Paraná tem uma das maiores bacias leiteiras do Brasil, maior parte de pequenos produtores integrados a cooperativas.
A greve dos caminhoneiros causou uma perda de 12 milhões de litros de leite em sete dias para cooperativas da região centro-sul do Paraná, onde está a principal bacia leiteira. E depois do retorno às atividades, a captação da matéria-prima tem sido, de início, pelo menos 5% menor que a registrada antes do protesto nacional dos transportadores de carga.
A afirmação é do presidente da Frísia, Renato Greidanus. Os números se referem à entidade, além de Castrolanda, Capal, maiores fornecedoras do produto na região, e outras quatro cooperativas menos representativas, mas que também compõem o que é chamado de “pool do leite”. Em condições normais de produção, a captação diária desse grupo é, em média, de 1,75 milhão de litros.
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“É um leite que foi jogado fora e que não está mais no mercado. Isso vai afetar a precificação do produto no futuro. Isso faz com que você tenha, em algum momento, uma demanda maior por leite e uma oferta menor”, explica o executivo, que conversou com jornalistas durante a Digital Agro, feira de tecnologia agrícola promovida pela Frísia, em Carambeí.
Greidanus explicou que nessa época do ano, em que o Brasil está na entressafra da produção leiteira, a Frísia costuma operar de forma contracíclica, ofertando o produto no período. Mas com a produção menor, esse posicionamento de mercado também ficou prejudicado.
Com os transportadores rodoviários fora das estradas, criadores de gado leiteiro cooperados da Frísia tiveram dificuldades em alimentar os animais. Sem ter como obter os volumes normais de ração, a saída foi alterar a dieta dos rebanhos. A administração de uma alimentação menos rica em nutrientes afetou a produtividade das vacas.
“A partir do momento em que altera a dieta, o animal automaticamente reflete isso em uma produção menor e para que ele recupera a capacidade produtiva, leva muito tempo. Muitas vezes, nem alcança mais”, explica o presidente da Frísia.
Greidanus demonstra preocupação também sobe como a situação gerada pela greve vai refletir na postura do criador de gado leiteiro daqui para frente. Segundo ele, muitos pecuaristas também acabam não voltando a administrar as dietas mais produtivas aos animais. Não querendo correr o risco de situações semelhantes, acabam readequando sua produção.
“Isso aconteceu com alguns dos nossos produtores, mesmo com a gente recomendando para que não fizesse isso. Mas involuntariamente, acaba fazendo”, lamenta o executivo, explicando que o balanço dos nutrientes é feito considerando um determinado potencial produtivo do animal.
De outro lado, o preço pago ao pecuarista pelo litro de leite ficou maior, garante o presidente da Frísia. Parte pela produção menor no período pós-greve e parte pelo encarecimento das importações de leite e derivados pelo Brasil causado pela elevação da taxa de câmbio.
“Já percebemos essa alteração e vamos também repassar para os nossos produtores”, diz Greidanus.
Na área de atuação da cooperativa, o valor médio está em R$ 1,38, com base em um modelo que considera o indicador Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) no Paraná, São Paulo e Minas Gerais e em diferenciais de qualidade da matéria-prima. Os preços praticados atualmente estão 5% maiores em comparação com pelo menos um mês atrás.
Carnes
A falta de transporte afetou também a produção de suínos, diz o presidente da Frísia. Sem a possibilidade de levá-los para os pontos de abate, os animais ficaram represados nas granjas por pelo menos oito dias, também sofrendo restrições na administração das rações.
O abate, em média, é de 3,2 mil unidades por dia. Parte da própria Frísia e parte de Castrolanda e Capal. As três, com forte influência da colonização de origem holandesa no estado do Paraná, operam em conjunto sob o selo Unium, por meio de um sistema de intercooperação, que envolve ações estratégicas conjuntas nos seus segmentos de atuação.
Na visão do presidente da Frísia, a greve agravou a situação de um segmento que já vinha sendo afetado por restrições a mercadorias brasileiras em mercados internacionais. A carne de frango, por exemplo, sofreu sanções da União Europeia e, mais recentemente, a China anunciou taxações contra o produto nacional, alegando perdas à avicultura local.
“Isso tem impacto em todo o setor de carnes e afeta também os suínos”, lamenta Renato Greidanus, acrescentando que essa sucessão de dificuldades vem ocorrendo em um momento favorável as exportações nacionais, em função, principalmente da taxa de câmbio em patamares mais elevados.
*O repórter viajou a convite da Frísia Cooperativa Agroindustrial
Source: Rural