do Sul e Goiás, que entrará em operação em outubro, com 26.000 hectares de área plantada (17.600 de soja, 14.000 de milho safrinha e 8.400 de algodão).
Das 16 propriedades da SLC, a maior parte está na Região Nordeste. Contudo, nos últimos anos a companhia tem aumentado sua presença no Centro-Oeste, para obter melhores índices de produtividade e se prevenir contra as variações climáticas. “Nosso modelo é de posicionamento geográfico estratégico das unidades, para mitigar o risco climático”, conta Aurélio Pavinato, explicando o sucesso da companhia, fundada em 1977. Nessa estratégia, se há períodos prolongados de seca na Bahia ou no Piauí, por exemplo, as unidades do Cerrado, que são sete, compensam o resultado da safra.
“As condições produtivas do Cerrado, em termos de clima, solo e topografia, estão entre as melhores do mundo”, observa Aurélio. Uma de suas preocupações, além de garantir os volumes vendidos em contratos futuros a seus clientes, diz respeito à qualidade da pluma.
Nas fazendas da SLC, o algodão é colhido e enfardado de modo padrão, mas nem todos os fardos recebem a mesma classificação. “Às vezes chove numa fazenda e a chuva acaba estragando o algodão. Tem algodão bem branquinho e, em outros lugares, com manchas”, explica o CEO. “Para mitigar os efeitos do clima, formamos lotes uniformes, com 110 fardinhos, garantindo uma qualidade homogênea do algodão para nossos clientes”, afirma.
A SLC Agrícola também procura trabalhar com as últimas novidades tecnológicas do setor agropecuário para se manter na liderança. O investimento da companhia em máquinas totaliza
R$ 220 milhões entre 2017 e 2018, de acordo com Aurélio. “Estamos vivendo uma nova revolução no campo, que é a chamada agricultura digital. Esse conceito incorpora uma série de tecnologias voltadas para o ganho de eficiência”, oberva o executivo. Por isso a SLC está investindo na conectividade das fazendas com sinal 4G.
ilustração: Bárbara Malagoli
Source: Rural