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Sensores, satélites, aplicativos, inteligência artificial. A nova revolução da agricultura passa pelo campo da tecnologia da informação (TI). Desde o agricultor, que precisa de bancos de dados para aumentar sua produtividade, até o consumidor, que procura saber a origem dos alimentos.

A combinação de tecnologias  forma a agricultura 4.0, que visa melhorar o rendimento do produtor. Habilitada essa performance, com esses dados, pode gerar  informação para toda a cadeia. O comentário é do head global de soluções agro da IBM, Luis Otávio da Fonseca, para quem, ao gerar essas informações, o campo está “falando” com a cadeia produtiva.

Em entrevista à Globo Rural, ele analisa o papel das empresas de TI – grandes e startups – de prover soluções para o agronegócio. E fala ainda sobre as expectativas da IBM para o setor no Brasil, país onde a companhia está há 100 anos.

Globo Rural  Para quem ainda não está familiarizado com o conceito, o que é a agricultura 4.0?
Luis Otávio da Fonseca  A agricultura passou por várias fases de evolução. A primeira foi quando começou a plantar. A segunda foi a mecanização. A terceira foi a alteração genética. A 4.0 é a quarta revolução, em que estamos utilizando tudo o que é tecnologia, principalmentente tecnologia da informação. Sensorização, conexão remota, estatística, inteligência artificial. A combinação disso forma a agricultura 4.0, que visa melhorar a performance do produtor. Habilitada essa performance, com o campo falando, pode trazer essa informação para toda a cadeia e aumentar a eficiência.

GR  Quais possibilidades isso abre?
Fonseca  No caso do produtor, é melhorar a operação agronômica. Na outra parte da cadeia, um banco poderá prover crédito conforme a performance do produtor; uma indústria poderá selecionar o melhor produto para a necessidade dela; e as seguradoras poderão monitorar o risco de maneira mais eficiente , vender mais seguros ou assegurar mais produtores. É uma mudança não só para produzir mais, mas o que o mercado quer, no momento que precisa.

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GR  Por que o agronegócio ficou atrativo para as empresas de tecnologia?
Fonseca  O agronegócio é parte importante do PIB de qualquer país. Grande parte dos países precisa dessa tecnologia. É uma indústria estável, perene e a menos transformada quando a gente olha para telecomunicações, indústria, bancos. Há um potencial de transformação muito grande e chegou a vez do agronegócio.

GR  Essa informação sobre a produção chega ao restante da cadeia produtiva?
Fonseca  Chega pouco ou de maneira não necessariamente utilizável. Do ponto de vista do B2B (business to business), as empresas dependem do agro. Há uma demanda por essa informação por duas razões: a primeira é diminuir o tempo de rastreabilidade; a segunda é quanto vou precisar fazer mais compras, procurar novos fornecedores. Então, essa informação tem valor não só para o produtor, mas também de compra no mercado spot, no custo de homogeneização, de rastreabilidade. Há realmente essa tendência de quem utiliza o produto rural demandar do fornecedor, até como critério de seleção, que essa informação seja fornecida.

A próxima onda talvez seja a consolidação de diversas plataformas para uma inteligência única"

 

 

GR  Isso no B2B. É de se supor que no B2C, para o consumidor, a dificuldade talvez seja maior…
Fonseca  O consumidor não só quer saber mais, mas faz parte de um contexto da experiência. Ele pode saber de onde está vindo. Ter um produto customizado. Ter certeza de que, de acordo com o critério de consumo dele, aquele produto realmente é orgânico ou não veio de uma fazenda com desmatamento. É na experiência do cliente onde está o verdadeiro valor. Tem o valor financeiro. Mas tem o valor comercial, relações públicas, marketing, oferecer essa informação para o consumidor final.

GR  O agronegócio brasileiro está preparado para esse tipo de inovação?
Fonseca  Acho que não tem ninguém pronto. O que vemos hoje são maiores ou menores inclinações a se fazer isso rápido. E está sendo demandado. É algo que o mercado, o consumidor está pedindo. Então, o agro brasileiro, se quiser continuar sendo competitivo não só pelo volume que produz, deve ter uma identidade associada ao produto. Ou o mercado se adapta ou vai perder competitividade para quem fizer antes. Isso está sendo demandado pelos mercados globais.

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GR  Com tantos dados e empresas, qual o próximo passo?
Fonseca  A próxima onda talvez seja a consolidação de diversas plataformas para uma inteligência única disponibilizada para o produtor e uma consolidação dessas informações disponibilizadas para fora da cadeia. Então, outros mercados em termos de tecnologia estão se abrindo, um mercado de inteligência, visibilidade e transparência da cadeia produtiva, e a próxima onda é pegar essas informações e disponibilizar para o comprador do produto agrícola.

GR  E como seria isso para uma grande empresa de tecnologia ou uma startup?
Fonseca  Há uma resistência do meio agro em ter, compartilhar ou comprar essa informação de um agente do próprio mundo agro, devido a um possível conflito de interesses. Então, eu vejo esse mercado para uma empresa de tecnologia, no qual o interesse é prover a melhor informação sem competir com uma empresa de defensivos, de semente, de maquinário, que consiga assimilar essas diversas fontes de dados e fornecer uma interface única para o produtor ou para o agente B2B. As empresas hoje em relação direta comercial com o produtor vão precisar oferecer tecnologia como diferencial para atender com produtos e serviços. Mas não vão conseguir ter acesso ao todo porque estão focadas em um determinado produto e segmento. Aí entram as empresas de tecnologia como fornecedoras de uma informação única a partir de diversas fontes sem qualquer interesse com as duas pontas.

As empresas de tecnologia fornecem informação, sem interesse com as duas pontas

 

 

GR  Como começou a relação da IBM com o agronegócio?
Fonseca  A IBM só de Brasil tem 100 anos. Então coincidiu, no ano passado, o anúncio da festa de 100 anos da IBM com o anúncio da divisão de agronegócio, que hoje é global, mas iniciou-se no Brasil, dada a pertinência da agricultura para o mercado brasileiro. A IBM está no agro há muito tempo. O que nós fizemos foi basicamente pegar todos esses clientes que tinham relação com agro, criarmos uma divisão específica e atuarmos dentro da área de agronegócio dessas empresas. O que era dividido em química, distribuição, produtos de consumo, bancos, seguradora e tem um pedacinho de agro, concentramos o agro em uma única divisão.

GR  Qual é a representatividade dessa divisão?
Fonseca  Tem crescido bastante, tem muita demanda em todos os países, mas a IBM não divulga faturamento ou percentuais das suas divisões. Trabalhamos com soluções globais, disponíveis para o mundo todo. O que pretendemos nesse mundo agritech é incorporar parte dessas soluções a nossa plataforma digital e colocarmos à disposição dos projetos de clientes. Já temos casos em que um projeto da IBM englobou uma agritech, porque era muito maior do que ela podia entregar, e entregamos em conjunto. Até mesmo por demanda do cliente, que falou “eu quero trabalhar com esta agritech, eles têm um pedaço da solução que me interessa”.

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GR  Qual a expectativa da IBM para o agro brasileiro?
Fonseca  A gente tem visto uma demanda muito forte do setor bancário, devido às recentes mudanças de legislação. Existe demanda também das grandes tradings e grandes produtores de se digitalizarem e terem a rastreabilidade disponibilizada o mais rápido possível. Temos um foco em soja, milho e cana. E crescemos geograficamente, trazendo os contratos globais para o Brasil. A tendência é continuar crescendo no mercado brasileiro por demanda local e externa.

GR  Há planos de diversificar?
Fonseca  A ideia é diversificar em cultura e geografia. O Brasil tem uma diversidade muito grande. Então nós preferimos focar em soja, milho e cana. A ideia é aprofundar as soluções dentro dessas culturas. Uma vez que esteja aprofundado, aí sim diversificar a abrangência setorial. Bancos, empresas de consumo e, obviamente, que isso começe a se expandir geograficamente.

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Source: Rural

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