Embarque de soja pelo porto de Paranaguá (PR). Grão é um dos princpais itens da pauta de exportações do Brasil para o Irã (Foto: Foto: Ivan Bueno/ APPA)
As sanções impostas pelo governo dos Estados Unidos ao Irã, que entraram em vigor nesta terça-feira (7/8), tendem a afetar de forma negativa as operações de comércio exterior do país asiático. Entre as principais medidas, estão restrições à atuação dos iranianos no sistema financeiro internacional, como a proibição de qualquer negociação de compra e venda de dólares.
“Essa é a sanção mais grave até agora, porque o comércio exterior é denominado em dólares. Quem comprou e vendeu mercadoria, que chegou ao destino antes da aplicação da sanção, agora não vai poder pagar nem receber”, explica a especialista em comércio exterior Tatiana Palermo, que foi secretária de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura.
O governo norte-americano anunciou a imposição de sanções contra o Irã há três meses, depois de confirmar sua saída do acordo para impedir a produção de armas nucleares pelo país do Oriente Médio. Segundo o presidente Donald Trump, as medidas serão as mais duras da história e terão uma nova fase em novembro deste ano.
Na opinião de Tatiana Palermo, as medidas têm duas consequências principais. Uma é reduzir atividade econômica e o poder aquisitivo iraniano. Outra é restringir negócios de outros países com o Irã, via sistema financeiro internacional.
É neste segundo ponto que está o efeito mais imediato desta fase das sanções e o Brasil, que apoiou o acordo nuclear com o Irã, em 2015, tem motivos para se preocupar, especialmente o agronegócio, que é parte relevante da pauta bilateral de comércio.
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De acordo com Tatiana, cerca de 90% das exportações brasileiras para o mercado iraniano são de produtos ligados à agropecuária. Os principais são soja, milho e carnes, mais especificamente a bovina. A movimentação de produtos entre os dois países, em si, não está proibida. Mas com as restrições cambiais, fica inviável concretizar negócios. Não há representações de bancos iranianos no Brasil.
“O Irã não pode comprar dólares para transferir ao vendedor brasileiro. E o comprador não conseguiria converter para moeda local o que recebe de pagamento”, detalha Tatiana Palermo.
Uma saída, na avaliação dela, seria uma mudança normativa no Brasil permitindo que o comércio exterior fosse denominado em outra moeda, como o euro, que seria uma escolha natural. Mas também não há certeza de sucesso nesse tipo de medida, já que é preciso saber como os bancos europeus passarão a atuar nesse ambiente.
De todo modo, as sanções entram em vigor em um momento de redução do comércio de produtos agropecuários entre Brasil e Irã. No primeiro semestre de 2018, os embarques foram de 3,76 milhões de toneladas com um faturamento de R$ 1,03 bilhão, segundo o sistema Agrostat, do Ministério da Agricultura. No intervalo de janeiro a junho de 2017, o volume tinha sido de 3,89 milhões de toneladas, com uma receita de R$ 1,24 bilhão.
“O comércio já estava caindo porque desde maio se estava sabendo das sanções. Tanto que hoje em dia, o Irã está na 24ª posição como nosso destino de mercado”, explica Tatiana Palermo.
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Source: Rural