Bioindústrias já transformam derivados da cana-de-açúcar em garrafas PET (Foto: Philipe Medeiros/Ed. Globo)
Um dos temas de maior destaque na agenda da sociedade moderna é a sustentabilidade, que, em sentido amplo, articula compromissos ambientais, econômicos e sociais nas ações de governos, empresas e indivíduos. Apesar de não ter existência física, a sustentabilidade é valor essencial, capaz de se converter em ativo e vantagem competitiva.
A sustentabilidade se materializa à medida que a sociedade percebe os limites do modelo de desenvolvimento dependente de recursos não renováveis, gerador de poluição, de impactos negativos no clima, no bem-estar e na saúde das pessoas. Como a população cresce em número e capacidade de consumo, também cresce o desejo de que a economia utilize mais recursos renováveis e recicláveis, logo mais sustentáveis.
Maurício Antônio Lopes, da Embrapa (Foto: Reprodução/Embrapa)
É nesse contexto que ganha força a bioeconomia, ramo que promete reunir setores que utilizam recursos biológicos para oferecer soluções eficazes a desafios tais como as mudanças climáticas, a segurança energética e alimentar e a saúde da população. Por causa disso, as indústrias farmacêutica, química, de alimentos e de energia estão se integrando de forma inédita.
Bioindústrias já transformam derivados da cana-de-açúcar em garrafas PET, fabricam estofados biodegradáveis para carros e biossensores para monitorar poluição; aplicam biomateriais para reparar tecido ósseo e queimaduras na pele, desenvolvem biofármacos para enfrentar doenças, produzem inimigos naturais para controlar pragas e usam microrganismos para degradar resíduos. Aviões já realizam os primeiros voos comerciais utilizando bioquerosene como combustível. E é crescente a produção de cosméticos e essências a partir da nossa biodiversidade.
O Brasil desenvolve há décadas um bioinsumo de grande impacto econômico e ambiental, formulado com bactérias que fixam o nitrogênio do ar. Os resultados da tecnologia desenvolvida pela Embrapa e aplicada às lavouras de soja impressionam. Graças a ela, os 33,9 milhões de hectares dessa leguminosa cultivados na safra 2016/2017 não receberam fertilizante nitrogenado. A economia para os agricultores (e para o país) foi de R$ 42,3 bilhões – cerca de 14 vezes o orçamento da Embrapa.
E o impacto desse bioinsumo não é só econômico. Uma das características do nitrogênio está em ser um potencial poluidor das águas subterrâneas e uma fonte de emissão de óxido nitroso, um potente gás de efeito estufa. Por isso o uso de bactérias fixadoras tem impacto ambiental muito positivo. Por ser um nutriente essencial, caro e requerido em grandes quantidades, a pesquisa dedica grande esforço à busca de soluções que eliminem ou reduzam sua aplicação também em outras lavouras.
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Há alguns anos, foi lançada pela Embrapa outra tecnologia, de uso de bactérias promotoras do crescimento de plantas, da espécie Azospirillum brasilense, capazes de estimular o crescimento das raízes, aumentando sua capacidade de explorar o solo em busca de nutrientes e água. A tecnologia está disponível para milho, trigo, soja e feijão e 4,5 milhões de doses foram comercializadas na última safra, com procura crescente pelos agricultores. Em 2018, houve o lançamento para pastagens com braquiárias, com incremento de 15% na produção de biomassa e de 25% no conteúdo total de proteína da planta. Os benefícios para a pecuária, muito dependente dessa forrageira tropical, poderão ser enormes, tanto no sequestro de carbono como na economia de fertilizantes nitrogenados.
Na agricultura, as vantagens dos bioprodutos fazem do Brasil um exemplo em ecoeficiência. Com a diversidade biológica inigualável que temos, nosso futuro é, definitivamente, bio.
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*Maurício Antônio Lopes é engenheiro agrônomo e presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Este artigo foi publicado originalmente em março de 2018, na edição nº 389 da Revista Globo Rural.
Source: Rural