Bárbara Bernardina, dona da Confeito com Amor (Foto: Divulgação)
Às vésperas da Páscoa, a indústria do chocolate tenta se reinventar em meio à pandemia do coronavírus. Da grande indústria aos pequenos negócios, um dos principais desafios é encontrar meios de amenizar os impactos da crise que afeta a economia há cerca de um mês.
Para muitos, a alternativa tem sido recorrer às entregas por delivery, com o uso de aplicativos. Mas as estratégias também incluem vendas personalizadas, com desconto e até frete gratuito, dependendo do valor da compra.
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Depois de se formar em culinária e trabalhar em uma confeitaria de Curitiba (PR), Bárbara Queiróz Bernardina, 22 anos, abriu sua loja, a Confeito Com Amor, justamente na Páscoa passada. Impulsionada pela divulgação no Instagram, ela vendeu 78 ovos de colher.
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Um ano depois, Bárbara já vê a data como a mais importante do ano para as vendas. “Como confeiteira, o retorno maior é na Páscoa. Então, quem trabalha com chocolate está preocupado, já que os investimentos são muito altos”, pontua.
Neste ano, a curitibana esperava mais do que dobrar suas vendas. Agora, o crescimento é uma incógnita, dada a menor disposição dos consumidores com a crise. Por isso, para tentar impulsionar as vendas, a confeiteira resolveu oferecer 10% de desconto para os clientes que antecipassem as encomendas.
#PascoaAteJunho
Outra solução para a data foi o #PascoaAteJunho, movimento criado nas redes pela chocolatier Renata Penido, 30 anos, com o intuito de ajudar a toda comunidade chocolateira. Por meio de lives no Instagram, ela tem oferecido orientações sobre aspectos como o posicionamento de marca, o pagamento de impostos e dicas para renegociar pedidos.
Para boa parte das pessoas que trabalha com chocolate, esse é o investimento do ano. Uma das ideias que tenho sugerido é abrir o seu cardápio, mostrar outras opções e tentar reagendar os pedidos para evitar cancelamentos
Renata Penido, chocolatier e sócia da Ambar Chocolate
Segundo ela, o retorno foi positivo. “Recebi alguns bons feedbacks. Tenho orientado a venda de ovos menores e alguns estão conseguindo continuar porque chocolate é afeto, não é algo supérfluo”, diz.
Helena, Renata e Izabela são sócias na Ambar Chocolate (Foto: Divulgação)
Planejamento refeito
Até 2016, quando decidiu montar o seu ateliê e contribuir para a formação de outros profissionais do segmento, a Páscoa era a principal fonte de renda de Renata no ano.
Hoje, o cenário é diferente: além de ministrar cursos, ela é sócia da Ambar Chocolates, fábrica em Nova Lima (MG) focada no mercado Bean to Bar (do grão à barra, na tradução para o português), criada junto das sócias Helena Avelar e Izabela Garcia em novembro passado.
O plano das sócias era recuperar parte do investimento feito há quatro meses através da venda de cerca de 500 ovos. “Até 17 de março, o coronavírus não tinha tanta força aqui em Belo Horizonte (MG).
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Mas as medidas de isolamento começaram a ser tomadas rapidamente e não contávamos com isso. Houve então uma mudança de planos”, diz a sócia Helena Avelar.
“Nós somos uma fábrica. Então, pela nossa comercialização ser feita por meio de entregas e de parcerias com empresas, conseguimos continuar com o trabalho com uma equipe menor”, completa.
Uma das estratégias da Ambar para continuar funcionando foi justamente aderir ao movimento de extensão da data criado de forma independente por Renata, uma de suas co-fundadoras. A outra ideia foi acrescentar ao e-commerce, então recém lançado, cupons de desconto e frete grátis para compras acima de R$ 120 na região de Belo Horizonte.
Delivery e bom senso
Luana e as filhas Marina e Julia comandam a Confeitaria da Luana, em São Paulo (Léo Barrilari/Divulgação
Diante deste cenário de imprevisibilidade, as redes de lojas também buscam alternativas. Inaugurada há 10 anos pela confeiteira Luana Davidsohn em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, a Confeitaria da Luana cresceu, ganhou adeptos e duas novas unidades desde 2016.
Para a expansão da rede e do desenvolvimento dos produtos, Luana passou a ter como sócias as filhas Júlia e Marina. Hoje, a marca fabrica 15 itens, entre cupcakes, brownies, cookies e bolos de pote, com dezenas de sabores para cada uma dessas linhas.
No ano passado, a empresa vendeu 500 ovos na Páscoa e esperava crescer pelo menos 20% neste ano, para cerca de 600 unidades. No entanto, foi preciso rever os planos com a intensificação da pandemia.
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“Durante a crise econômica em 2015, tivemos uma queda no movimento. A nossa ideia foi reinventar produtos e trazer outros formatos. Passamos alguns anos contando moedas, mas nada comparado a esse momento”, destaca Marina.
No caso de festas e eventos, como o segmento corporativo e casamentos, é difícil remarcar a entrega. Mas há opções para celebrações menores. “Em alguns casos, conseguimos contornar. De repente, era um chá de bebê e a pessoa cancelou. O que sugerimos foi manter o crédito para comemorar um mês de nascimento, e o cliente topou”, diz.
Segundo a empreendedora, outra saída tem sido fazer entregas por delivery. “As pessoas vão continuar comprando. No caso dos bolos, pode até ser para um número menor de convidados, mas continuam celebrando aniversários. Além disso, a Páscoa é um bom motivo para o público comprar chocolate. Estamos focando nessas vendas para manter o faturamento”, explica.
Indústria cautelosa
(Foto: Divulgação)
A Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), entidade que engloba a grande indústria de chocolate, evita fazer qualquer estimativa sobre os prejuízos para este ano e diz que o volume de produtos relativos à Páscoa ainda está em fase final de produção.
A entidade, no entanto, pontua que “as empresas estão adotando medidas e precauções necessárias para garantir segurança aos seus colaboradores, com o intuito de manter a disponibilidade de seus produtos aos consumidores.”
Por ano, o volume de negócios dessa indústria chega a R$ 26 bilhões, com a geração de 42 mil empregos. Um indicativo de que o setor esperava aumentar as vendas para este ano é que, em relatório divulgado em fevereiro, antes da propagação da pandemia, a Abicab afirmou que as fábricas haviam elevado em 16% o volume de mão de obra para este ano, com a geração de 14 mil empregos temporários.
Grandes marcas
Entre as marcas, algumas já finalizaram a sua produção para o período. A Lacta, que encerrou a produção em fevereiro, disse em nota que intensificou os investimentos nas suas lojas online e em aplicativos de vendas e entregas.
A empresa afirmou que “a comercialização e distribuição dos produtos continuam normalmente, apenas seguindo todas as recomendações do Ministério da Saúde em relação à prevenção e controle do coronavírus.”
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Dentre as medidas de segurança tomadas para manter o funcionamento de suas fábricas, a Lacta reitera que foram fretados transportes para que os funcionários possam “chegar e ir até suas casas em segurança”, “respeitando o distanciamento social” e o ajuste de turnos.
A Nestlé informou que os pontos de venda já haviam sido abastecidos anteriormente para o período e que, “nesse momento, ainda é cedo para quantificar o impacto (do coronavírus) nos negócios”.
Source: Rural