Buva, uma das daninhas mais preopupantes para a agricultura brasileira (Foto: Flickr/ Harry Rose/Creative Commons)
Especialistas reforçaram, nesta segunda-feira (27/8), o alerta para o crescimento da resistência de plantas daninhas a vários tipos de herbicidas. Durante o Congresso Brasileiro de Ciência de Plantas Daninhas, no Rio de Janeiro (RJ), eles lembraram que a resistência múltipla reduz alternativas de controle, dificultando o manejo e afetando lavouras de diversas culturas.
“Estamos perdendo as alternativas de manejo. É extremamente preocupante. Fora do Brasil, há casos de resistência de plantas daninhas a todas as alternativas químicas”, afirmou a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Ciência de Plantas Daninhas, Camila Porto.
Segundo Camila, atualmente, as daninhas mais preocupantes para a agricultura no Brasil são a buva, o capim amargoso e o chamado capim pé de galinha. Essas plantas têm demonstrado resistência a herbicidas bastante utilizados, como glifosato, paraquate e glufosinato de amônia.
Ele menciona ainda duas outras de difícil manejo: trapoeraba, encontrada em todo o Brasil, e vassourinha de botão, mais no Cerrado. Segundo a pesquisadora, elas possuem uma tolerância natural e seu controle requer altas doses de produtos químicos.
“A resistência a daninhas tem aumentado a cada safra e, com poucas alternativas químicas, agrava o que chamamos de pressão de seleção”, diz Camila.
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Dados da Embrapa referentes a 2017, mencionados durante painel de discussão no Congresso, indicam que a resistência às daninhas impõe um custo de R$ 4,92 bilhões à agricultura brasileira. Considerando também a matocompetição, quando se analisa a interferência sobre a cultura alvo, chega a R$ 9 bilhões.
E, além das ferramentas químicas atuais serem poucas e menos eficientes, a produção de novas moléculas está baixa, lembra Caio Rossi, presidente da divisão brasileira do HRAC, entidade formada no ano 2000, que reúne 14 empresas da indústria de agroquímicos com o objetivo de discutir questões relacionadas à tecnologia de herbicidas em nível global.
“A produção de novas moléculas está baixa. Por isso a importância do manejo integrado de resistência, para dar longevidade à tecnologia hoje existente. É preciso encontrar ferramentas que protejam o químico”, diz ele.
Entre os fatores que ajudam as plantas daninhas a ficarem mais resistentes aos herbicidas, Rossi menciona o uso do químico como única ferramenta de controle, falhas na eliminação das daninhas e problemas na regulagem de pulverizadores, levando a erros de dosagem na aplicação.
De outro lado, o manejo da resistência inclui, além dos herbicidas, medidas como não deixar no campo áreas de pousio e utilizar no sistema produtivo culturas de cobertura vegetal e palhada. Caio Rossi defende também o maior uso de controle químico na chamada fase de pré-emergência, atacando as plantas daninhas ainda na semente.
“O mecanismo de ação na pré-emergência, muitas vezes, não é o mesmo utilizado na pós-emergência. Isso proporciona uma rotação nos modos de ação, que é um dos pilares do manejo de resistência”, explica Rossi.
Pesquisador do Centro Universitário Várzea Grande (Univag), em Mato Grosso, Anderson Cavenaghi, avalia a situação da resistência múltipla das plantas daninhas como preocupante. Acrescenta que é preciso levar o máximo de informação sobre o assunto para o produtor rural.
Cavenaghi pondera, por outro lado, que é importante também ouvir o agricultor ao lhe propor uma alternativa de manejo. “Tem considerar a viabilidade econômica do produtor em relação ao sistema de controle”, diz ele.
*O repórter viajou a convite da Bayer/Monsanto.
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Source: Rural