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Acostumadas a investir em terras produtivas, empresas e organizações do agronegócio têm, aos poucos, destinado recursos para um espaço onde nada disso é possível – pelo menos por enquanto. Considerado o sucessor da internet móvel, o metaverso tem atraído a atenção do setor agropecuário em meio às promessas de aumento da conectividade no campo e da chegada da conexão 5G no país.

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Reunião realizada pelo Sistema FAEMG para comemorar aniversário do Senar-MG usou ferramentas do metaverso (Foto: Reprodução)

 

“O metaverso será uma ferramenta de extremo valor para nós do campo principalmente porque temos uma fábrica a céu aberto e isso pode ser um fator facilitador de treinamento, de conhecimento das coisas do campo”, avalia o presidente do Sistema FAEMG (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais), Antônio de Salvo.

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Em abril, a entidade comemorou os 29 anos de existência do Senar-MG de uma forma diferente: uma reunião no metaverso. O encontro, de pouco mais de 40 minutos, discutiu a importância da nova tecnologia para o agro – um setor cuja conectividade se restringe a uma minoria. A estimativa é que apenas 11% da área produtiva do país tenha cobertura 4G, o que limita até mesmo a adoção das tecnologias existentes.

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“O principal desafio é nós conseguirmos entrar com o 5G de forma mais efetiva dentro do país como um todo e isso é uma questão de tempo e acho que esse tempo vem se encurtando com o interesse das empresas responsáveis pelo 5G”, acredita o presidente do Sistema FAEMG ao discorrer sobre os benefícios que o metaverso poderia trazer ao setor, sobretudo na área de extensão e assistência técnica rural.

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“Você já imaginou fazer um treinamento de regulagem numa máquina de defensivo agrícola sem estar exposto especificamente ao defensivo agrícola naquele momento do treinamento? Isso vai dar uma segurança muito maior para regular uma máquina virtualmente sem estar utilizando defensivo naquele momento”, exemplifica Salvo.

Metaverso ou não?

Embora chame de metaverso a reunião realizada em realidade virtual e imersiva, a experiência vivida pelo presidente da FAEMG junto a seus colegas não é considerada metaverso propriamente dito, segundo explica a doutora em comunicação digital pela USP e estrategista da área na LETS Marketing, Isadora Camargo. “O metaverso começa quando a gente não sabe explicar o que é o metaverso. A gente pode dizer e inferir que ele é uma mistura de realidade virtual, realidade aumentada, conectividade e internet com tecnologias imersivas”, explica a pesquisadora.

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Pouco palpável, mas intuitivo, o metaverso é definido pela Meta (ex-Facebook) como um sucessor da internet móvel baseado num “conjunto de espaços digitais interconectados que permite que você faça coisas que não poderia fazer no mundo físico”.

“A gente não tem muitas clareza sobre o metaverso justamente porque ele está associado a uma empresa de tecnologia, o Facebook – que agora se chama meta. E não à toa houve essa mudança de nome, que mostra mais uma estratégia de uma empresa de tecnologia que controla dados no mundo ocidental e que tem claro interesse mercadológico com isso”, completa Isadora. Procurada pela reportagem, a Meta alegou que não possui porta-voz para tratar do assunto.

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Na avaliação da sócia da PwC Brasil, Karen Barbieri, a principal característica do metaverso está na descentralização. “As grandes empresas de tecnologia querem dominar o metaverso, mas isso não é o metaverso. O metaverso é eu poder interagir com você de forma independente . O que a gente tem hoje é um primeiro passo para esse metaverso, ainda dentro desses ambientes controlados por várias empresas’, explica Karen ao definir o metaverso como um ambiente fluido, presente em todos os lugares tal como a internet é hoje.

Potencial financeiro

Segundo relatório divulgado pela Grayscale Investments em novembro do ano passado, o Metaverso tem um potencial de receita estimado em trilhões de dólares gerados a partir da publicidade, comércio, eventos digitais, hardware e monetização das atividades de desenvolvimento e criação. Um documento semelhante elaborado pelo JP Morgan destaca que 54 bilhões de dólares são gastos em bens virtuais todos os anos, quase o dobro do valor gasto na compra de música.

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“Quando a gente fala de negócios dentro do metaverso, esses conceitos que vêm junto com ele trazem muita incerteza do que ele pode ser, mas pelo que já aconteceu, pelos poucos  exemplos que a gente tem de concreto, se espera que tenha um volume muito grande porque isso possibilita uma escalabilidade muito grande também”, observa Karen, da PwC Brasil. “Tudo indica que há um interesse mercadológico com o surgimento do metaverso para que a gente tenha ali uma evolução das tecnologias blockchain que hoje operam as moedas digitais”, completa Isadora.

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“Você tem ali um mundo paralelo onde há fundos de investimentos digitais e, por exemplo, as NFTs, que são tokens digitais que garantem a compra de algo material ou imaterial que é só seu”, explica a pesquisadora. São as NFT’s, baseadas na tecnologia blockchain, que permitirão transferir valores do mundo digital para o mundo real num futuro metaverso 100% desenvolvido. “Se vai dar certo ou não acho muito cedo para falar, mas o fato é que o Facebook nunca lança nada que não tenha previsibilidade de ao menos cinco anos de duração”, aponta Isadora.

Marcando presença

No Rio de Janeiro, a rede Hortifruti Natural da Terra tem se adiantado a essas transformações. A empresa lançou em março uma loja virtual imersiva visando oferecer a seus clientes uma nova experiência ao mesmo tempo que se prepara para um futuro cada vez mais próximo.

“Ter lançado a loja imersiva agora, nos dá um pouco mais de bagagem de dados e comportamento de clientes para entender o que as pessoas querem, se planejar e fazer isso acontecer”, observa a consultora de inovação da rede, Fernanda Coelho, ao comparar o movimento da Natural da Terra ao realizado por lojas virtuais que abriram unidades físicas nos últimos anos.

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“A gente está fazendo o movimento contrário. As pessoas entram para descobrir e conhecer e a partir dessa entrada dela a gente consegue ver o que ela faz lá dentro quanto tempo que ela passa, onde ela clica, por onde ela olha e aí a gente consegue entender esses padrões para investir na plataforma e criar um ambiente mais atrativo”, explica Fernanda.

Do ponto de vista das vendas, ela reconhece que a loja imersiva ainda está longe de bater o e-commerce convencional. “Sendo muito honesta, se você for abastecer sua casa e tem uma lista de compra é muito mais rápido comprar no e-commerce normal do que entrar no ambiente virtual. Lá é mais como se fosse uma experiência mesmo”, afirma a consultora de inovação ao reforçar que o principal ganho da iniciativa é estar pronto para o futuro da internet.

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“Hoje nós somos o primeiro mercado a andar nesse sentido, mas de novo: a gente pode lançar um produto virtual, mas que isso faça sentido para o nosso cliente. A gente quis, sim, ser pioneiro e talvez trazer até a indústria junto com a gente, mas isso é mais uma preparação. O nosso foco não é só ficar ‘in’, pra gente é importante ter sentido e estar junto com o cliente”, conclui Fernanda.
Source: Rural

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