Lavoura de soja da fazenda Nossa Senhora Aparecida tem área de sequeiro e irrigada (Foto: Raphael Salomão/Ed. Globo)
Mesmo sem aumentar a área plantada com soja, a Fazenda Nossa Senhora Aparecida, em Água Fria de Goiás (GO), no entorno de Brasília (DF), deve ter produção maior na safra 2018/2019. A família Fiorese, proprietária, estima uma produtividade pelo menos 5% superior à da safra passada nas lavouras onde já é possível ver a folhagem das plantas em crescimento.
Nesta safra, foram plantados 2,4 mil hectares da oleaginosa, com parte do campo irrigado. A área com os pivôs foi semeada a partir do dia 1º de outubro, logo após o fim do vazio sanitário no Estado. As lavouras de sequeiro começaram a ser semeadas em 12 de outubro. Era preciso esperar as chuvas. Outros 400 hectares também irrigados receberam milho para semente, em contrato com uma empresa.
A tendência tem sido de rendimento crescente da soja na fazenda nos últimos anos. Na safra 2015/2016, foram colhidas 71,6 sacas por hectare, em média. Na temporada 2017/2018, o número chegou a 82,5 sacas. Oli Fiorese, o patriarca da família, credita os bons números à maior aplicação de tecnologia. Fazendo um bom manejo, é esperar um clima favorável, diz ele.
“Usar boa semente, plantar no momento correto, com bom maquinário, fazer o perfil do solo, bom controle de pragas. A cada ano, a gente emprega mais tecnologia”, contra Oli, gaúcho de nascimento, agricultor desde a década de 1980 e com produção em Goiás desde 1994. “Vai depender de um bom clima, mas sempre acreditamos em maior produtividade”, acrescenta.
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Pelo menos por enquanto, o clima tem sido favorável e as previsões para o decorrer da safra também, afirma o consultor da Federação de Agricultura do Estado de Goiás (Faeg), Pedro Arantes. O plantio foi realizado na melhor época nas principais regiões de produção e, até este momento, os relatos são de bom desenvolvimento da soja no campo.
Nas estimativas da Faeg, os sojicultores goianos plantaram nesta safra uma área 3% maior em relação aos 3,34 milhões de hectares da temporada passada. A expectativa é de um rendimento entre 57,6 e 57,5 sacas por hectare. No ano passado, foram 54,5 sacas, em média.
“Acredito que algo muito acima é difícil. No ano passado, a produtividade foi muito boa. A preocupação é com os veranicos. Como choveu muito agora, fica uma interrogação. Mas a previsão climática ainda é favorável”, analisa Arantes.
A produtividade acima da média em propriedades como a Nossa Senhora Aparecida é, em parte, explicada pela localização, comenta Pedro Arantes. Segundo ele, a região do entorno de Brasília, onde estão também municípios como Cristalina e Silvânia, reúne produtores, em geral, bastante tecnificados e tem grande concentração de áreas irrigadas de soja. Nessas lavouras, o rendimento pode superar 83,3 sacas por hectare. No sequeiro, 66,7 sacas por hectare.
Na fazenda dos Fiorese, a expectativa é iniciar a colheita da soja irrigada até 20 de janeiro de 2019. A de sequeiro deve começar entre 15 e 20 de fevereiro. Em seguida, 80% dos campos não irrigados serão semeados com milho para a segunda safra e os 20% restantes com trigo. A área atendida pelos pivôs de irrigação serão plantadas com feijão, explica o agrônomo Kaio Fiorese, um dos filhos de Oli.
"Vai depender de um bom clima, mas sempre acreditamos em produtividade maior a cada safra", diz Oli Fiorese (Foto: Raphael Salomão/Ed. Globo)
Enquanto atenta para o manejo das plantações, a Fazenda Nossa Senhora Aparecida reforça sua preocupação com a sustentabilidade, garantem seus proprietários. O local já possui o Cadastro Ambiental Rural (CAR) com áreas de reserva legal e de preservação permanente (APP) georreferenciadas. A APP foi isolada e a regeneração é feita com plantas nativas do Cerrado.
Outras medidas foram os cuidados com polinizadores e controle de erosão de solo. Na parte administrativa, houve uma automação de processos de gestão, como controle de estoques, comandados quase totalmente a partir do escritório. E treinamento dos funcionários, tendo em vista o conhecimento de boas práticas agrícolas.
A fazenda também é certificada segundo os critérios da Mesa Redonda da Soja Responsável (RTRS, na sigla em inglês). Em 2018, os Fiorese colocaram no mercado os primeiros créditos de soja certificada. Nessa modalidade de negociação, certificados relativos à produção segundo os critérios da entidade são negociados a preços de mercado e podem ser adquiridos por investidores.
O primeiro lote equivale a 7,7 mil toneladas do grão. Mas a intenção é ampliar esse volume daqui para frente. “As ofertas estão um pouco abaixo do mercado, mas acredito que vai melhorar. A tendência é de ter produtos diferenciados e nós saímos na frente de algo que, daqui alguns anos, todos terão que fazer”, diz Henrique Fiorese, outro dos filhos de Oli.
Com essas ações, a propriedade foi selecionada para participar de uma iniciativa mantida pela multinacional Bayer em nível global e que tem a sustentabilidade ambiental, social e econômica como base. É a primeira no Brasil e 11ª no mundo a participar do programa, que está em pelo menos oito países e tem a meta de chegar a 70 fazendas cadastradas até 2020.
“É um pensamento que vai mais longe do que o dia a dia, o curto prazo. Quero que essa fazenda seja sustentável para a quarta ou quinta geração. E cada vez mais sustentável”, afirma Oli Fiorese.
Mercado
O que preocupa o agricultor são as incertezas do mercado de soja, tanto no Brasil quanto no exterior. Oli acredita que o produtor deve sentir mais os efeitos da tabela de frete nessa safra. De um lado, encarece o custo com os insumos. De outro, impacta no preço de entrega do grão.
Além disso, o Brasil está em um momento de troca de governo e é preciso esperar o que, efetivamente, a administração Jair Bolsonaro planeja para a agropecuária. No exterior, o mercado aguarda atento aos próximos passos da disputa entre Estados Unidos e China, que afeta o comércio e o quadro de oferta e demanda internacional de soja.
Um terço da produção de soja da fazenda que não será destinada para semente já foi vendida antecipadamente a R$ 71,50 a saca de 60 quilos. Um valor que considera satisfatório e com o qual foi possível cobrir os custos, que o produtor viu aumentar, mas consegue amenizar seus efeitos sobre o caixa participando de um grupo de compras coletivas de insumos.
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“Não estou muito otimista neste momento, mas conseguimos fazer o travamento a um preço satisfatório. Agora, vamos ter que aguardar o melhor momento na colheita ou uma situação diferente. E a rotatividade dos grãos garante a receita da fazenda”, explica o produtor, que tem silos para 160 mil sacas de grãos que lhe permitem gerenciar melhor a comercialização.
Pedro Arantes, consultor da Faeg, diz que a principal preocupação é com um descasamento da taxa de câmbio entre o período do plantio e da colheita, que pode afetar a renda do produtor. Ele lembra que a safra foi plantada com uma cotação mais elevada, com o dólar valendo entre R$ 3,80 e R$ 4. Se, na colheita, ficar entre R$ 3,70 e R$ 3,80, ainda é positivo.
“O pessoal plantou com câmbio mais alto e a preocupação é essa. Por conta dessa indefinição, o nível de comercialização está abaixo dos anos anteriores”, comenta o consultor.
*O repórter viajou a convite da Bayer
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Source: Rural