Durante a Semana Santa, é muito comum que o Ministério da Agricultura, Procon e outros orgãos façam fiscalizações para identificar possíveis fraudes na venda de peixes. É nesta época do ano que o brasileiro mais consome pescados – e também é quando se torna mais comum encontrar espécies sendo substituídas por outras de menor valor. Amostras de bacalhau, salmão, dourada e surubim, que estão entre os mais caros, por exemplo, são submetidas a testes de DNA para saber se o peixe embalado é diferente daquele informado no rótulo do produto.
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Mas não são só os peixes que precisam ser fiscalizados. Outros ingredientes muito usados no dia a dia, como azeite extravirgem, leite e mel estão na mira de falsificadores. Um artigo publicado pelo jornal The Guardian em setembro de 2021 aponta que esse tipo de fraude na indústria alimentícia movimenta aproximadamente US$ 49 bilhões por ano, ou seja, mais de R$ 230 bilhões na cotação atual. Nem sempre as informações dos rótulos são verdadeiras, por isso, é importante estar atento. Confira a seguir alguns dos ingredientes que mais são falsificados do mundo.
Salmão (Foto: Divulgação/FAO)
1- Azeite
O azeite extravirgem é o mais nobre dos azeites. Costuma ser caro porque sua produção acontece de forma menos processada, o que aumenta a qualidade sensorial do produto. Possui baixo grau de acidez, aroma e gosto frutado, amargo e picante, característicos da azeitona.
Por ser valorizado, também é falsificado. Muitas vezes, o azeite é misturado com outros óleos vegetais e vendido como puro. O pior também pode acontecer. Há casos em que a embalagem nem azeite contém.
(Foto: Divulgação)
Em dezembro de 2021, em uma operação do Ministério da Agricultura, mais de 150 mil garrafas de azeite de oliva tiveram venda suspensa no Brasil. Entre as irregularidades identificadas estavam: produtos sem registro, fraudados, falsificados e contrabandeados. Também foram encontradas três fábricas clandestinas que estavam envasando mistura de óleos vegetais de procedência desconhecida.
Por isso, desconfiar do valor é a primeira dica para evitar cair em golpes. Além disso, antes de efetuar a compra, também é interessante conferir a lista de produtos irregulares já apreendidos em ações do Mapa e da Anvisa.
2- Leite
(Foto: Getty Images)
No leite, a fraude mais comum é o acréscimo de água, pois aumenta o volume e, consequentemente, os lucros. No entanto, já foram descobertos casos ainda mais graves de falsificação, como por exemplo, a adição formol, água oxigenada e até soda cáustica. Mesmo em quantidades bem baixas, essas substâncias ajudam a estender a vida útil do leite.
Em um caso que ganhou destaque no Brasil, uma empresa transportadora de leite foi acusada de orientar motoristas a adicionar água e bicarbonato de sódio à carga a fim de aumentar a quantidade e mascarar o tempo de coleta do produto.
3- Mel
O mel também está entre os alimentos mais falsificados do mundo. Como se trata de um produto produzido pelas abelhas, há um processo longo para ficar pronto e, por isso, os fraudadores costumam adicionar ingredientes para fazer render e aumentar as vendas.
Com foco nos lucros, alguns produtores usam xarope de milho, glucose, açúcar de beterraba ou sacarose para diluir o material original. Além disso, açúcares modificados quimicamente também são usados para imitar o mel das abelhas.
Plantas medicinais da Caatinga conferem sabor diferenciado ao mel do sertão de Pernambuco (Foto: PC Cavalcanti/MPT)
4- Vinagre balsâmico
O verdadeiro vinagre balsâmico tem indicação geográfica protegida com o status (IGP). Isso significa que ele é produzido exclusivamente em áreas das províncias de Modena e Reggio Emilia, usando uvas particulares. Para sua produção, são necessários aproximadamente 12 meses de envelhecimento em cascos de carvalho.
Para reconhecer um bom vinagre balsâmico de Modena é importante verificar a textura, que é espessa e aveludada e o sabor, que tem um toque adocicado.
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5- Carne
Hambúrguer analisado continha carne de cavalo na composição (Foto: Ministério Público do Rio Grande do Sul)
Enquanto antigamente se pensava apenas em carne moída para produzir o hambúrguer, agora é comum que ele tenha trigo texturizado, fécula de batata ou soja como base. A aparência é muito parecida com a da carne, por isso é difícil descobrir a diferença.
Em um caso mais grave, em 2021, o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) fez uma operação para investigar a mistura de carne de cavalo em hambúrgueres fornecidos para restaurantes. Também eram misturadas carnes de peru e suíno. O abate era feito de forma clandestina e os estabelecimentos compravam o produto sem nota fiscal.
6- Café
(Foto: Divulgação)
Até o cafezinho pode ser falsificado. O grão moído também é um alvo de fraudes, pois pode estar misturado com variedades de qualidade inferior. Nem os cafés mais caros, chamados de gourmet, conseguem escapar da lista de falsificações. Em 2016, o Procon identificou 74 marcas com impurezas acima do limite legal.
O café considerado puro é aquele que tem até 1% de impurezas próprias do café, como cascas do fruto e outros resíduos da moagem; e também que não tenha fraudes como a adição de soja, milho e açaí na composição.
7- Chá
(Foto: Mmartan/Reprodução)
Assim como o café, o chá também está sujeito a falsificação. Isso porque a textura e os aromas das folhas secas e moídas são relativamente fáceis de imitar. Outro ponto que ajuda os fraudadores é que, a embalagem em saquinhos, onde normalmente os chás são comercializados, dificulta o reconhecimento da farsa. A mistura adulterada pode conter folhas de outras plantas, aditivos de cor e serragem tingida.
8- Açafrão
O açafrão está entre os temperos mais caros do mundo, e por isso, está na mira de fraudadores de alimentos.
Vale destacar que essa especiaria é diferente da cúrcuma popularmente chamada de açafrão-da-terra no Brasil, que é coletado da raiz da planta da família do gengibre e vendido a partir de R$ 25 o quilo.
Extraído do estigma de uma flor roxa com o uso de pinças especiais, um único grama de açafrão custa cerca de US$ 60 ou R$ 323. Seus fios são vermelhos e têm um aroma semelhante ao de tabaco frutado.
Por ser tão raro, é muito falsificado. Às vezes é misturado com glicerina, pó de sândalo, sulfato de bário e bórax e tingidos com um pigmento sintético. Os fios do açafrão são mais difíceis de falsificar do que o açafrão em pó.
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9- Pimenta preta
(Foto: Portal Embrapa)
É difícil perceber a diferença entre a pimenta preta verdadeira e a falsificada, principalmente quando se trata da versão moída. Entre os pequenos grãos pode haver amido, trigo sarraceno, farinha, milho e galhos. Ainda para falsificar a especiaria, também são usadas as sementes de mamão, já que a aparência é semelhante.
10- Caviar
Ovas de outros peixes são vendidas como caviar verdadeiro. Como tanto a aparência, quanto o sabor são parecidos, fica difícil identificar a falsificação.
O caviar vermelho, no entanto, costuma ser o mais falsificado. O produto pode, na verdade, ser uma mistura de gelatina, algas, caldo de peixe, óleo vegetal e corantes. Esse é um pouco mais fácil de detectar a fraude, pois a textura e o aroma costumam ser diferentes do original.
11- Baunilha
(Foto: Divulgação/INB)
A baunilha verdadeira vem de uma orquídea rara e de difícil cultivo. Muitas vezes, o extrato da baunilha que é vendido como puro está misturado com outras substâncias mais baratas e que possuem sabor e aroma semelhantes.
Há também a baunilha sintética, feita em laboratório a partir de materiais sintéticos. É bastante usada em receitas por ser uma versão mais barata. Mas alguns rótulos informam que se trata da como baunilha pura, quando na verdade não é.
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12- Vinho
(Foto: Divulgação)
Estima-se que 5% dos vinhos vendidos no mundo são falsos. Nesses casos, vinhos de qualidade inferior são vendidos como se tivessem grande prestígio ou como se fossem de uma safra muito procurada.
Para evitar cair em fraudes, o consumidor pode atentar-se para detalhes no rótulo, como a ortografia, número de série, manchas e indícios de que a etiqueta pode ter sido substituída. Além disso, é recomendado verificar se o tamanho e o formato da garrafa estão condizentes com o padrão do produtor.
Com informações de Love Food e The Guardian
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Source: Rural