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Depois de uma safra marcada por adversidades dificuldades climáticas em 2021/2022 – o que favoreceu a ocorrências de doenças e pragas como percevejos e cigarrinhas – a safra de milho de inverno 2022/2023 será decisiva para a rentabilidade do produtor. É o que apontam as estimativas divulgadas pela Agroconsult, com base nas informações coletadas durante o Rally da Safra, caravana que no início deste ano percorreu os principais polos agrícolas do país para estimar a produtividade das lavouras e a produção nacional.

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lavoura-de-milho-chuva-arco-iris-graos (Foto: José Medeiros/Ed. Globo)

 

“A cigarrinha é a praga talvez mais desafiadora dos últimos anos. A mais recente e a que mais está impactando o campo. A gente ouviu muito relatos de que ela não sobreviveria às geadas e ano passado a gente teve duas, três geadas seguidas e ela continuou no campo”, observa o coordenador técnico do Rally, Valmir Assarice, ao explicar que o inseto que é uma praga relativamente nova e que os produtores têm combinado diferente técnicas de manejo para conviver com ela com a menor perda possível.

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Os números de infestação registrados pela consultoria, contudo, são “assustadores”, nas palavras de Assarice. Em Mato Grosso do Sul e no oeste paranaense, o percentual de lavouras infestadas saltou de 2% em 2019 para 69% e 45% este ano, respectivamente.  “E essa é a realidade do Brasil inteiro. Se pegarmos os dados de Mato Grosso, a gente já sai com esses números de 50% a 70% de infestação de cigarrinha nas lavouras”, conta o coordenador do Rally da Safra, André Debastiani. Segundo ele, esta foi uma safra particularmente mais difícil de mensurar devido às inúmeras e diferentes intempéries que atingiram o país.

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“Uma safra que eu diria que a gente perdeu no caminho pelo menos 40 milhões de toneladas se a gente pensar no que a gente deixou de produzir em termos de soja e milho e essa irregularidade que a gente viu no campo trouxe um desafio muito grande para a nossa equipe que é conseguir mensurar o que aconteceu em cada uma das regiões”, destacou Debastiani ao lembrar que o potencial produtivo muito alto devido ao bom calendário de plantio da safra de verão, o que permitiria a semeadura do milho de segunda safra também no momento certo em meio a um aumento de mais de 10% na área plantada.

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“Porém esse ano passamos por alguns problemas climáticos que limitaram a nossa safra”, pondera o coordenador do Rally. Enquanto na safra de verão a seca castigou as lavouras de soja do Sul do país, a segunda safra de milho, plantada em janeiro, a falta de chuvas passou a comprometer a produtividade no Centro-Oeste. “Se a gente olhar para os meses de abril, por exemplo, que a gente costuma ter ainda bastante chuva no Centro-Oeste ou alguma chuva este ano a gente não teve quase nada e isso trouxe bastante consequências em termos de produtividade”, completa Debastiani.

Recuperação abaixo do esperado

A previsão inicial da Agroconsult, divulgada em janeiro, era de uma safra de 96,7 milhões de toneladas de milho na safra de inverno 2021/2022, número corrigido para 89,3 milhões após a expedição. Apesar de ter ficado abaixo das expectativas iniciais, o resultado ainda é 46% superior à safra 2020/2021, quando houve quebra de produtividade no país.

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“O Paraná é o Estado que trouxe mais decepção para gente quando analisamos os dados. Esperávamos muito mais, mas foi um Estado que acabou sofrendo com uma série de intempéries e isso acabou tirando, sim, bastante produtividade”, pontuou Debastiani. Além de sofrer com granizos e ventos fortes, o Paraná também apresentou um dos plantios mais tardios desta temporada, com apenas 28% da área esperada semeada dentro do calendário ideal na região Norte do Estado.

“Hoje o fator preponderante que determina o quanto que os Estados estão perdendo diz respeito ao calendário do plantio, quanto mais cedo você plantar mais você está fugindo dessa janela de risco e isso é algo que vamos ver daqui pros próximos anos, o produtor querendo cada vez mais adiantar o plantio seja trabalhando com variedades de ciclo mais curto ou com mais maquinário para fugir dessa janela de risco”, explica o coordenador do Rally. No Médio-Norte do Mato Grosso, por exemplo, as lavouras mais tardias, plantadas após 21 de fevereiro, tiveram produtividade 14% inferior em relação a 2021/2022 enquanto as mais precoces, semeadas até 5 de fevereiro, tiveram desempenho 8% superior na mesma base de comparação.

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Plantar mais cedo, contudo, tem um custo. As variedades mais precoces são justamente as mais sensíveis ao ataque da cigarrinha. “A questão de pragas e doenças a gente vai ter que aprender a conviver com elas, elas vão estar aí. Até porque algumas das pragas não estão só no milho. O percevejo que era um problema gravíssimo na soja está lá no milho também e a cigarrinha vai pra pastagem e depois volta pro milho, então vamos ter que conviver. Esse é o outro lado da moeda de produzir agricultura subtropical. Tem clima o ano inteiro para fazer três safras e tem clima pra praga o ano inteiro também e vamos ter que aprender a conviver com isso”, comenta o presidente da Agroconsult, André Pessôa.

Cultura decisiva

Mesmo com o custo alto e com a forte pressão de pragas e doenças sobre o avanço do plantio do milho, Pessôa destaca que o cereal de segunda safra, plantado em janeiro, deve ser decisivo para a rentabilidade do produtor nos próximos anos, com um retorno 40% maior que a soja semeada em setembro. “O milho está com preços excepcionais apontados para o ano que vem e quando a gente olha para esses preços e mesmo considerando o aumento de custo de produção, o milho via deixar mais resultado do que a soja em 2022/2023”. Segundo ele, se não fosse o aumento da rentabilidade do milho de segunda safra, a lucratividade do produtor pode ficar comprometida.

 

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Com isso, a perspectiva é de que o milho safrinha torne-se a lavoura principal do próximo ano, ditando o planejamento da safra. “À semelhança do que ocorre com o algodão agente via ver que todo o ajuste operacional é ditado pela lavoura que deixa mais resultado, para quem planta algodão já é assim, o produtor planta a soja pensando no calendário do algodão. O que agente está identificando nesta safra é que vai acontecer a mesma coisa com o milho”, avalia Pessôa ao destacar, entre os fatores para essa transformação, a maior demanda pelo cereal.

“É um mercado que está crescendo horrores. O mercado interno brasileiro há dez anos era um mercado de 50 milhões de toneladas e hoje é de 75 milhões de toneladas. Cresceu 50% em dez anos e podemos dizer que o etanol de milho está só começando. E isso não foi feito em detrimento da capacidade de exportar. A gente exportava 20 milhões de toneladas e agora somos exportadores de mais de 40 milhões e amanhã seremos de 60 milhões de toneladas”, observa o presidente da Agroconsult ao lembrar que o Brasil já deu os primeiros passos para exportar o grão para a China, país que antes importava de EUA e Ucrânia e hoje enfrenta problemas para manter seu fornecimento em meio à guerra no leste europeu.

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“Já foi assinado o protocolo sanitário para exportar para a China, não estamos exportando ainda, mas faltam algumas semanas para a gente começar essa exportação esse mercado que nos últimos dois anos girou acima dos 20 milhões de toneladas e ano que vem deve se aproximar de novo dos 30 milhões de toneladas de importação”, conclui Pessôa.
Source: Rural

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