Parque Nacional de Itatiaia fatura por ano R$ 11,4 milhões com a visitação recebida (Foto: Fred Schinke/Flickr)
Desenvolver atividades de ecoturismo pode viabilizar a preservação de áreas naturais, gerar receita e engajamento da sociedade e do poder público, segundo especialistas do setor. O relato de profissionais de parques e reservas naturais, do Brasil e de outros países, foi um dos simpósios do IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), realizado em Florianópolis (SC), promovido pela Fundação Grupo Boticário.
A experiência da administradora do Parque Nacional Iberá, 138.140 hectares no município de Corrientes, na Argentina, deu exemplo de criatividade na superação de obstáculos. Num primeiro período, quando assumiu a criação do parque, entre 2001 e 2006, a empresa enfrentou muitas críticas da população local e acusação de estar com a intenção de roubar água da preciosa reserva localizada na área, a terceira maior do mundo em água doce. “Mostramos então que também somos criacionistas, não apenas conservacionistas”, contou o espanhol Ignacio Jiménez Pérez, diretor de conservação da empresa Conservation Land Trust, responsável pela criação de 14 parques nacionais no mundo.
Para conquistar os moradores da região do parque argentino, a empresa atraiu 100 apoiadores dispostos a investir em preservação da vida selvagem ali existente, o que levou a uma maior presença de jovens, tanto visitantes do parque como funcionários da reserva. “Este passou a ser um motivo de orgulho e forte identidade dos moradores com sua região”, disse Pérez. A presença do parque trouxe outras conquistas, como o desenvolvimento do comércio do artesanato local e, entre as centenas de espécies de vida selvagem do ecossistema ali preservado, em junho deste ano nasceram dois filhotes de onça, um motivo de comemoração. “Mostramos que podem ser integrados a preservação da natureza e seus ecossistemas completos, o ecoturismo, a comunidade e suas tradições. Nada precisa ser excluído.”
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Ecoturismo é um dos temas do IX CBUC (Foto: Haroldo Palo Jr./Fundação Grupo Boticário)
No Brasil, afirma Peréz, o mesmo modelo de “economia restaurativa” é empregado por ele na maior reserva privada de Mata Atlântica do país, o Legado das Águas, Reserva Votorantim.
Um comparativo entre os dois primeiros parques nacionais criados nos Estados Unidos e no Brasil, o Yosemite, localizado no estado da Califórnia e o brasileiro Itatiaia, situado na divisa entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, buscou mostrar as possíveis falhas de administração que podem inviabilizar o retorno dos investimentos em reservas naturais e reduzir sua atratividade para visitantes. “O público ainda é intruso nos parques brasileiros”, exemplificou Eduardo Pegurier, editor do site de jornalismo ambiental wikiparques. “Em Yosemite, ao contrário, você entra e pensa nas muitas coisas que pode fazer, em vez de entrar e só pensar no que não pode fazer”, disse o jornalista.
Criado em 1890, com 285 mil hectares de área, o parque norte-americano Yosemite tem capacidade de receber 12 mil visitantes por vez para pernoitar em suas acomodações, recebe um gasto médio de R$ 450 por visitante e tem faturamento anual de R$ 2 bilhões, com os cerca de 5,2 milhões de visitantes em 2016.
Por outro lado, o Itatiaia, criado em 1937 e 28 mil hectares, fatura por ano R$ 11,4 milhões com a visitação recebida. “Se tivesse metade da visitação do Yosemite, essa receita seria de R$ 234 milhões, podendo ser revertidos à Prefeitura de Itatiaia cerca de R$ 168 milhões”, calcula Pegurier a respeito do parque brasileiro gerido pelo órgão federal Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICM-Bio).
Outro paralelo de desempenho dos parques nacionais, relativo a 2016, revela que enquanto os Estados Unidos receberam um total de 330 milhões de visitantes em seus parques, o Brasil recebeu apenas 7 milhões no mesmo período.
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*A jornalista viajou a convite da Fundação Grupo Boticário
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Source: Rural