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(Foto: Thinkstock)

 

Embora 50% dos brasileiros tenham reduzido o consumo de carne nos último 12 meses, como apontou a pesquisa coordenada pelo The Good Food Institute (GFI) junto ao Ibope divulgada nesta semana, a proteína animal manteve-se no prato de 99% dos entrevistados.

Segundo o estudo inédito no Brasil, que ouviu 2 mil pessoas em todas as regiões, as carnes foram reduzidas em quantidade ou até eliminada de uma refeição, mas não da dieta dos brasileiros. No casos em que isso ocorreu, a maioria disse tê-la trocado por legumes, verduras e grãos.

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Chamado de flexitariano, esse novo consumidor que reduz o consumo de produtos de origem animal está longe de ser considerado uma ameaça pela indústria, que mira tanto o aumento na preferência por similares à carne quanto nos de proteína animal.

“Normalmente, este tipo de comportamento ou de tentativa de mudança de hábitos vêm de classes mais altas. As classes mais baixas, pelo contrário, querem consumir mais carne, é o exato oposto. Tanto que, quando a economia cresce, o consumo per capita também cresce”, observa Lygia Pimentel, diretora executiva da Agrifatto, consultoria especializada em mercado pecuário.

 
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A pesquisa reflete justamente o comportamento das classes A, B e C, com renda a partir de R$ 4.180. Entre esse público, 53% afirmaram consumir carne pelo menos três vezes por semana e outros 29% pelo menos uma vez por semana.

Presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin avalia que a produção de alternativos à carne faz frente a um novo nicho de mercado. 

“O vegetarianismo não é novo, o veganismo não é tão atual, e agora surgiram alternativas. A gente vê isso como um nicho, que pode crescer ou não, mas não algo que seja imediato”, pondera o representante da entidade que reúne frigoríficos com atuação no setor de aves e suínos, além da indústria de ovos.

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Para Ricardo Laurino, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira, a pandemia de Covid-19 mostrou que o nicho tem avançado mais rápido do que se espera para uma mudança mais sólida no comportamento do consumidor.

"O fato de as pessoas ficarem mais em casa e cozinharem mais apresentou uma oportunidade para se testar novas propostas alimentares, bem como a relação do risco de possíveis novas pandemias a partir do que comemos", observa.

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Pesquisador e coordenador do Centro de Inteligência da Carne (CiCarne) da Embrapa, Guilherme Malafaia ressalta que o maior interesse do consumidor por alternativas vegetais passa pela maior disponibilidade de informações sobre os produtos que põe no prato.

Ele lembra, inclusive, que a própria indústria da carne já investe neste mercado de alternativas vegetais e destaca o seu potencial. “Hoje, esse mercado é de 30 milhões de pessoas, um tamanho que não podemos mais desprezar”, observa o pesquisador.

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Mais exigências

Atender esse consumidor mais exigente, contudo, ainda exige superar uma série de desafios, não só de mercado, mas também da própria composição dos produtos – como os teores de sódio e gordura.

“O próprio aumento da disponibilidade de produtos cárneos é um entrave para esse segmento. As dúvidas sobre a qualidade nutricional dessas fontes alternativas também não estão bem consolidadas. Sem contar a capacidade de investir da indústria para desenvolver esses produtos”, destaca Malafaia.

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Para 62% dos entrevistados na pesquisa, a presença de sabor, textura e aroma iguais ou melhores ao da carne animal foi apontada como principal fator considerado na hora de optar por alternativa vegetais, seguido por “ser o mais natural possível” (60%) e possuir valor nutricional igual ou melhor ao da proteína animal.

André Artin Machado, gerente de desenvolvimento comercial da rede de supermercados Pão de Açúcar, acrescenta outro aspecto que tem sido percebido na tomada de decisão do consumidor: a produção sustentável e responsável. 

"Sabemos que muitos consumidores deixaram de comer cane bovina por motivos relacionados ao desmatamento e ao bem-estar animal. Por isso, a cadeia de proteína animal tem de se proteger cada vez mais agindo de maneira responsável", afirma, destacando que aquilo que antes era diferencial virou pré-requisito.

A cadeia de proteína animal não pode ser um símbolo de inimigo ambiental e social por parte do consumidor. Precisam ser protagonistas de ações sustentáveis

André Artin Machado, gerente de desenvolvimento comercial da rede Pão de Açúcar

Malafaia pondera, entretanto, que esses aspectos formam um conjunto de fatores que pesa de forma diferente na decisão de comer ou não. “Esse é um consumidor que está preocupado tanto com os fatores intrínsecos quanto com os fatores extrínsecos à carne. Não adianta ser uma carne de menor impacto socioambiental e ser horrível”, afirma o pesquisador da Embrapa.

Nesse contexto, o papel do agro ganha ainda mais importância para atender às exigências do consumidor. "No caso da carne bovina, é possível ter uma integração lavoura-pecuária-floresta que una a produção de proteína animal e a de vegetal. Isso faz sentido não só para suprir as demandas do consumidor como para uma economia de mais baixo carbono, menor pressão para aumento das áreas de pasto e a consolidação de uma indústria de proteína, seja ela qual for", analisa Alexandre Cabral, diretor de políticas públicas do GFI Brasil.

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O presidente da ABPA concorda. Segundo ele, o setor precisa estar atento a esse novo consumidor e fazer frente ao maior interesse da população pelo modo de produção do próprio alimento. “As pessoas têm que ter direito a alternativas e nós temos que respeitar. Tanto é verdade que algumas de nossas empresas já estão nesse mercado”, reconhece Santin.
Source: Rural

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