Até o final de abril, 198 usinas de cana devem estar em operação, de acordo com a Unica (Foto: Globo Rural)
As vendas de etanol hidratado no mercado interno pelos produtores da região Centro-sul do Brasil caíram nos primeiros 15 dias de março em comparação com o mesmo período no ano passado. O volume comercializado foi de 690,96 milhões de litros, 16% a menos que no mesmo período em 2019, quando foram vendidos 820,88 milhões de litros.
A informação é da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), que atualizou, nesta quarta-feira (25/3), os números da safra 2019/2020, cujo calendário termina, oficialmente, no próximo dia 31.
A quantidade de etanol anidro vendida no mercado doméstico na primeira quinzena de março foi de 383,17 milhões de litros, 5,36% acima do registrado no mesmo período de 2019. Ao todo, foi comercializado um volume de 1,1 bilhão de litros de etanol, de acordo com a Unica. Do total, 1,07 bilhão foram direcionados para o mercado interno.
Na avaliação da entidade, março deve ser o mês em que o mercado começará a perceber os efeitos das medidas relacionadas ao controle da pandemia de coronavírus no Brasil. No relatório, a Unica informa, com base em dados preliminares do mercado, que o consumo de combustíveis do ciclo Otto teve um crescimento superior a 3% em fevereiro.
“Portanto, a retração esperada em decorrência das medidas para conter a disseminação da COVID-19 só deve ser observada a partir de março”, diz o relatório da entidade que representa as usinas do Centro-sul do Brasil.
Queda nos preços
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) aponta queda de preços. Na média dos dias 16 e 20 de março, o indicador para o etanol hidratado fechou em R$ 1,6721 o litro, 13,97% a menos que na semana anterior.
Nas duas últimas semanas, o indicador voltou a ficar abaixo dos R$ 2 o litro, o que não acontecia desde o início do ano. A referência para o anidro fechou o período de 16 a 20 de março em R$ 2,0221 o litro, queda de 6,20% em comparação com o período anterior.
Os pesquisadores do Cepea avaliam que a queda nos preços do etanol já reflete a demanda em função das medidas restritivas relacionadas ao coronavírus. Outro fator de pressão sobre o etanol que vem sendo destacado por analistas é o petróleo, que teve forte baixa no mercado internacional nas últimas semanas por conta das incertezas relacionadas à pandemia e por uma disputa entre Rússia e Arábia Saudita.
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Aqui no Brasil, a Petrobras anunciou reduções de preços de combustíveis nas refinarias, acompanhando a variação dos preços internacionais do petróleo. “O etanol é afetado diretamente pela baixa da gasolina, que empurra para baixo os preços do biocombustível”, pontua o consultor Carlos Cogo, em análise publicada na rede social Linkedin.
No relatório da Unica, o diretor técnico Antônio de Padua Rodrigues descarta, neste momento, relação dos preços atuais do etanol com as decisões da Petrobras. “Até o momento não observamos retração no preço da gasolina praticado na bomba. As reduções de preço do etanol hidratado no produtor refletem, até o momento, o início da safra de cana-de-açúcar no Centro-Sul e expectativa de perda de competitividade do biocombustível nas próximas semanas”, explica.
Moagem
De acordo com a Unica, as usinas do Centro-sul do Brasil processaram 2,99 milhões de toneladas de cana nos primeiros 15 dias de março, quase 90% direcionados para a produção de etanol, que foi de 243,76 milhões de litros. A fabricação de açúcar atingiu 40,83 mil toneladas no período.
No acumulado da safra 2019/2020, foram processados 582,92 milhões de toneladas, resultando em 32,79 bilhões de litros do combustível e 26,53 milhões de toneladas da commodity (veja tabela abaixo). A produção de etanol de milho somou 1,5 bilhão de litros, segundo a Unica, sendo 85,59 milhões nos primeiros 15 dias de março.
A entidade estima que 79 usinas devem estar processando cana-de-açúcar até o final de março, quando se encerra o calendário da safra 2019/2020. Até 31 de março de 2019, eram 80. Até o dia 15 de abril, 198 unidades devem estar em operação. No mesmo período no ano passado, eram 157.
Perevenção ao coronavírus
Em relação às medidas preventivas relacionadas ao coronavírus, a Unica destaca que as usinas estão tomando as precauções necessárias para preservar os trabalhadores e que a manutenção das atividades é fundamental. Pelo menos até o momento, as operações das usinas estão sendo feitas normalmente, com exceção de problemas considerados pontuais, como atrasos de entrega de equipamentos e dificuldades na colheita manual em alguns “casos isolados”.
“Importante o entendimento das autoridades sobre a importância do setor sucroenergético na produção de alimento, energia e, agora, de álcool para a assepsia. As características da matéria-prima impedem a sua estocagem e a interrupção do processo produtivo também impactaria severamente os mais de 700 mil trabalhadores desta indústria e os 70 mil produtores agrícolas de cana-de-açúcar”, diz Antonio de Padua Rodrigues.
Source: Rural