Skip to main content

A Associação dos Produtores de Carne do Pampa Gaúcho busca firmar parcerias com frigoríficos para processar a carne bovina com a marca coletiva de identificação da Apropampa. Os pecuaristas da região tiveram o reconhecimento do selo de Indicação de Origem pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em 2006, mas, desde então, discutem com as indústrias o uso efetivo e contínuo do selo para agregação de valor à carne produzida no bioma. Nessa campanha, a Apropampa tem o apoio da Embrapa, por meio da unidade Pecuária Sul, instalada em Bagé (RS).

LEIA TAMBÉM: Boi: pesquisa aponta aumento nas médias de ganho de peso e arrobas produzidas

O selo identifica a carne de animais criados no Pampa gaúcho, facilitando o seu reconhecimento no mercado por parte dos consumidores. Em nota, o presidente da Apropampa, Custódio Magalhães, disse que a combinação entre a variedade de pastos naturais e cultivados, o clima, as raças taurinas e sintéticas criadas e o manejo utilizado são os grandes diferenciais que formam a singularidade da carne do Pampa. Assim, para ter o selo, todas as etapas da produção devem se dar no bioma, apenas com a possibilidade de abate fora do Pampa, mas ainda assim dentro do Rio Grande do Sul.

“É 100% do Pampa. Os animais têm de ser nascidos e criados na região. Queremos nos comunicar com o consumidor. Para que ele enxergue o selo e reconheça o que há por trás”, disse o presidente da entidade que reúne cerca de 250 pecuaristas.

Esteio – Rio Grande do Sul – Brasil. Expointer 2018. De 25/8 a 2/9. Fotos © Marcelo Curia (Foto: Marcelo Curia/Ed. Globo)

 

 

Além da Embrapa, o trabalho de valorização da carne bovina do Pampa envolveu o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e o governo do Estado do Rio Grande do Sul. Segundo Danilo Sant’Anna, pesquisador da Embrapa Pecuária Sul (RS), além de diferenciar a carne, o objetivo da distinção é contar toda a história e significado que existe por trás do produto final.

“O Pampa é um ambiente naturalmente campestre, diverso e muito propício à atividade pecuária pastoril. E a figura do gaúcho, bem como sua cultura e tradição, se moldou por esse ambiente e por essa vocação para a pecuária. Nós não desmatamos para produzir, temos o ambiente propício, e a Apropampa pretende comunicar isso aos seus consumidores. Fazer essa parceria com a Embrapa qualifica a produção e promove a diferenciação do produto, possibilitando incremento de renda ao longo de toda a cadeia.”

saiba mais

Criadores de zebu acionam os de angus por rótulos de cortes de carne

 

Segundo o pesquisador Danilo Menezes Sant'Anna disse à Globo Rural nesta segunda (13/6), o selo de 2006 foi o primeiro concedido no país pelo INPI para o setor de carnes, mas não teve muito efeito porque, diferentemente dos selos de origem para vinhos, por exemplo, a cadeia da pecuária de corte é mais complexa e o produtor não tem o controle do processo industrial, que fica a cargo dos frigoríficos. Em 2020, foi criada a marca coletiva Agropampa para ser agregada ao selo e houve abates no Frigorífico Famile, de Pelotas, mas não houve continuidade no processo.

Sant’Anna acrescenta que a carne com o selo já esteve no mercado umas três vezes, mas faltaram campanhas de marketing para informar o consumidor sobre a identidade dessa carne. Segundo ele, para ter o selo, além de ser totalmente produzida no Pampa, a carne precisa seguir um protocolo de produção que inclui rastreabilidade, animais exclusivamente de corte com sangue predominante de raças taurinas (hereford, angus, brangus e braford) criados com sistemas de alimentação predominantemente a pasto.

“Não dá para esperar uma valorização imediata da carne ou um bônus nos frigoríficos. Primeiro, é preciso que o consumidor reconheça a identidade da carne produzida no Pampa e seus benefícios para gerar demanda e, então, a agregação de valor.”

A também pesquisadora da Embrapa Elen Nalério diz que a carne produzida nos campos naturais do bioma Pampa tem perfis de gorduras benéficos aos consumidores, sendo mais saudável do ponto de vista nutricional. Além do importante fornecimento de nutrientes como ferro e vitaminas do complexo B, a carne desses animais apresenta maiores teores de ômega 3, se comparada aos criados em confinamento, segundo as pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Ciência e Tecnologia de Carne da unidade da Embrapa de Bagé.

 

saiba mais

Touros de rodeio do Brasil são vendidos por R$ 1 milhão

Suspensões de frigoríficos derrubam preço do boi-China e pecuaristas têm prejuízo

 

“No Pampa, a alimentação dos animais, composta em sua maior parte pela rica variedade dos pastos naturais, dá origem a um produto com perfil de gordura mais saudável, já que possui mais ômega 3 do que ômega 6. O sistema de criação e terminação do animal interfere diretamente nas características da carne. Entre um extremo, de produção extensiva, somente com pastagens, até o outro extremo, de confinamento total, com alimentação por grãos, há a formação de produtos totalmente diferentes”, diz ela.

Segundo Nalério, os bovinos são animais naturalmente prontos para fazer a digestão de fibras, de pasto e, para fazer a digestão de grãos, precisam passar por uma adaptação. Essa variação de alimentação faz com que sejam formadas gorduras totalmente diferentes, e isso interfere também no sabor e no aroma do produto. O fato de o animal a pasto caminhar mais que o confinado também gera diferenças na carne, na visão da pesquisadora. “O animal no pasto caminha mais, e precisa oxigenar a musculatura, o que aumenta o teor de mioglobina que origina a cor vermelha mais intensa na carne.”

Ela ressalta que não há como afirmar que a carne produzida no Pampa é melhor, já que envolve fatores subjetivos, mas dá para garantir que é diferenciada porque a alimentação do gado nos campos nativos pode formar um tipo de gordura com melhor qualidade nutricional.

Estudos apontam a existência de cerca de 450 espécies de gramíneas e 150 de leguminosas, muitas delas com enorme potencial forrageiro, no Pampa gaúcho. Para o também pesquisador da Embrapa José Pedro Trindade, o manejo do campo nativo é o segredo para o desenvolvimento de uma pecuária rentável, com qualidade e que preserve o meio ambiente.

O rebanho gaúcho de corte é de aproximadamente 9 milhões de cabeças, sendo que de 85% a 90%, segundo Sant’Anna, estão no Pampa. O Estado abate anualmente cerca de 2 milhões de cabeças, a maioria originária do Pampa.

Quer ter acesso a conteúdos exclusivos da Globo Rural? É só clicar e assinar!​
 
Source: Rural

Leave a Reply