“O mais difícil eu consegui. Agora é torcer para pegar bons touros, usar minha experiência, me concentrar bem no animal, não ficar ansioso, não me importar com os gritos da multidão e pensar degrau por degrau.” Essa é a receita do paulista de Indaiatuba Ednei Caminhas, 46 anos, para se dar bem nas disputas das finais da primeira divisão da Professional Bull Riders (PBR), que começam nesta sexta-feira (13/5) em Forth Worth, no Texas.
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Caminhas se classificou para a decisão da temporada da mais importante competição mundial de montaria touros exatamente 20 anos depois de ser campeão mundial da PBR. Derrubou, assim, o recorde de outro brasileiro, Wallace de Oliveira (que disputou com 41 anos em 2020), tornando-se o mais velho competidor nas finais que reúnem os 40 melhores peões de touro do mundo.
Ednei Caminhas, durante montaria em prova da PBR (Foto: Ednei Caminhas/Arquivo Pessoal)
À Globo Rural, por telefone, Caminhas disse que o mais difícil na montaria em touros é manter o foco e se equilibrar os oito segundos no lombo dos touros americanos. “Você não pode errar nada ou vai para o chão rapidinho. Aqui, os touros pulam pra frente, afastando o peão da corda. No Brasil, os touros pulam de traseira."
Questionado se pretende montar o campeão mundial de 2021, Woopaa, que está empatado na liderança deste ano com Virgin Solo, diz que não fará essa escolha, mas, se cair no sorteio, vai ser “uma briga boa”.
Experiência não falta ao campeão, que desde criança amansa cavalos, profissão que aprendeu com o pai e o avô. Ele já venceu rodeios em sete países (Brasil, EUA, Canadá, Austrália, Costa Rica, México e Costa do Marfim). Nas arenas, foi jogado ao chão por touros com violência muitas vezes. Quebrou a clavícula e as costelas, desmaiou, teve um ombro pisoteado por um animal de quase uma tonelada, se aposentou algumas vezes, mas, na verdade, nunca parou de montar.
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Nas finais da divisão de acesso da Velocity Tour, disputadas no último final de semana (6 e 7 de maio), em Corpus Christi (Texas), onde garantiu sua participação na 11ª final da PBR, ele competiu mancando porque um dos touros prensou sua perna no brete. Mesmo assim, parou em dois dos três animais e ficou entre os cinco melhores, mesmo disputando com peões que nem tinham nascido quando ele conquistou seu título.
Caminhas conta que não participa de montarias na primeira divisão da PBR desde 2009, quando foi rebaixado para a Velocity Tour por causa de uma lesão. “Voltei ao Brasil para competir na liga do Rancho Primavera de 2012 a 2013, cheguei a dar cursos na Itália, mas acabei retornando aos EUA quando recebi convite para montar em um rodeio de Boston. Ganhei o evento e passei a montar em rodeios abertos.”
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Uma nova contusão grave, em 2018, quando um touro pisou no seu ombro e quebrou suas costelas, levou-o a pensar em aposentar de vez, mas a ideia foi abandonada logo. Tratou a lesão, voltou aos rodeios, com o apoio da mulher, Gabriela, e passou também a trabalhar no treinamento de cavalos de rédea para competições nos EUA.
Há sete anos, ele mora em um rancho na cidade de Anna, no Texas, com a mulher e três dos cinco filhos. Diz que monta nove ou dez cavalos por dia. Nos rodeios abertos no ano passado, ganhou oito etapas. “Em agosto, em quatro semanas, ganhei 5 rodeios. Meus filhos já se acostumaram a perguntar quando volto do rodeio: ‘Cadê a fivela, pai?’”
A volta para a PBR aconteceu na Velocity Tour, em 2020. “Como campeão mundial, tenho direito de montar em cinco etapas da divisão de acesso. Competi em 2020, 2021 e, neste ano, disputei três etapas, consegui um segundo lugar e um terceiro e, depois que fiquei entre os cinco melhores em Corpus Christi, estou pronto para montar bem nas finais.”
De Indaiatuba ao título mundial
Caminhas chegou aos Estados Unidos em 2000 depois de vencer rodeios em Indaiatuba e várias outras cidades brasileiras e de ser finalista na Festa do Peão de Barretos. No Brasil, ganhou 11 carros, 1 camionete e 29 motos. “Eu estava entre os três melhores peões do Brasil e vi que o Adriano (Moraes) estava ganhando dinheiro nos Estados Unidos. Aí decidi que devia tentar. Montei 9 anos e conquistei o título em 2002.” Na época, a premiação para o campeão era de US$ 100 mil, um décimo do prêmio de hoje. Na PBR, Caminhas ganhou US$ 1,8 milhão, que investiu em fazendas.
Emilio Carlos dos Santos, o Kaká, diretor de rodeio da Festa do Peão de Barretos, acompanha a carreira de Caminhas desde que o peão começou a montar profissionalmente, em 1993. Kaká foi um dos profissionais de rodeio que aplaudiu a classificação do veterano para as finais deste ano. “Ednei é uma exceção. Mesmo com a idade, sempre se cuidou muito, tanto psicologicamente como fisicamente. É a vitória da perseverança. Um exemplo a ser seguido pelos jovens.”
Aos 46 anos, Ednei Caminhas vence provas contra peões que não eram nascidos quando ele foi campeão mundial. Ele vai disputar pela 11ª vez as finais mundiais da PBR, nos Estados Unidos (Foto: Ednei Caminhas/Arquivo Pessoal)
Source: Rural