Pesquisdores da Embrapa defendem que Reserva Legal traz benefícios ambientais e econômicos (Foto: Embrapa/Divulgação)
Um grupo de pesquisadores de diversas unidades da Embrapa divulgou documento em que defende a manutenção dos atuais parâmetros de Reserva Legal (RL) definidos pelo Código Florestal. O texto faz uma crítica direta a projeto dos senadores Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e Márcio Bittar (MDB-AC), que pretende revogar a norma, o que, na prática, tira do produtor rural a obrigação de constituir esse tipo de área de vegetação em sua propriedade.
“Apesar de o Código Florestal vigente ter sido debatido no Congresso Nacional por longos anos, resultando na publicação em 2012 da Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Lei Federal 12.651/2012; também conhecida como “novo Código Florestal”), têm surgido iniciativas parlamentares para o seu desmonte”, diz o comunicado assinado por 116 cientistas.
No texto em tramitação no Senado, Bolsonaro e Bittar afirmam que a revogação das normas sobre Reserva Legal no Brasil, definidas no artigo 68 do Código, visa garantir o direito de propriedade. Na justificativa, argumentam que o Brasil é exemplo de preservação e que não pode receber “receitas” de outros países sobre como proceder em matéria ambiental.
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Na visão dos parlamentares, as críticas ao Brasil e, especificamente, ao produtor rural brasileiro, partem do que chamam de burocratas ecológicos. Eles afirmam que, atualmente, há uma certa “ecologia radical, fundamentalista e irracional”, cujo objetivo é impedir o desenvolvimento do Brasil e atenuar a concorrência do país na agropecuária global.
Os atuais parâmetros de Reserva Legal no Brasil (80% na Amazônia Legal, 35% no Cerrado e 20% nas demais regiões do país) seriam, na visão dos dois senadores, entraves ao desenvolvimento e contrários ao direito de propriedade. Daí a necessidade de revogação dessa norma no Código Florestal.
“O país precisa produzir mais e explorar com racionalidade seus recursos naturais. Para tanto, é preciso flexibilizar dispositivos com excesso de rigidez e que ferem de morte o princípio constitucional do direito à propriedade privada e os objetivos nobres de crescimento econômico e geração de oportunidades”, argumentam os senadores.
No documento divulgado nesta semana, os pesquisadores da Embrapa destacam que o conceito de Reserva Legal no país foi criado na primeira versão do Código Florestal, em 1934. Foi mantido na versão de 1965, com a intenção de preservação de cobertura vegetal mínima na propriedade rural, e ratificado pelo texto de 2012.
“O momento atual é de buscar melhorias e soluções para o aumento da produtividade e da produção agropecuária em áreas já abertas, ou em áreas degradadas nos diferentes biomas brasileiros, em harmonia com a conservação dos recursos naturais. Não cabe apoiar projetos que desmontem ou desqualifiquem a Lei de Proteção da Vegetação Nativa, mas sim de fomentar sua plena implementação”, afirmam.
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Os cientistas argumentam que o fato do Brasil ter extensas áreas de vegetação nativa não é justificativa para a extinção da Reserva Legal nas propriedades rurais. Segundo eles, é um equívoco avaliar a situação da cobertura vegetal no país usando os dados de forma agregada, sem considerar questões locais e peculiaridades da biodiversidade brasileira.
Acrescentam que a manutenção da RL favorece o uso sustentável dos recursos naturais. Além de cumprir importante papel na polinização, controle biológico de pragas, proteção do solo e regulação do ciclo da água e servir de proteção para organismos que não se deslocam por grandes distâncias.
Do ponto de vista econômico, os pesquisadores afirmam que a reserva não representa um ônus. A partir de um plano de manejo aprovado por órgãos ambientais, pode também ser utilizada para fins comerciais, com a exploração sustentável de produtos florestais, por exemplo.
“A RL regular na propriedade ainda pode dar acesso a políticas de pagamento por serviços ambientais. O estímulo ao uso sustentável da RL ainda está em estágio inicial. É preciso desenvolver e adaptar sistemas de produção adequados às RLs, assim como desenvolver estratégias de agregação de valor a elas”, dizem.
Os pesquisadores alertam ainda sobre possíveis consequências de mudanças na atual legislação para o comércio do Brasil com outros países. “A proteção da vegetação nativa do Brasil é valorizada nas relações de comércio das commodities agrícolas, de modo que retrocessos na legislação ambiental poderão prejudicar as exportações do agronegócio.”
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Source: Rural