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Um item que já vinha com forte alta ao consumidor, o leite e seus derivados voltou a chamar a atenção de quem foi ao supermercado nos últimos dias. Com inflação acumulada de 21,26% no acumulado de 12 meses – índice que chega a 29,28% no caso do leite longa vida – o aumento de preços dos produtos lácteos ganhou novo fôlego, com a chegada da estação seca e a maior dificuldade da indústria em obter a matéria prima no mercado nacional e internacional. Só em maio, a alta do produto foi de 4,65%, segundo o IPCA, Índice oficial de inflação, medido pelo IBGE.

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Queda na oferta em meio a abandono da atividade por produtores afetados pela pandemia impulsiona cotações no país (Foto: Getty Images)

 

“Houve essa aceleração maior no período mais recente por dois motivos: um é a própria falta de leite, comparado ao mesmo período ano passado. O outro fator é o período que estamos atravessando, que é o auge da entressafra. Junho é o mês de menor produção no Brasil e obviamente é mais um fator para que haja uma pressão altista nas cotações”, explica o pesquisador do Centro de Inteligência do Leite da Embrapa Gado de Leite (Cileite), Glauco Rodrigues Carvalho, ao destacar uma queda de 10,3% na captação de leite nacional nos primeiros três meses do ano – maior queda da série histórica, iniciada em 1997.

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A menor disponibilidade de matéria-prima para a indústria de laticínios está relacionada a fatores que remontam a fase inicial da pandemia de Covid-19, quando houve forte aumento na demanda em um primeiro momento, seguida de queda abrupta no consumo com o fim dos programas de auxílio em um cenário de desemprego recorde e perda do poder de compra da população. Já no campo, o aumento nos custos reduziu a produção no Brasil e nos principais países fornecedores no mercado internacional.

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“A rentabilidade do produtor caiu e da indústria também caiu. Então a cadeia inteira perdeu margem em 2021, foi um período muito ruim e abrimos 2022 com muito pouco leite no mercado justamente porque alguns deixaram a atividade, outros abateram seus animais e outros de fato reduziram a produção”, observa o pesquisador da Embrapa. Em Santa Catarina, por exemplo, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faesc) estima que 9 mil produtores tenham abandonado a atividade durante a pandemia.

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Na indústria, Glauco destaca que os efeitos da menor disponibilidade matéria-prima foram o aumento da capacidade ociosa, inclusive com o fechamento de algumas unidades fabris, e aumento dos preços ofertados ao produtor. “Diversas empresas estão operando com metade da capacidade de produção porque estão com pouco leite e o reflexo foi a necessidade de ter um repasse maior”, completa o pesquisador.

A retomada da atividade econômica após o avanço da vacinação contra a Covid-19 no país também tem contribuído para a alta dos preços, segundo explica a analista da Scot Consultoria, Jéssica Olivier. “O pessoal está sentindo, sim, uma melhora no consumo de lácteos no país, ainda que singela, e a expectativa e de que continue melhorando. Então, mesmo com essa alta de preços no atacado e no varejo, o escoamento não está piorando – muito pelo contrário, ele foi melhorado nesse último mês”, pontua Jéssica.

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Com pouca oferta e demanda dando sinais de recuperação, as perspectivas são de novas altas nos preços dos produtos lácteos ao longo dos próximos meses, segundo os dois especialistas. “A gente ainda está no período seco a captação deve continuar piorando e a expectativa é de aumento de preços tanto ao consumidor quanto no mercado spot, entre as indústrias”, explica Jéssica.

“Estamos no auge da nossa entressafra e só vamos começar a ter produção aumentando na média Brasil a partir de agosto, setembro e outubro. Até lá o mercado deve seguir muito apertado, com a capacidade ociosa da indústria gerando uma disputa muito grande entre as empresas o que acaba levando a uma alta mais generalizada”, completa o pesquisador da Embrapa.
Source: Rural

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