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Presidente da Embrapa fala sobre a relação entre as três áreas (Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

 

Aos poucos o mundo vai compreendendo o tamanho do desafio que será alimentar uma população de mais de 9 bilhões de habitantes daqui a pouco mais de três décadas. E não será só isso. À medida que os anos passam, teremos uma população que, além de numerosa, será mais urbana, mais idosa, mais rica e mais exigente, demandando mais frutas, legumes, proteína animal, além de alimentos cada vez mais elaborados e sofisticados.

Para enfrentar desafio dessa grandeza, a agricultura precisará ser cada vez mais diversificada e especializada. A agricultura comercial, capaz de produzir em maior escala e a custos competitivos, seguirá ganhando espaço com o avanço do progresso econômico, provendo produtos de maior demanda, como soja, milho, carnes, açúcar, fibras. E os pequenos produtores seguirão sendo uma maioria muito importante. Estudo da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), com uma amostra de 111 países e territórios e cerca de 460 milhões de propriedades rurais, concluiu que 72% delas têm menos de 1 hectare, 12% têm entre 1 e 2 hectares e 10% entre 2 e 5 hectares. Apenas 6% das fazendas do mundo são maiores que 5 hectares.

Maurício Antônio Lopes, da Embrapa (Foto: Reprodução/Embrapa)

Portanto, é preciso pensar o futuro das pequenas propriedades, que terão de diversificar e especializar sua produção para ganharem a preferência de consumidores cada vez mais exigentes. Alguns exemplos de sucesso são dignos de atenção. Aqueles que visitam o interior da Itália, da França, da Espanha e de Portugal percebem o impacto que a integração entre agricultura de pequena escala, gastronomia e turismo promove nas economias locais, viabilizando negócios, emprego e renda, além da preservação das tradições, dos costumes locais e da paisagem rural.

No Brasil, temos o exemplo do Vale dos Vinhedos, baseado no legado histórico e gastronômico dos imigrantes italianos que chegaram à Serra Gaúcha ainda no século XIX. Ali, a integração entre agricultura, tradição e turismo funciona como estímulo para a economia regional, favorecida pela hospitalidade de seus moradores e pelas belas paisagens rurais, além da infraestrutura turística de qualidade.

E o Brasil tem tudo para ampliar sua participação nesse mercado extraordinário, promovendo, ao mesmo tempo, a inclusão produtiva dos pequenos produtores. Formado pela integração de povos de diferentes origens, nosso país é um “fervedouro cultural” que fascina o mundo com sua música, folclore e festividades populares. E a culinária e os alimentos tipicamente brasileiros poderão se integrar cada vez mais ao turismo, respondendo à busca por sabores e aromas típicos, por experiências sensoriais únicas e memoráveis, pela autenticidade dos produtores artesanais e das práticas e hábitos tradicionais.

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Nossos pequenos produtores têm tudo para se integrarem à onda do multiculturalismo, que vem sendo impulsionada pela globalização, pela internet e pela expansão do turismo internacional. Por isso a importância de organizar o rico leque de saberes, sabores e aromas que marcam a nossa culinária, definem nossa identidade e conformam produtos turísticos em grande demanda. A agricultura que projetou o Brasil como grande exportador de alimentos pode contribuir também para difundir para o mundo a cultura alimentar brasileira e suas possibilidades gastronômicas, com geração de renda e riqueza no campo.

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*Maurício Antônio Lopes é engenheiro agrônomo e presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Este artigo foi publicado originalmente em fevereiro de 2018, na edição nº 388 da Revista Globo Rural.
Source: Rural

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