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Gado em pastagem da Fazenda Sobrado. (Foto: Giovani Rocha/Divulgação)

 

O industrial paulistano Alexandre Cenacchi é dono de uma estância de 4,5 mil hectares em São Borja, que ele chama de “indústria de carne”. O médico Leandro Quadros Fochesatto, de Veranópolis (RS), investe em uma fazenda de 127 hectares em Bagé onde cria gado a pasto para corte no sistema intensivo. Os dois são exemplos de profissionais de outras áreas que decidiram diversificar a renda apostando na pecuária gaúcha para produção de carne de maior valor agregado.

As histórias das duas propriedades foram levantadas pela reportagem da Globo Rural durante a primeira das sete etapas do Rally da Pecuária, que percorreu várias cidades do sul do Rio Grande do Sul entre os dias 18 e 23 de junho. A expedição privada visa diagnosticar as condições da pecuária brasileira e levantar cenários futuros da atividade. Nesta semana, o grupo de agrônomos, veterinários, técnicos e patrocinadores do rally visita fazendas no Mato Grosso do Sul.

Na Estância Santa Marta, localizada nos municípios de São Borja e Santo Antonio, o fundador e ex-presidente da Renner Sayerlack (indústria de tintas e vernizes para madeira) engorda 4.000 animais em mil hectares de pastos rotacionados e irrigados por 12 pivôs centrais. Seis mil bois são vendidos por ano. A produtividade é de 500 kg por hectare ao ano, mas o plano é dobrar esse número. Uma vez por mês, Alexandre, casado com a gaúcha Maria Aparecida Lopes de Almeida, filha de pecuarista, visita a propriedade, que é administrada por Felipe Moura, agrônomo da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP). Há um ano e meio, o investimento aumentou para a instalação da cultura de soja.

“No Rio Grande do Sul, o boi é que faz a soja produzir melhor no verão. Aqui, o termo correto seria integração pecuária-lavoura e não o contrário”, diz o administrador Felipe.

Gado em pastagem da Fazenda Sobrado. (Foto: Giovani Rocha/Divulgação )

 

Na Fazenda Sobrado, em Bagé, o médico Leandro faz recria e engorda de 400 a 500 animais por vez em pastos cultivados. Os 100 terneiros (ou bezerros) menores são confinados para ganho maior de peso. O plano é aumentar para 300 a capacidade do confinamento. Segundo o veterinário e administrador Fabrício Nogueira de Souza, a produtividade da fazenda comprada há sete anos é de 100 kg por hectare, com potencial para chegar a 500 kg. Os investimentos com pastagens, estruturas e animais crescem cerca de 20% a cada ano e o faturamento atingiu R$ 1,1 milhão em 2017.

O administrador Fabricio-Nogueira-de-Souza (Foto: Giovani Rocha/Divulgação )

 

“Pecuária é a bola da vez no Rio Grande do Sul já que o arroz está com mercado complicado e custos crescentes. Além disso, no sistema de integração lavoura-pecuária, a pecuária auxilia no aumento da produção agrícola”, afirma Fabrício, que administra outras 15 propriedades no sul. Segundo ele, o investimento em tecnologia é obrigatório no atual estágio da pecuária e as fazendas paradas no tempo estão saindo do negócio ou tendo suas terras arrendadas por grupos que investem em pecuária de precisão.

Carne premium

Nos últimos 15 meses, a pecuária brasileira levou uma pancada a cada 32 dias. O alerta foi dado por Maurício Palma Nogueira, coordenador do Rally da Pecuária, a cerca de 150 pecuaristas reunidos no dia 22 de junho no Sindicato Rural em São Borja, terra dos ex-presidentes Getúlio Vargas e João Goulart. Maurício é diretor da Athenagro, empresa que organiza o rally. Ele citou entre as “pancadas” a Operação Carne Fraca, a delação dos executivos da JBS, a pressão sobre exportações de gado em pé, o embargo da Rússia à carne brasileira, a greve dos caminhoneiros e o projeto de lei dos agrotóxicos que tramita no Congresso.

Diante de tudo isso, dos preços em queda da carne, do custo de produção mais alto da carne gaúcha e da infestação do capim-annoni nas pastagens da região, a avaliação do agrônomo é que os pecuaristas do sul do país devem investir na produção de carne de maior valor agregado para sobreviver.

“O Brasil importa 70 mil toneladas de carne gourmet para abastecer os melhores restaurantes de São Paulo e do Rio. O Rio Grande do Sul é o único Estado brasileiro que poderia produzir esse tipo de carne premium em escala para substituir as importações”, disse.

As razões passam pela genética do gado gaúcho, formado por raças européias como angus e hereford, pelo clima da região e a expertise dos produtores gaúchos. Mas, segundo Maurício, quem não investir ou reduzir o pacote tecnológico vai impactar negativamente a receita e sair do mercado. A tendência, diz, é a queda do preço do boi em grande velocidade. Com isso, apenas os pecuaristas mais tecnológicos terão lucro com a atividade.

Diego Brasil, pecuarista, veterinário, consultor e ex-Mafrig, concorda com a avaliação do coordenador. Segundo ele, o Rio Grande do Sul tem as condições ideais para produzir a carne gourmet, mas ainda não achou o caminho.

* A repórter viajou a convite da Athenagro
Source: Rural

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