Às vésperas da virada do calendário para o ciclo 2022/2023, a indefinição sobre as condições do Plano Safra ainda é motivo de preocupação os produtores rurais. Em um cenário de aumento de juros e custos de produção maiores, representantes do setor reivindicam aumento dos volumes de crédito e taxas acessíveis dos financiamentos, enquanto o governo federal fala apenas na necessidade de um Plano Safra "robusto".
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Em meio a custos altos e juros elevados, indefinição do crédito rural aumenta as preocupações para a Safra 2022/2023 (Foto: Arquivo pessoal)
As regras do crédito rural para 2022/2023 devem entrar em vigor a partir de 1º de julho, data oficial de início do novo ano-safra. No entanto, diante da indefinição dos montantes e prazos, há quem acredite na possibilidade de atrasos no anúncio das medidas do Plano Safra.
O superintendente de Agronegócios do banco Santander Brasil, Ricardo França, disse, nesta terça-feira (21/6), que nunca houve uma situação como a atual, em que, nos últimos dias de junho, ainda não há uma definição sobre o crédito para a safra seguinte. Em sua visão, o Plano Safra está perdendo a importância que tinha anos atrás no financiamento da agropecuária
"A gente está numa expectativa gigantesca desse novo Plano Safra, que a gente tem certeza que vai atrasar. E o pior é que não temos insight nenhum de como vem", pontuou o executivo, durante entrevista coletiva de apresentação dos resultados do Rally da Safra, expedição organizada pela consultoria Agroconsult. "Temos uma perspectiva de aumento da exigibilidade, para o pequeno e médio. Para os grandes, temos ressalvas: ou manutenção, ou até queda", acrescentou.
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O ministro da Agricultura, Marcos Montes, tem ressaltado a necessidade de um Plano Safra que atenda às necessidades do mercado, em que pese a dificuldade orçamentária do governo para garantir a equalização de taxas de juros nas linhas de crédito oficial. Em sua visão, seria preciso algo entre R$ 20 bilhões e R$ 22 bilhões.
Na safra 2021/2022, o montante destinado para equalização de juros foi de R$ 13 bilhões, mas ao longo dos meses, a capacidade do governo de bancar as diferenças de taxa foi ficando reduzida, levando à suspensão de financiamentos subvencionados com recursos do Tesouro Nacional.
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Em um seminário para discutir a importância do financiamento para o crescimento da economia brasileira, na Câmara dos Deputados, o deputado José Mário Schreiner, vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), reforçou a necessidade de mais recursos para subsidiar os juros no crédito rural.
“O crédito rural é o combustível do setor, principalmente para os pequenos produtores, que representam 70% da classe. Precisamos trabalhar para garantir o acesso desses produtores ao financiamento”, disse ele, segundo o divulgado pela CNA. “Estados Unidos e alguns países da Europa estão ampliando suas áreas de cultivo e, mais do nunca, o Brasil precisa se posicionar internamente, mas também olhando para o cenário mundial”, acrescentou.
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Também na terça-feira (21/6), o presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), deputado Sérgio Souza (MDB-PR), reuniu-se, em audiência, com o ministro da Agricultura, Marcos Montes. O encontro constava da agenda oficial do ministro.
"Estamos muito preocupados e vim trazer essa preocupação ao ministro", disse o deputado, em uma mensagem de vídeo, encaminhada pelas redes sociais. "Precisamos de um Plano Safra que possa atender os pequenos e médios produtores em sua totalidade e com taxas de juros mais acessíveis", acrescentou.
Antes da audiência com o ministro, na reunião semanal da FPA, Souza disse ter a informação de que o Plano Safra poderia ser lançado pelo Ministério da Agricultura no próximo dia 29 de junho. Em conversa com jornalistas, ressaltou a preocupação dos parlamentares ligados à agropecuária com a situação. Segundo ele, o governo tem um papel fundamental para garantir a segurança dos investimentos na agropecuária brasileira.
"O aumento do custo de produção está em toda a cadeia e quem está pagando essa conta são o produtor e o consumidor. Essas duas personalidades pagam as contas e quem está ganhando dinheiro são terceiros que, muitas vezes, não estão nem no Brasil", disse.
Source: Rural