Skip to main content

Com obras aceleradas em todas as unidades industriais e um investimento neste ano de R$ 512 milhões, a LongPing High-Tech, multinacional de sementes com sede em Cravinhos (SP), prevê quintuplicar sua capacidade de produção, passando de 4 milhões para 20 milhões de sacos. O objetivo é assumir a liderança no mercado de sementes de milho. As obras devem ser concluídas até setembro.

Cada saco com 60 mil sementes é suficiente para semear um hectare. Para se ter uma ideia do tamanho dessa produção projetada pela LongPing, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em seu último levantamento, em maio, estimou uma área plantada de milho no país de 21,49 milhões de hectares.

LEIA TAMBÉM: Globo Rural publica 4º ranking GPTW com as Melhores Empresas para Trabalhar no Agro

“Já estávamos com uma demanda reprimida para atender todos os clientes. Tanto que temos parcerias com terceiros para produzir o volume necessário. O Brasil caminha para uma área plantada de 30 milhões de hectares de milho e a expansão vai ocorrer em Mato Grosso e no Nordeste. Por isso, estamos investindo forte no Mato Grosso para atender o Centro-Oeste, Maranhão, Piauí, Tocantins e Pará”, explicou o presidente da LongPing, o catarinense Aldenir Sgarbossa, à reportagem da Globo Rural, durante visita à sede que fica em um terreno de 24 hectares a 15 km de Ribeirão Preto. Na área, a empresa de capital chinês mantém um dos laboratórios mais modernos de biotecnologia de sementes da América Latina, além de escritórios, áreas de testes e câmaras frias.

Sgarbossa afirma que a LongPing, uma das mais de 2.000 empresas pertencentes ao conglomerado econômico da China Citic Group, tem pressa. “Vamos crescer 10 anos em um ano e meio, usando a filosofia chinesa de redução de desperdício, maximização de processos, ganho de fluxo e investimento em pessoas.” 

saiba mais

App vende alimentos com até 70% de desconto para evitar desperdício

GranBio planeja dobrar produção em Alagoas e mira mercado de aviação

 

O crescimento não se limita às sementes de milho, um mercado de cerca de R$ 7,9 bilhões, segundo o último estudo da Spark Inteligência Estratégica. Em janeiro de 2023, chegam às mãos do agricultor brasileiro as primeiras sementes híbridas de sorgo das marcas Morgan e Forseed, que estão sendo produzidas na unidade de Jardinópolis (SP). E na safra 2025/2026 devem estrear as primeiras sementes de soja, que a LongPing está desenvolvendo no Brasil em parceria com uma universidade chinesa para brigar por espaço no maior mercado agrícola nacional.

Embora haja também pesquisas com sementes de arroz no Brasil, não há interesse em investir em sementes para o mercado brasileiro, considerado pequeno pelos chineses.

LongPing planeja quintuplicar produção de sementes de milho e assumir liderança do mercado nacional (Foto: Alternative Heat/CCommons)

 

Sede global

A partir de Cravinhos, a companhia pretende expandir a venda de sementes para os outros países. A pioneira Yuan LongPing High-Tech Agriculture, líder mundial de mercado em híbridos de arroz, passa a atender os clientes apenas dentro da China. A LongPing brasileira iniciou sua internacionalização na metade de 2021 e já possui centro de pesquisas e trabalho de adaptação dos híbridos de milho nos Estados Unidos, na própria China, Paraguai, Argentina e Chile. No Paraguai, as vendas de sementes de milho começam este ano. Na sequência, deve ser aberto o mercado norte-americano.

Além das Américas, o projeto de expansão tem como alvo os mercados da Tanzânia e Gana, na África. “Queremos levar para esses países a expertise da LongPing em sementes de milho e também soja. Lá as condições climáticas, temperatura e altitude são semelhantes às brasileiras e bem favoráveis para o desenvolvimento da agricultura. Queremos ser facilitadores desse processo, ensiná-los a plantar e produzir grãos para que no futuro também sejam fornecedores da China”, afirma Sgarbossa.

saiba mais

Empresas poderão manter nomes de produtos europeus após acordo Mercosul-UE

Comércio online registra aumento de vendas de insumos agrícolas

 

Questionado por que a escolha desses países entre tantos da África, o executivo diz que, além das condições climáticas favoráveis, ambos prezam a proteção da propriedade intelectual. Representantes do governo e do setor agro de Gana e Tanzânia visitaram a sede da LongPing em Cravinhos neste ano. A empresa já iniciou os testes de adaptação de híbridos nos dois países e deve firmar a parceria em breve. “A África será a bola da vez na produção agrícola no futuro e nós queremos participar e financiar essa mudança.” 

Paralelo aos investimentos em pesquisas e nas estruturas físicas para elevar a produção, a LongPing, que hoje paga royalties pelo uso da biotecnologia de terceiros (Corteva, Bayer e Syngenta), também investe no desenvolvimento de seus próprios traits e na atração de startups chinesas focadas em inovações na área agrícola para desenvolver soluções dentro de suas unidades no Brasil no programa Parque de Ciência Agrícola Brasil-China, lançado há menos de um mês.

A primeira a chegar foi a AEvision, empresa chinesa de drones inteligentes totalmente autônomos. Os equipamentos com tecnologia de detecção de ambiente binocular e bico de pulverização de névoa já estão sendo testados na sede em Cravinhos.

Custos

Sgarbossa diz que os altos custos de produção que tiram o sono do produtor também impactaram o preço das sementes, mas não houve como repassar o aumento total. “O fertilizante subiu muito e em alguns campos de sementes tivemos que fazer até 18 aplicações de defensivos por conta da cigarrinha. Cortamos em outras áreas porque para repassar todo o custo seria preciso quadruplicar o preço das sementes.” O executivo não revelou o percentual de aumento adotado pela empresa.

Nos últimos dois anos, a companhia identificou um crescimento expressivo das compras com pagamento à vista. “De um ano para o outro, essa modalidade cresceu 20%”, afirma o presidente, citando como fatores desse crescimento o medo do agricultor de faltar sementes e a garantia de comprar os melhores híbridos.

Na região sul, 70% das vendas da LongPing são para cooperativas e 30% para distribuidores. Já em Mato Grosso, metade é de venda direta aos produtores e a outra metade se divide entre cooperativas e distribuidores. 

Aldenir Sgarbossa, presidente da LongPing (Foto: Gladstone Campos)

 

Obras

As obras de expansão mais expressivas da empresa ocorrem em Paracatu, cidade mineira que já tem a maior estrutura entre as unidades da LongPing e vai receber mais prédios de beneficiamento de sementes de milho, tratamento industrial, ensaque de big bag e câmaras frias. Outra planta de beneficiamento está em construção em Primavera do Leste (MT), visando atender aos produtores do Centro-Oeste e do norte e nordeste do país.

As unidades em Araguari (MG), Jardinópolis (SP), Sorriso (MT) e Rolândia (PR) também estão em obras, assim como a sede em Cravinhos, que vai receber um prédio de escritórios de três andares, além de quadras e estruturas para o lazer dos funcionários. Em todas as unidades estão sendo instalados painéis fotovoltaicos, que vão produzir 13 GWh de energia elétrica, que será 100% aproveitada.

A LongPing chegou ao Brasil em dezembro de 2017 como terceiro maior player de sementes híbridas de milho, com a compra por cerca de US$ 1,1 bilhão da operação de sementes da Dow AgroSciences Sementes e Biotecnologia Brasil. Nos dois primeiros anos, investiu R$ 140 milhões. Passou de três estações de pesquisa em 2018 para sete no ano passado e neste ano agrega as unidades internacionais.

saiba mais

Programa desafia startups a mostrar inovações para o setor sucroenergético

 

A companhia instalada no Brasil responde por cerca de 5% do faturamento do Citic Group, que tem receita anual de US$ 48 bilhões, negócios em vários setores, mas apenas um braço agrícola, e se tornou em 2020 a 115ª maior empresa no ranking de fortunas globais (era a 415ª em 2009). 

Sgarbossa diz que, além de herdar os sete bancos de germoplasma de milho da Dow, a LongPing recebeu nove outros bancos de germoplasmas também do Citic Group. A marca Morgan, que acaba de completar 10 anos, veio da Down. Já a Forseed foi lançada em maio de 2018. As duas marcas atendem a produtores de alto e médio investimento, oferecem cerca de 25 híbridos cada uma, têm equipes próprias de marketing e vendas e são concorrentes, mas a “canibalização”, segundo Sgarbossa, não passa de 5%.

Com a expansão das estruturas, a LongPing projeta dobrar o número de funcionários, que chegou no ano passado a mais de 5 mil pessoas, entre colaboradores efetivos e safristas. Nas vagas efetivas, os empregos vão crescer de 740 para 1.100 pessoas.

A empresa, que criou o Comitê Coronavírus e estabeleceu protocolos rígidos de combate à Covid em suas unidades desde março de 2020, seguindo diretrizes chinesas, ainda mantém o comitê, a separação por placas acrílicas no refeitório e a máscara, que é obrigatória como proteção. “Em algum momento, vamos liberar a máscara, mas nossos protocolos foram tão eficazes que não registramos nenhuma morte entre os funcionários e apenas um caso grave.”
Source: Rural

Leave a Reply