No Brasil, a espécie pode ser encontrada do Estado do Amapá até o Paraná (Foto: Creative Commons)
Carne saborosa com preço acessível para a maior parte da população é a combinação que faz da tainha (Mugil liza) uma excelente opção para a piscicultura comercial. Seu baixo valor de mercado, que pode ser visto como um desestímulo à criação, é compensado pela boa procura pelos brasileiros. Além disso, sem necessidade de grandes investimentos, a atividade é favorecida pelo competitivo custo-benefício que oferece à produção do peixe.
Ao contrário de outras espécies que apresentam preço de venda alto, mas demandam elevados recursos para a engorda, a tainha tem ótimo desenvolvimento quando vive em confinamento, exigindo pouco capital de giro e possibilitando obter resultados lucrativos. A tainha ainda tem a vantagem de ser criada tanto em água doce quanto salobra, ampliando as alternativas de empreendimento para o produtor.
Tainha tem hábito de se deslocar em cardume (Foto:Thinkstock)
Na natureza, após passar seu primeiro ano de vida no mar, nada até os estuários e lagoas costeiras – áreas fluviais próximas do mar com água doce e salgada misturadas –, onde permanece por quatro a seis anos, tornando-se adulta. A volta ao oceano ocorre na migração reprodutiva, quando desova cerca de 5 milhões de ovos por fêmea.
O período de multiplicação, que vai de abril a julho, também é o de grande perigo para a tainha. A pesca predatória em busca de ovas do peixe antes da fecundação, produto valorizado em países europeus e asiáticos, vem reduzindo o estoque natural do pescado. Como tem hábito de se deslocar em cardume, especialmente próximo ao litoral, a tainha é presa fácil para os pescadores.
No Brasil, pode ser encontrada do Estado do Amapá até o Paraná. Tem hábitat nas proximidades dos costões rochosos e recifes, perto das praias de areia e nos manguezais, locais que são fonte das algas consumidas pelas tainhas. Mas a poluição e outros aspectos do desenvolvimento urbano têm degradado essas áreas de alimentação do peixe, gerando mais uma dificuldade para sua sobrevivência.
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Em vivieiros, a produção de tainha pode ser realizada o ano inteiro, permitindo fornecimento contínuo de carne para o comércio sem depender apenas da época de safra. O uso de tanques escavados e de tecnologia simples, além do fácil manejo alimentar, favorece o cultivo da espécie, que atinge com 1 ano de idade o peso de 600 gramas a 1 quilo para iniciar as vendas.
Da família Mugilidae, a tainha sempre esteve presente nos pratos dos consumidores daqui e do mundo. Faz parte da dieta humana desde o império romano e é comum na cozinha do Mediterrâneo. Peixe de corpo alongado, coberto por escamas e de coloração prata-azulado nos flancos, gosta de se deslocar com velocidade na parte superior das águas, característica adequada para a pesca esportiva, podendo assim também ser fornecido vivo para estabelecimentos de pesque-pague.
INÍCIO Alevinos com tamanho comercial pesam 2 gramas e são bem resistentes, já se apresentando tolerantes ao manejo em viveiros. Adquira o milheiro de criadores idôneos ou com referência. Consultar técnicos e especialistas também colabora para ampliar o conhecimento sobre os cuidados básicos da criação.
AMBIENTE A tainha tem boa adaptação em regiões de clima temperado e tropical, possibilitando seu desenvolvimento em todo o território nacional. No Nordeste, porém, a atividade pode ser mais vantajosa, pois a espécie tem crescimento acelerado em águas mais quentes, apesar de precisar de baixas temperaturas para a reprodução. Embora também possa ser criado em água doce, os melhores resultados da atividade têm sido obtidos na salgada, que, por sua vez, não exige correções de pH, dureza e alcalinidade.
TANQUES Não necessitam de adaptação especial. De diferentes tipos, podem ser escavados com fundo de terra, revestidos com geomembrana, tanques-redes ou com sistema de recirculação de água. Precisam, no entanto, de um sistema de abastecimento e vazão de água, com tubulações e monge. É preciso verificar a viabilidade da topografia do terreno e a documentação do empreendimento.
ALIMENTAÇÃO Natural (adubação orgânica) existente no viveiro pode ser suficiente para a engorda da tainha, reduzindo os custos de produção do peixe, que é pouco exigente no consumo de proteína. Sem ração específica disponível no mercado, a tainha aceita bem as opções existentes no varejo para outras espécies aquáticas.
CUIDADOS São necessários em relação ao ataque de predadores. O hábito de a tainha nadar próximo da superfície torna o peixe alvo fácil para a caça de pássaros. Redes de proteção vendidas em lojas agropecuárias são uma alternativa de proteção. Também é importante ter atenção quanto à qualidade da água. Por isso, assegure a origem do fornecimento e a manutenção, cujas técnicas podem ser auxiliadas com dicas dadas por um profissional experiente em piscicultura.
REPRODUÇÃO Tem início em períodos diferentes para machos, os quais são mais precoces que as fêmeas. No sul do país, ocorre entre maio e agosto, variando de um ano para outro, de acordo com a temperatura. Mas, como em viveiro é necessária a indução hormonal, o processo reprodutivo deve ser realizado em laboratórios especializados. Embora exista criação comercial de tainhas na Ásia há mais de 400 anos, o Brasil é pioneiro na reprodução artificial da espécie.
Onde adquirir: Laboratório de Piscicultura Marinha (Lapmar) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Caixa Postal 476, CEP 88040-970, Florianópolis (SC), tel. (48) 3721-4793 / 3721-6386, lapmar@ufsc.br
Mais informações: Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Rod. Admar Gonzaga, 1347, Itacorubi, Caixa Postal 502, CEP 88034-901, Florianópolis (SC), tel. (48) 3665-5000; e Bruno Scopel, engenheiro de pesca, tel. (85) 99286-6767, brscopel@hotmail.com
* CONSULTOR: Fábio Rosa Sussel, zootecnista, doutor e pesquisador científico do Instituto de Pesca de São Paulo – UPD Pirassununga/Cachoeira de Emas (SP), tel. (19) 3565-1200, fabio@pesca.sp.gov.br
Source: Rural