Diante da alta dos custos de produção, a indústria tem mudado a mistura do café. Os blends nos pacotes que chegam ao consumidor estão com maior presença de variedades da espécie canéfora, como robusta e conilon, junto com o de variedade arábica, a mais produzida no Brasil.
Representantes da indústria afirmam que a intenção é tentar manter uma estabilidade dos preços para o varejo. Entre março de 2021 e o mesmo mês em 2022, o café para o consumidor subiu 73%. Os executivos do do setor pontuam que as alterações de blend são feitas de forma cautelosa.
LEIA TAMBÉM: Digestivo e bom para o coração. Sete benefícios de tomar café todo dia
"Alterar muito o blend altera o gosto do consumidor e ele percebe. Então é uma mudança feita com cuidado, observando o comportamento do cliente, para que ele continue satisfeito com a bebida”, conta Celírio Inácio, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
O executivo explica que a produtividade destas variedades tem sido positivas e sua absorção pelo mercado interno é maior do que no mercado internacional. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a previsão para a safra atual é de uma colheita de 17 milhões de sacas de 60 quilos de café conilon.
“Nós tivemos um recorde na produção e na qualidade dos canéforas em 2020. O robusta já vem melhorando sensorialmente, apresentando mais características parecidas ao arábica. As indústrias começaram a usar mais o conilon, mas com uma qualidade melhor do que se tinha há 10 anos”, pontua o diretor da Abic.
Diante da alta dos custos e na tentativa de limitar os repasses para o consumidor, indústria de café tem alterado os blends nos pacotes (Foto: Portal Embrapa)
Tendência é de alta
Mesmo com as iniciativas da indústria, a tendência é do preço do café se manter em níveis elevados para o consumidor nos próximos meses. Descartando qualquer expectativa de queda, Celírio Inácio, das Associação Brasileira da Indústria de Café, explica que a alta nos preços é reflexo das geadas e tempo seco ocorridas no ano passado.
Segundo ele, mesmo em um ano de bienalidade positiva do café arábica, quando a produção é maior, houve uma queda de 26% na comparação de 2021 com 2020 em comparação com o ano anterior. Foram 47 milhões de sacas de 60 quilos, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
saiba mais
Colheita de café do Brasil atinge 35% do total, mas mantém atraso
IBGE reduz previsão de safra de café em 3,7% com baixa no arábica
Com a redução dos estoques do grão, pontua o executivo, a bebida ficou mais cara. Segundo Inácio, a indústria vem repassando aos poucos os custos elevados de produção, afetados por fatores como alta dos combustíveis e fertilizantes.
“É uma dinâmica complicada, porque depende do varejo, do poder de compra do consumidor, então existe uma negociação muito grande para não ser repassado”, pondera.
Para Aguinaldo Lima, diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS), há uma tendência de correção nos preços, mas não deve seguir o mesmo ritmo do último semestre.
Leia mais sobre café
“Os aumentos [de custo] na matéria-prima começaram desde o ano passado. As indústrias foram segurando até o momento que não deu mais. As maiores correções já foram feitas, então acredito que agora seja mais uma acomodação de preço”, diz.
Ainda assim, a indústria acredita que o brasileiro deve tomar mais café no inverno. Nesta época do ano, a demanda costuma aumentar de 20% a 30%, de acordo com a Abic.
“A tendência é subir o consumo, então a preocupação [do preço levar à diminuição da demanda] vai ser depois do inverno. Precisamos ficar de olho em preços, poder aquisitivo, comportamento do varejo”, ressalta Celírio Inácio.
Source: Rural