Dois executivos e um grande produtor de grãos se uniram para criar a startup MasterBarter. A agfintech chega ao mercado com a oferta não apenas da operação de troca de grãos por insumos agrícolas, mas também com uma conta digital lastreada na sua produção agrícola futura, com a promessa de liquidez imediata para os gastos pessoais. As agfintechs são empresas emergentes de crédito privado voltadas para o agronegócio.
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Walter Dissinger, ex-presidente mundial da Basf, ex-CEO da Votorantim Cimentos, sócio-fundador e CEO da startup, o objetivo do negócio é democratizar o modelo do barter, que atualmente é mais acessível aos grandes e médios produtores de soja, milho e algodão. Além de estender a opção de barter para produtores menores e de outros cultivos, como batata, tomate, amendoim e arroz, a democratização citada pelo CEO implica na facilitação do acesso ao crédito de forma digital, rápida e sem burocracia.
“Sempre gostei de inovações. Quando saí da Votorantim, onde fundei a startup Juntos Somos Mais, me reuni com meu amigo Chico [Francisco Pereira] e pensamos: ‘Será que na agricultura poderíamos criar uma conta digital, com um cartão de crédito onde o produtor deposita grão e vai gastando esse grão futuro com o tempo’? Desenvolvemos a ideia e fundamos a empresa há dois anos com esse propósito.”
Barter é utilizado de forma mais comum por grandes e médios produtores de grãos, mas intenção de startup é ampliar o acesso (Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)
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Além de Dissinger e Pereira, atual CEO da Trademaster e ex-diretor da Bunge, a MasterBarter tem como sócio Marcelo Borba, que fundou e foi CEO da MB Engenharia e hoje cultiva grãos em Goiás e Tocantins. A agfintech recebeu um aporte inicial de R$ 5 milhões de seus fundadores, investidores anjos e dos fundos Parallax Ventures e FRAM Capital e já se prepara para uma segunda rodada de R$ 3 milhões.
Na plataforma digital, com rastreamento blockchain, o produtor pode fechar o contrato de barter com a empresa que tem interesse na compra do seu produto em cinco minutos, com registro no Banco Central e CPR (Cédula do Produto Rural) digital, sem a necessidade de ir a um cartório. A grande novidade, no entanto, é a possibilidade de converter o grão futuro em dinheiro sempre que precisar de liquidez e gastar com seu cartão BarterCard, com bandeira Mastercard.
Dissinger explica que, pelo aplicativo, o agricultor pode consultar três saldos: o da conta digital, do cartão e de onde está depositada a safra futura vendida ao armazém com o valor determinado em contrato. “A qualquer hora, o agricultor pode vender parte ou o total depositado no armazém e ter liquidez imediata para pagar o diesel, a escola dos filhos e outras despesas pessoais, de acordo com sua necessidade”, diz o CEO. Nessa operação, o produtor tem crédito com prazo safra e paga juros pelo número de dias da antecipação da entrega da sua produção.
O sócio Borba ressalta que a startup é norteada pelos pilares ESG (Environment, Social & Governance, em inglês) e estimula práticas sustentáveis. “Se de um lado oferecemos serviços de SaaS (Software as a Service) em Blockchain para os originadores de produtos agropecuários, melhorando seu processo de contratação, do outro, cumprimos com protocolos rígidos regulatórios, atuando como instituição de pagamento para todos estes participantes ecossistêmicos da cadeia do agronegócio.”
Mercado de R$ 50 bilhões
Dissinger diz que o barter, que existe desde a década de 1990 no Brasil, mas só se popularizou dez anos depois, tem um mercado atual estimado em mais de R$ 50 bilhões, mas tem espaço para crescer mais, incluir agricultores familiares e atingir outros setores como os de carne, leite e produtos não convencionais.
Ele acrescenta que o modelo ganha mais atratividade em épocas de crédito rural mais escasso, como ocorreu nos últimos meses com a interrupção frequente das linhas de crédito do Plano Safra, que deve ter volume e condições de financiamento para nova safra divulgadas na próxima semana.
Atualmente, a startup tem entre os clientes a Basf, a cooperativa Coplana, a distribuidora Senagro, além de empresas de café e trigo. Pelo menos 50 produtores já transacionaram na plataforma, que, até o final do ano, espera atingir R$ 300 milhões em transações com 2.000 agricultores, principalmente do Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e da região sul. Em três anos, o plano é transacionar valores acima de R$ 5 bilhões.
Source: Rural