O cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo Mineiro deve colher na safra 2022/2023 um total de 316,95 milhões de caixas de laranja de 40,8 kg, um aumento de 20,53% em relação à safra anterior, que fechou com 262,97 milhões de caixas, sofrendo os impactos da seca e geadas. A produção nos municípios mineiros deve ser de 22,29 milhões de caixas. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (26/5) pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), em Araraquara (SP).
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As variedades com maior produção devem ser a Valência, com 106,78 milhões de caixas, e a Pêra Rio com 93,95 milhões. A estimativa de safra representa um aumento de 1,1% em relação à média dos últimos dez anos. Para Juliano Ayres, gerente-geral do Fundecitrus, no entanto, safras de 350 milhões de caixas são coisa do passado.
De acordo com o coordenador da Pesquisa de Estimativa de Safra (PES) do Fundecitrus, Vinícius Trombin, nos dois últimos anos, houve uma descontinuidade do ciclo bianual de produção, caracterizado pela alternância entre safras altas e baixas. “As chuvas registradas nos últimos meses tiveram papel fundamental para a composição dessa expectativa de produção. Se esse número se confirmar, finalmente, será observada a passagem da bienalidade negativa para positiva.”
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As chuvas iniciaram em outubro e vêm tendo boa distribuição em todas as áreas produtoras, sem a ocorrência de veranicos e com temperaturas abaixo da média histórica. A precipitação média acumulada no cinturão citrícola foi de 923 milímetros, volume 22% abaixo da normal climatológica, mas 16% maior do que o acumulado no mesmo período do ano anterior. Essa situação possibilitou que as plantas sem irrigação florescessem em outubro, emitindo a “segunda florada”.
O peso projetado para as laranjas no ponto de colheita é de 158 gramas, 10,49% acima do peso médio de 143 gramas da safra passada, mas 3,66% abaixo do peso médio obtido nas últimas sete safras (164 gramas). A favor do crescimento das laranjas está o aumento da área irrigada de pomares adultos, que subiu de 31% em 2018 para 39% em 2022.
A produtividade média é estimada em 920 caixas por hectare e 1,86 caixas por árvore, ante as 760 caixas por hectare e 1,58 caixas por árvore colhidas na safra 2021/22.
Colheita de laranja deve ser 20% maior na safra 2022/2023 (Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)
Inventário
O Fundecitrus atualizou os dados do inventário de árvores, uma espécie de raio-x da citricultura de São Paulo e Minas, que havia sido feito antes em 2015 e 2018. As árvores produtivas totalizam agora 169,97 milhões e ocupam uma área de 344.389 hectares. Esses valores representam um crescimento de 3,41 milhões de árvores, equivalente a 2% sobre o inventário de 2018, e uma redução da área produtiva em 0,50%.
A taxa de queda média de frutos projetada é de 20%, ficando abaixo apenas das taxas observadas nas últimas duas safras, quando as condições climáticas foram severas. O principal motivo dessa projeção é a intensificação dos problemas fitossanitários, como o aumento da incidência de laranjeiras com sintomas de greening no cinturão citrícola, associado a problemas com bicho-furão e moscas-das-frutas, pinta preta e leprose.
O greening é citado por Ayres ainda como o grande vilão da citricultura mundial e também da brasileira. Ele lembra que a doença que só existia na Ásia e África se globalizou a partir de 2004, infectou 90% dos pomares na Flórida, derrubando a produção americana, e vem crescendo no Brasil, acendendo o sinal vermelho na cadeia. A média de incidência que era de 18,5% no inventário de 2018 passou para 22,37% em 2021. Há regiões produtoras, no entanto, em que já passa de 50%, casos de Limeira (72,3%) e de Brotas (56,8%).
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“Nesses casos, claramente, o citricultor não fez um bom controle do psilídeo (inseto que transmite a bactéria do greening) e plantou ao lado de pomares abandonados. Essa doença é de ação coletiva, como a dengue. O produtor tem que cuidar de seu pomar, mas os vizinhos também. Em áreas de alto risco, esse trabalho de combate tem que ser integrado.”
Na divulgação dos resultados, que voltou a ser presencial após dois anos, o gerente geral citou quatro tendências da citricultura brasileira para os próximos anos: crescimento de área para a laranja pêra e a laranja destinada ao suco in natura; aumento crescente de área irrigada; adequação da densidade do pomar após um aumento excessivo na densidade como reação ao avanço do greening; e aumento de pomares tecnificados e sustentáveis.
Source: Rural