A fabricante Scania vê cenário otimista para a demanda por caminhões pelas atividades relacionada ao agronegócio, no próximo semestre, e espera pelo menos manter, neste ano, a participação do setor em suas vendas no Brasil. A empresa, que completa 65 anos no país nesta semana, está em um ciclo de investimentos que vem desde 2021 e deve totalizar R$ 1,4 bilhão até 2024. Entre 2016 e 2020, a companhia investiu R$ 2,6 bilhões.
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Um dos destinos dos investimentos é a ampliação da fábrica de motores na planta industrial de São Bernardo do Campo (SP), para atender o padrão Proconve P8 (Euro 6) de controle de emissão de poluentes por parte de veículos automotores. Além disso, a empresa está construindo um novo centro de pesquisa, uma estação de tratamento de efluentes (ETE) e realizando testes com caminhões elétricos para o mercado latino-americano.
"É um sinal de que acreditamos no ecossistema de transporte do país", disse Christopher Podgorski, CEO da Scania para a América Latina, em entrevista coletiva, na fábrica, no ABC Paulista.
Caminhão da Scania usado no setor de cana-de-açúcar, um dos setores em que a empresa atua no segmento off road (Foto: Scania)
No agronegócio, a Scania vende caminhões principalmente para o transporte de grãos e carnes, além dos setores de cana e florestal – que, junto com a mineração, integram o segmento fora de estrada. Em linha com o mercado de caminhões de uma forma geral, o agro responde por cerca de 40% do que é vendido pela companhia no Brasil.
"Temos trabalhado muito com clientes nossos que são agricultores e transportadores. A gente tem uma interação muito grande com o segmento para acompanhar o que acontece e ser um fornecedor confiável", explicou Silvio Munhoz, diretor de vendas de Soluções da Scania no Brasil.
Segundo Munhoz, apesar das adversidades climáticas que provocaram perda de parte da safra de grãos, a perspectiva é de crescimento da produção, o que tende a demandar mais transporte. Além disso, a companhia aposta em uma antecipação de compras por conta da entrada em vigor do Proconve P8/Euro 6.
"O cliente vem sinalizando isso, já. Perspectiva positiva no segundo semestre, o que, para nós, é interessante, porque estamos gradativamente recuperando nossa capacidade de produção", disse. "O agronegócio como um todo aponta para um mercado positivo e crescente nos próximos anos, tanto no fora de estrada como no de estrada", acrescentou.
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Alex Nucci, diretor da área de Soluções de Transporte, reforçou a expectativa otimista em relação ao agronegócio. Na visão do executivo, mesmo com a alta dos custos de produção e a volatilidade da taxa de câmbio, o setor teve um bom desempenho, estimulando a demanda por capacidade de transporte.
Nucci reconheceu que a alta das taxas de juros trouxe algum impacto nas vendas de caminhões, especialmente entre clientes pequenos e médios. Mas avaliou que não foi algo significativo para o resultado da companhia.
"Não notamos uma queda significativa nas vendas voltadas para o agronegócio, justamente porque o cliente de médio e grande porte continua movimentando carga. Se a carga não cai e continua sendo necessário caminhões, mesmo tendo a ferrovia para movimentar, a gente não notou uma queda expressiva dentro do segmento", explicou.
Transporte de grãos é um dos principais segmentos de atuação da Scania no agronegócio (Foto: Scania)
Recuperar mercado
As vendas para o agronegócio no segundo semestre são uma das apostas para recuperar mercado, já que os primeiros meses do ano foram de queda nas vendas. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a Scania vendeu 3,366 mil caminhões de janeiro a maio, um volume 47,2% menor que o registrado no mesmo período no ano passado, quando foram vendidos 6,375 mil.
"A gente acredita que a participação (do agronegócio nas vendas) permaneça nesse segundo semestre, o que vai gerar um volume bastante grande de venda. Suficiente para garantir uma boa recuperação", disse Silvio Munhoz.
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Um dos principais motivos apontados para a queda nas vendas na primeira metade do ano foram os problemas logísticos e a falta de semicondutores – situação que atingiu diversos segmentos da indústria. A perspectiva para o segundo semestre é de normalizar a entrega dos caminhões já vendidos, que chegou a atrasar de quatro a cinco meses.
De acordo com a fabricante, atualmente, os prazos estão entre 12 e 14 semanas. A tendência é de normalização. A média da empresa é de oito a dez semanas entre o pedido e a entrega do veículo.
Modelo especial
Série especial comemorativa dos 65 anos da Scania no Brasil. Apenas 265 unidades serão vendidas (Foto: Raphael Salomão/Ed. Globo)
Em comemoração dos 65 anos no Brasil, a Scania anunciou o lançamento de uma série especial. São três versões, duas com 450 cavalos de potência (4 x 2 e 6 x 2) e uma com 540 cavalos (6 x 4), com assessórios exclusivos e pintura estilizada. Serão vendidas 265 unidades, com pedido limitado a duas unidades pode CNPJ.
A promessa da fabricante é de condições diferenciadas de financiamento, por meio da financeira própria da companhia. Para quem comprou outro modelo, será vendido, em separado, um kit que permite reconfigurar o caminhão com o tema da edição comemorativa.
A empresa também reforça sua aposta nos caminhões movidos a gás natural e biometano, cujas vendas já superaram as 600 unidades. "Tínhamos uma limitação de produção. Essa limitação está sendo eliminada e isso vai nos dar o potencial de vender tanto quanto o mercado pedir. Não temos um mix pré-determinado para o gás", disse Munhoz.
O desafio ainda é expandir o uso da tecnologia, garantindo a disponibilidade de uma rede que seja capaz de abastecer caminhões com a velocidade necessária. Neste cenário, o agronegócio também é visto como parte da solução, pelo seu potencial de produção de biometano, seja com o uso de dejetos de animais, seja com resíduos de cana-de-açúcar.
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"Temos que repensar toda a cadeia de valor, trabalhar junto com o agronegócio. Eles vão ser os produtores do insumo", afirmou Christopher Podgorski. "Sabendo do potencial do biometano, passando pelo gás natural como transição, o gás vai responder por 15% do total", acrescentou, citando estudo apresentado durante o evento.
"As grandes empresas de proteína animal são grandes integradores dos fornecedores e passam a ser seus integradores na questão da energia. Existe uma motivação por parte dessas empresas para que comecem a produzir não só o biogás para a geração de energia elétrica para na geração de biometano para abastecimento das frotas", acrescentou Silvio Munhoz.
Podgorski disse ainda acreditar que a sustentabilidade no transporte não estará vinculada a apenas uma tecnologia. Sobre a eletrificação, afirmou que deve demorar mais para se consolidar. Depende, em parte, da disponibilidade de energia limpa para abastecer os veículos e, em parte, de tecnologia que torne o caminhão elétrico economicamente viável.
"A matriz energética do Brasil é uma das mais limpas do planeta. Isso é uma vantagem. A estratégia da Scania na Europa, que não tem motivo para, no seu tempo, não ser seguida no Brasil e na América Latina é: cada vez que oferecermos um veículo elétrico, juntamente vai uma solução de carregamento. E é fundamental que essa solução seja também com fontes limpas", disse ele.
Source: Rural