O Fundo Monetário Internacional (FMI) melhorou a estimativa de crescimento da economia do Brasil neste ano, mas piorou o cenário para o ano que vem, alertando para o impacto da inflação elevada. Ao atualizar os dados de seu relatório Perspectiva Econômica Global – o primeiro depois da invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro – o FMI passou a ver crescimento do Produto Interno Bruto do Brasil em 2022 de 0,8%, contra 0,3% previsto em janeiro.
Por outro lado, cortou a expectativa para 2023 em 0,2 ponto percentual, projetando uma expansão econômica de 1,4%. O FMI está bem mais pessimista do que o Ministério da Economia, que projeta que a economia brasileira irá crescer 1,5% este ano, indo a 2,5% em 2023. Os números do FMI para o Brasil também são bem mais fracos do que aqueles para a América Latina e Caribe, com o crescimento na região estimado pela instituição em 2,5% tanto para este ano quanto no próximo.
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Logo do FMI em sua sede em Washington (Foto: REUTERS/Yuri Gripas)
Para o grupo de Mercados Emergentes e Economias em Desenvolvimento, as perspectivas do Fundo são de expansão de 3,8% e 4,4% em 2022 e 2023, respectivamente. No relatório de janeiro, essas estimativas estavam em 4,8% e 4,7%. Para o FMI, ainda que a região da América Latina e do Caribe tenha menos conexões diretas com a Europa, que sofre com a guerra na Ucrânia, também deve ser mais afetada por inflação e aperto da política monetária.
"O Brasil respondeu à inflação mais alta elevando os juros em 9,75 pontos percentuais ao longo do último ano, o que pesará sobre a demanda doméstica", disse o Fundo no relatório, alertando que reduções nas estimativas de crescimento para os Estados Unidos e a China também devem impactar o cenário para os parceiros comerciais desses países na região.
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A inflação elevada tornou-se uma grande preocupação no Brasil, onde a taxa em 12 meses superou 11% sob o impacto do aumento dos preços dos combustíveis, na esteira dos ganhos nas cotações do petróleo no mercado internacional em meio a temores de restrição de oferta com a guerra na Ucrânia. O Banco Central elevou a taxa básica de juros Selic da mínima de 2% para os atuais 11,75%, e mais altas são esperadas com o IPCA acumulando avanço de 11,30% nos 12 meses até março, maior taxa desde outubro de 2003.
O FMI estima inflação de 8,2% no Brasil este ano e de 5,1% em 2023, resultados que ficam bem acima das metas – de 3,50% em 2022 e 3,25% em 2023 medidos pelo IPCA, ambos com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O Fundo ainda calcula taxa de desemprego no país de 13,7% e 12,9% respectivamente neste ano e no próximo, com déficits na conta corrente de 1,5% e 1,6% do PIB.
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ECONOMIA GLOBAL
O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu nesta terça-feira (19/04) sua previsão de crescimento econômico global em quase 1 ponto percentual, como efeito da guerra da Rússia na Ucrânia e com um aviso de que a inflação agora é um "perigo claro e presente" para muitos países.
A guerra deve desacelerar o crescimento e aumentar ainda mais a inflação, disse o FMI em seu último relatório Perspectiva Econômica Mundial, no qual alertou que suas estimativas foram marcadas por uma "incerteza incomumente alta". Novas sanções à energia russa e a ampliação da guerra, uma desaceleração mais acentuada do que o previsto na China e um novo surto da pandemia podem frear ainda mais o crescimento e elevar a inflação, enquanto a alta dos preços pode desencadear agitações sociais.
O credor global, que rebaixou suas previsões pela segunda vez neste ano, disse que agora prevê crescimento global de 3,6% em 2022 e 2023, queda de 0,8 e 0,2 ponto percentual, respectivamente, ante a previsão de janeiro, dados os impactos diretos da guerra na Rússia e Ucrânia e repercussões globais.
O crescimento global no médio prazo deverá esfriar para cerca de 3,3%, em comparação com uma média de 4,1% no período de 2004 a 2013 e com crescimento de 6,1% em 2. "As perspectivas econômicas globais foram severamente prejudicadas, em grande parte por causa da invasão da Ucrânia pela Rússia", escreveu o economista-chefe do Fundo, Pierre-Olivier Gourinchas, em publicação em um blog divulgada nesta terça-feira com o relatório atualizado.
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A guerra exacerbou uma inflação que já vinha em alta em muitos países devido a desequilíbrios na oferta e demanda ligados à pandemia, com os últimos bloqueios na China provavelmente causando novos gargalos nas cadeias de suprimentos globais. A expectativa é que Rússia e Ucrânia experimentem fortes contrações em suas economias, enquanto a União Europeia (UE) – altamente dependente da energia russa – viu sua previsão de crescimento para 2022 ser cortada em 1,1 ponto percentual.
"A guerra se soma à série de choques de oferta que atingiram a economia global nos últimos anos. Assim como ondas sísmicas, seus efeitos se propagarão por toda parte –através de ligações entre os mercados de commodities, de comércio e financeiros", disse Gourinchas. O FMI disse que revisou para baixo sua perspectiva de médio prazo para todos os grupos, exceto os países exportadores de commodities que se beneficiam do aumento nos preços de energia e alimentos.
Ele disse que as economias avançadas levarão mais tempo para se recuperar de sua tendência de produção pré-pandemia, enquanto a divergência entre economias avançadas e em desenvolvimento provavelmente persistirá, o que sugere algumas "cicatrizes permanentes" da pandemia.
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PERIGO CLARO E PRESENTE
O Fundo disse que a inflação agora deve permanecer mais alta por mais tempo, impulsionada pelos avanços dos preços das commodities induzidos pela guerra e pelas crescentes pressões sobre os preços, e alertou que a situação pode piorar se os desequilíbrios entre oferta e demanda se aprofundarem.
Para 2022, o FMI prevê inflação de 5,7% nas economias avançadas e de 8,7% nas economias emergentes e em desenvolvimento, saltos de 1,8 e 2,8 pontos percentuais em relação às previsões de janeiro. "A inflação se tornou um perigo claro e presente para muitos países", escreveu Gourinchas no blog. Ele disse que o Federal Reserve (dos EUA) e muitos outros bancos centrais já adotaram uma política monetária mais rígida, mas as interrupções relacionadas à guerra estão amplificando essas pressões.
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O FMI disse haver risco crescente de que as expectativas de inflação fiquem desancoradas, levando a uma resposta mais agressiva de aperto monetário, o que pode pressionar uma gama mais ampla de economias de mercados emergentes. As condições financeiras ficaram mais apertadas para os mercados emergentes e países em desenvolvimento imediatamente após a invasão, e a reprecificação foi "de forma geral ordenada", mas um aperto monetário adicional era possível, bem como saídas de capital.
A guerra também intensificou o risco de uma fragmentação mais permanente da economia mundial em blocos geopolíticos com padrões tecnológicos, sistemas de pagamento transfronteiriços e moedas de reserva distintos. "Tal 'mudança tectônica' causaria perdas de eficiência a longo prazo, aumentaria a volatilidade e representaria um grande desafio para a estrutura baseada em regras que governou as relações internacionais e econômicas nos últimos 75 anos", afirmou Gourinchas.
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Source: Rural