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Dois mil e vinte foi um ano sem COP do Clima – Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. Natural, então, que houvesse grande ansiedade para a COP-26 em 2021, que aconteceu em Glasgow, em novembro. Em meio a uma pandemia mundial, as notícias que antecederam o encontro não eram animadoras. O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado em agosto, apontava a inevitabilidade – se nenhuma providência for tomada – de que a temperatura global ultrapasse o aumento de 1,5 oC antes do que se poderia prever.

 

Atitudes urgentes eram o que muitos esperavam resultar das medidas que decorreriam dos acordos entre os países. Essa expectativa não foi satisfeita, uma vez que países importantes, por estarem entre os principais emissores globais de gases de efeito estufa, como Estados Unidos, China, Rússia, Índia e Brasil não aumentaram suas ambições de reduzir as emissões.

Mas não seria sensato olhar para os resultados da COP-26 tomados apenas por pessimismo. Faltou os países ricos explicarem de forma convincente por que não cumpriram o financiamento prometido desde 2015, mas o encontro trouxe, sim, avanços significativos. Um dos mais importantes foi a conclusão da regulamentação do artigo 6 do Acordo de Paris, não tendo mais impedimentos para dar início à implementação do mercado mundial de carbono, por meio do qual países emissores podem comprar créditos, que equivalem a uma autorização de emissão de carbono, de países com iniciativas que resultam em diminuição nas emissões.

Ainda que seja inegável que o Brasil tenha perdido a credibilidade no exterior em relação ao combate ao desmatamento e da adoção de medidas para contê-lo de imediato, o país aderiu ao Acordo sobre Florestas, como está sendo chamada a Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso do Solo, por meio do qual os signatários comprometem-se a doar 12 bilhões de dólares de fundos públicos e 7,5 bilhões de fundos privados para deter e reverter a perda florestal e a degradação de terra até 2030. Com a adesão, o Brasil expressou uma postura colaborativa à comunidade internacional, imprescindível neste momento, conforme a Coalizão destacou em posicionamento publicado em 2 de novembro.

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De concreto, é preciso celebrar o grande alinhamento entre setor privado e sociedade civil que foi visto na COP. A sociedade civil brasileira levou propostas concretas, recomendações e mostrou iniciativas que já têm sido bem-sucedidas e que conjugam, por exemplo, conservação das florestas e aumento da produção agropecuária. Houve um grande comprometimento por parte do setor privado de investir recursos e isso viabilizará a execução de muitos programas e ganho de escala em ações em todo o mundo no combate às mudanças climáticas. Isso não isenta os diversos governos de responsabilidade e de exercer seu papel, em algum momento, de criação de regulamentos sobre essas negociações.

A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura elaborou o documento Recomendações para a COP, com pontos importantes para a performance nacional em mudanças climáticas, como aumento de ambição na redução de emissões, regulação dos mercados de carbono, financiamento e justiça climática, entre outros. Esse documento foi entregue aos negociadores brasileiros na COP.

Foi também uma das organizações representativas de diversos setores (academia, setor privado e organizações da sociedade civil) a ter uma participação ativa na Conferência do Clima. Junto ao Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o movimento promoveu um diálogo sobre uso da terra na Amazônia, discutindo como é possível a conciliação entre produção agropecuária e conservação da floresta. As organizações da sociedade civil, os representantes dos povos indígenas e quilombolas e os jovens de todas as etnias foram fundamentais para dar o tom de urgência à Conferência, lembrando a todos, dentro e fora do Brasil, que nosso país necessita aproveitar as oportunidades que existem na união de conservação e uso da terra para promover justiça e integridade social.

*Marcello Brito é presidente do Conselho da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). Também atuou como cofacilitador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura

**as ideias e opiniões expressas neste atigo são de responsabilidade exclusiva do seu autor e não representam, necessariamente, o posicionametno editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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