As taxas de desnutrição estão decrescendo e a produção de alimentos alcançou sucessivos avanços nos últimos 50 anos (Foto: Micolo J/CCommons)
Você é daqueles que acham que o mundo vai de mal a pior e que tudo está desmoronando? Se a resposta é sim, dê uma olhada no trabalho do cientista Max Roser, da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Desde 2011, ele mantém o portal OurWorldInData.org, em que conta, por meio de números, gráficos e visualizações muito criativas, a história social, econômica e ambiental do nosso mundo até os dias atuais. Seu trabalho inspirou o famoso cientista e intelectual Steven Pinker a defender que a vida, a saúde, a prosperidade, a segurança, a paz, o conhecimento e a felicidade estão em ascensão, não apenas no Ocidente, mas em todo o mundo.
Dados sólidos corroboram a visão desses cientistas. Em 1800, nenhum país tinha uma expectativa de vida superior a 40 anos. Em 1950, o mundo se dividia em dois blocos: Europa e América do Norte, com expectativa de vida em torno de 60 anos, e os países pobres, com pouco progresso em relação a 1800. Isso está mudando: entre 1950 e 2012, houve uma enorme aproximação entre nações ricas e pobres em termos de expectativa de vida, reflexo de uma redução significativa da desigualdade na oferta global de saúde. Em 2012, já não havia um único país com expectativa de vida menor que 45 anos e nenhum país das Américas com expectativa inferior a 63 anos.
Maurício Antônio Lopes, da Embrapa (Foto: Reprodução/Embrapa)
Por viverem em ambientes mais limpos e se alimentarem melhor, as pessoas têm melhor desenvolvimento cerebral e o QI mundial está crescendo cerca de três pontos por década. Milhões de pessoas hoje estão vivas graças ao controle do tétano e da poliomielite e à erradicação da varíola. A mortalidade no primeiro ano de vida se reduziu em todo o mundo. Guerras, doenças e pobreza estão em franco declínio. Em 1950, 70% das pessoas viviam em condições de extrema pobreza. Agora, uma em cada dez pessoas vive nessa condição.
As taxas de desnutrição estão decrescendo e a produção de alimentos alcançou sucessivos avanços nos últimos 50 anos. O Brasil, até os anos 1970, exportava café e açúcar, mas gastávamos nossa poupança na importação de carnes, milho, trigo e até arroz e feijão. Então com 100 milhões de habitantes, em 1973, quando veio a crise do petróleo, não conseguíamos abastecer o país e boa parte da renda das famílias era dedicada à compra de alimentos.
De lá para cá, mais que dobramos a população, alcançamos a segurança alimentar e projetamos o Brasil como grande exportador de alimentos. A safra atual de grãos é suficiente para alimentar quatro vezes nossa população. Nossa produção de alimentos contribui para alimentar mais de 1 bilhão de pessoas no planeta.
O passado, portanto, diz muito sobre o presente e o futuro. Ao analisarmos grandes volumes de dados, captados em períodos longos, veremos os efeitos da combinação virtuosa de mais democracia, educação e desenvolvimento econômico e social. E compreenderemos que seus impactos no desenvolvimento científico e tecnológico e no avanço das políticas públicas para a melhoria da sociedade são extraordinários.
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Steven Pinker conclui que não há limites para as melhorias que podemos conseguir se investirmos na busca de conhecimento para melhorar o desenvolvimento humano. Mas ele e Max Roser alertam que ainda estamos distantes do mundo ideal. O impacto das mudanças climáticas oferece riscos de magnitude desconhecida. Precisaremos trabalhar muito para acabar de vez com a pobreza, com a fome, com as guerras.
É preciso, no entanto, reconhecer que estamos progredindo. Olhar para o passado e entender como conseguimos superar desafios que pareciam insuperáveis nos dará confiança e sabedoria para enfrentar os problemas do presente e do futuro. Aqueles que se dispuserem a fazê-lo talvez sejam considerados excessivamente otimistas, mas certamente serão reconhecidos como realistas no futuro.
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*Maurício Antônio Lopes é engenheiro agrônomo e presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Este artigo foi publicado originalmente em maio de 2018, na edição nº 391 da Revista Globo Rural.
Source: Rural