Combinadas, as vendas de Bayer e Monsanto no Brasil somam R$ 15 bilhões anuais. (Foto: José Medeiros/Ed. Globo)
A divisão de agricultura será a mais relevante para os resultados da Bayer no Brasil a partir da consolidação das operações com a Monsanto. Segundo executivos da empresa, pelo menos 80% da receita da companhia no mercado brasileiro virão da divisão CropScience, com os 20% restantes divididos entre farma (medicamentos com receita) e consumer health (medicamentos que podem ser adquiridos sem receita).
Combinadas, as vendas de Bayer e Monsanto no Brasil somam R$ 15 bilhões anuais. Usando esse número como referência, significa que a divisão agrícola contribuiria com pelo menos R$ 12 bilhões, com a expectativa de crescimento para os próximos anos.
“O Brasil será o segundo mercado global para a CcropScience e será o maior motor de crescimento para a empresa. Isso ajuda a explicar a importância estratégica que o Brasil tem”, disse o presidente global da Bayer CropScience, Liam Condon, em entrevista coletiva concedida nesta terça-feira (3/7), em um hotel de São Paulo.
O negócio entre a Bayer e a Monsanto foi concluído em 7 de junho, depois das avaliações de autoridades de defesa da concorrência de diversos países. No entanto, as duas operam de forma separada porque ainda não foi concluída a venda de ativos da Bayer para a Basf, exigência dos órgãos concorrenciais.
Esses desinvestimentos devem ser concluídos em meados de agosto, levando-se em conta que, em junho, havia sido divulgada uma expectativa de dois meses para a conclusão da venda dos ativos. De acordo com os executivos, cumprida essa meta, os resultados financeiros do segundo trimestre, previstos para setembro, devem trazer números combinados de Bayer e Monsanto.
“Esperamos que o faturamento no Brasil cresça neste ano e no ano que vem também. Não poderia revelar um número porque o guidance para o futuro só poderia ser dado depois da integração das duas empresas. Mas o ponto de partida seriam esses R$ 15 bilhões”, disse Condon.
Concorrência
Questionado sobre o futuro da concorrência no mercado de sementes e químicos com a recente onda de consolidação entre grandes companhias, Condon destacou que as autoridades de defesa da concorrência levaram muito tempo para analisar as operações. No caso de Bayer e Monsanto, a obrigação de vender ativos sinaliza que a competição permanecerá forte.
“A motivação dessas vendas é garantir que a competição continue florescendo. As autoridades fizeram um trabalho diligente e todas se sentem à vontade para dizer que a competição vai continuar vibrante”, afirmou Liam Condon.
Sobre a extinção da marca Monsanto depois da integração das operações, o presidente global da Bayer CropScience explicou que a decisão foi tomada depois de um trabalho de auditoria. A conclusão foi a de que a Bayer tem uma aceitação maior no mercado e que, em função desse reconhecimento, a decisão foi manter apenas o nome da empresa alemã.
Já em relação à cobrança de royalties pelas tecnologias, tema que já motivou até ações na Justiça de associações de produtores contra a Monsanto, Condon informou que ainda não teve acesso à totalidade das informações na multinacional americana. Segundo ele, como as operações ainda estão separadas, esses dados são sigilosos.
O executivo disse, no entanto, que a Bayer pretende manter a estratégia de licenciamento amplo, em que as tecnologias são liberadas para outras empresas. “Havia uma preocupação relacionada à mudanças dessa política, mas ela vai continuar”, garantiu.
O executivo chefe de operações da Bayer CropScience no Brasil, Gerhard Bohne, acrescentou que a empresa estará aberta a discussões. “Sempre estamos abertos à discussão com as associações de produtores e vamos estar mesmo depois da fusão”, afirmou.
Mercado de defensivos
Liam Condon disse ainda que os estoques nos canais de distribuição estão em níveis considerados normais pela empresa. Diferente do ano passado, quando houve uma grande quantidade de defensivos, especialmente inseticidas e fungicidas, retida nessa parte da cadeia.
“A situação no ano passado colocou pressão sobre os canais de distribuição. Hoje, a demanda está relativamente robusta e não há problemas de estoques nos canais de distribuição, pelo menos para a nossa empresa”, disse Condon.
Em uma média global, a Bayer considerada uma situação normal o acúmulo de 30% do volume de vendas nos canais de distribuição. Gerhard Bohne, da Bayer CrosScience Brasil, reconhece, no entanto, que esse número não é a melhor referência, já que essas proporções podem variar de acordo com o calendário de safra, a região e a cultura à qual o produto será aplicado.
Baseando-se na agricultura do Brasil, o executivo pontuou que regiões fortes na produção de hortaliças, por exemplo, demandam produtos durante todo o ano. Na produção de grãos do Cerrado, com safra e safrinha, os volumes disponíveis variam mais.
“Em Mato Grosso, o objetivo é chegar no final da safra com estoque muito baixo nas distribuidoras. Menos de 10%, porque não se precisa de produto naquele momento. Chega dezembro, em que estamos com mais de 50% de produto porque ele é usado logo no início de janeiro”, disse Bohne.
Source: Rural