O peixe-leão é um predador marinho venenoso que chegou recentemente à costa brasileira. O comportamento do animal carnívoro ameaça ao menos 29 espécies, e pode causar impactos para a pesca artesanal em mar aberto, isso porque ele não tem predadores naturais e se reproduz rapidamente. Além das implicações para o meio ambiente, o peixe-leão tem 18 grandes espinhos que armazenam um veneno usado para encurralar presas, e que podem ferir banhistas e pescadores, causando muita dor, entre outras consequências.
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O peixe-leão possui 18 grandes espinhos que armazenam um veneno capaza de causar dores intensas (Foto: Pixabay)
A espécie não tem predadores naturais no oceano Atlântico, o que pode acarretar uma multiplicação de difícil controle. "A proliferação pode causar um desequilíbrio no ecossistema, alterando o equilíbrio das cadeias tróficas, bem como impactar as espécies de importância comercial, seja consumindo os juvenis dessas espécies, seja consumindo animais que servem de alimento para as mesmas”, informa o cientista-chefe em meio ambiente da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará, Luís Ernesto Arruda Bezerra.
A primeira aparição do animal no Brasil foi registrada em 2016 em Arraial do Cabo (RJ) e, posteriormente, no arquipélago de Fernando de Noronha em 2020. Segundo o cientista, a primeira aparição da espécie no Ceará aconteceu em março deste ano.
Até o fim de abril, foram registradas 40 notificações e 28 peixes-leão capturados, de acordo com a Secretaria de Saúde do Ceará (SESA). Em sua maioria, os peixes estão sendo encontrados nos currais de pesca, marambaias e recifes naturais.
Para identificar e estudar o comportamento da espécie, o método de monitoramento participativo está sendo utilizado no nordeste. O Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará lançou, inclusive, um aplicativo para que pescadores possam registrar ocorrências e acidentes. Os dados do formulário serão utilizados para mapear a expansão no litoral e decidir quais medidas preventivas devem ser tomadas.
O percurso do peixe-leão até o Brasil
Segundo o manual de pesquisa e manejo do peixe-leão publicado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a invasão do peixe-leão, espécie nativa do Indo-Pacífico, ao oceano Atlântico se deu na Flórida, Estados Unidos, em 1985. A soltura da espécie por criadores de aquário tornou comum a circulação dos gêneros Pterois volitans e Pterois miles na costa leste dos Estados Unidos.
Posteriormente, em 2004, o peixe-leão chegou às Bahamas e se estabelece em todo o litoral do Caribe, gerando impactos devastadores ao ecossistema. Os danos causados ao setor pesqueiro e de turismo da região fez com que medidas de controle que incentivam a caça e consumo da espécie fossem tomadas.
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Para o ICMBio a chegada do peixe-leão ao Brasil já era esperada. O litoral brasileiro já recebeu outras espécies de peixes recifais provindos do Caribe. Entretanto, um filtro formado pelo rio Amazonas e Orinoco dificulta a entrada de novas espécies – o que não acontece com o peixe-leão. Por apresentar características que facilitam a dispersão, ele consegue atravessar esse filtro com maior facilidade.
Enquanto cientistas mapeiam e estudam o comportamento do peixe em águas brasileiras, a captura e consumo do animal não é estimulada, para evitar acidentes durante o manuseio.
O que fazer em caso de acidente com o peixe-leão?
Com um corpo repleto de listras vibrantes e nadadeiras que se assemelham a um leque, o peixe-leão vive até 15 anos, podendo apresentar até 47 centímetros. Apresentando 13 espinhos no dorso, um em cada nadadeira e três na parte posterior, o veneno que se encontra nessas glândulas não é letal, mas pode causar muita dor em quem tiver contato com o animal, entre outros sintomas.
“O veneno é cardiotóxico e citotóxico além de conter acetilcolina e neurotoxinas que afetam a transmissão neuromuscular. O contato com o veneno do peixe causa dor intensa, o que leva a náuseas, cefaleia, além de causar eritema e inchaço no local”, diz o cientista Luís Ernesto Arruda Bezerra.
O pescador cearense, Francisco Mauro da Costa Albuquerque, sofreu o primeiro acidente registrado no país, em abril. Durante o trabalho em um curral de pesca, Francisco teve sete perfurações no pé através do contato com o peixe-leão, sofrendo dores, convulsões e duas paradas cardíacas. Após tratamento na unidade hospitalar do município de Barroquinha, Ceará, ele passa bem.
Em caso de acidente com o peixe-leão, o ICMBio indica que água quente seja passada no local para dificultar a ação do veneno. Um atendimento médico deve ser procurado o mais rápido possível para que o tratamento correto seja prescrito.
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Source: Rural