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O presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, afirmou nesta sexta-feira (6/5) que preços de combustíveis não impactam de forma significativa os lucros da empresa, e que o principal vetor de ganhos é a área de Exploração & Produção de petróleo da companhia, ao responder manifestações do presidente Jair Bolsonaro sobre o assunto.

"Não há uma relação significante entre os resultados da Petrobras e os reajustes dos preços de combustíveis… para terem uma ideia, 80% dos ganhos no período foram provenientes das atividades, e de exploração e produção de petróleo…", disse ele, durante entrevista a jornalistas, para comentar os lucros do primeiro trimestre.

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Ele lembrou ainda que o preço do petróleo também não pode ser considerado o único fator impulsionador dos resultados, citando que no primeiro trimestre de 2014 as cotações estavam próximas dos patamares vistos nos primeiros três meses deste ano, e a companhia não teve um resultado tão bom naquela época.

"Embora o preço do petróleo estivesse neste mesmo patamar (em 2014), a Petrobras não teve o resultado que teve agora, porque não é simplesmente uma questão de preço elevado, mas sim questão de gestão eficiente, comprometida com a busca de resultados e de redução de custos", destacou.

Logo da Petrobras na sede da companhia (Foto: Sergio Moraes/File Photo/Reuters)

 

"Estupro"

O presidente Jair Bolsonaro fez um pedido veemente à Petrobras, na quinta-feira (5/5), para reduzir seu lucro, que considerou "absurdo" e "um estupro", e fez um apelo para que não haja novos aumentos nos preços dos combustíveis, sob o risco de o Brasil quebrar.

Ao lembrar da greve dos caminhoneiros que parou o país em 2018, no governo de Michel Temer, Bolsonaro alertou que pode haver uma "convulsão" caso haja novo aumento no preço do diesel.

"A gente apela para a Petrobras, não reajustem o preço dos combustíveis. Vocês estão tendo um lucro absurdo", disse o presidente na tradicional transmissão ao vivo por redes sociais às quintas-feiras.

"Ela (Petrobras) deve ter a função social. Petrobras, estamos em guerra. Petrobras, não aumente mais o preço dos combustíveis. O lucro de vocês é um estupro, é um absurdo", afirmou, enfatizando que não interfere na empresa e isentando-se da responsabilidade pela situação.

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"Se continuar tendo lucro dessa forma, aumentando o preço do combustível, vai quebrar o país… se tiver mais um aumento de combustível, pode quebrar o Brasil. E o pessoal da Petrobras não entende ou não quer entender, ou só estão de olho no lucro", acrescentou.

Ao mesmo tempo em que Bolsonaro fazia seus apelos à Petrobras, a estatal divulgava um lucro líquido de 44,56 bilhões de reais no primeiro trimestre do ano. Em um comunicado, o presidente-executivo da estatal, José Mauro Coelho, afirmou que os resultados da petroleira geram "retorno importante para o acionista, em especial a sociedade brasileira, representada pela União".

Bolsonaro apontou o combustível como o "vilão" da inflação que atinge o país, e disse que o nome da empresa "vai para a lama" caso haja um novo reajuste do preço do diesel, apontando os impactos do aumento do frente em artigos básicos, como alimentação.

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O presidente fez apelos diretos ao presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, e ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, com quem deve se encontrar na sexta-feira em viagem à Guiana. Também incluiu os acionistas e os membros do conselho da empresa na críticas.

Bolsonaro lembrou ainda da situação de crise econômica, a guerra na Ucrânia, que afeta o preço do barril do petróleo, e os impostos cobrados sobre os combustíveis como outros fatores para as altas de preço.

Lucro da Petrobras disparou

A Petrobras reportou lucro líquido de R$ 44,56 bilhões referente ao primeiro trimestre, uma disparada ante o valor de R$ 1,167 bilhão obtido um ano antes, em meio a preços mais altos do petróleo e derivados, conforme balanço financeiro divulgado nesta quinta-feira.

O resultado também superou em 41,4% o lucro visto no quarto trimestre do ano passado, quando somou R$ 31,5 bilhões, com maior produção e exportação de petróleo, menores custos com importação de Gás Natural Liquefeito (GNL), ganhos cambiais devido à valorização do real frente ao dólar, os preços do petróleo mais altos e maiores margens de diesel no período.

O resultado superou as projeções de analistas consultados em pesquisa da Refinitiv, que indicavam R$ 43,48 bilhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado atingiu 77,71 bilhões de reais, contra estimativa de 76,3 bilhões. Nos três primeiros meses do ano passado, o montante ficou em 48,9 bilhões de reais.

Já a receita de vendas avançou 64,4% na comparação anual, para 141,6 bilhões de reais. As vendas de diesel somaram 38,8 bilhões de reais, com alta de 54,5% na mesma comparação, e as de gasolina dispararam 75,3%, para 19,4 bilhões de reais, em meio a preços mais altos dos produtos.

Na semana passada, a empresa havia informado uma queda de apenas 2,1% no volume vendido de diesel ante o mesmo período do ano passado, o que indica o impulso dos preços nos ganhos com o combustível mais vendido pela empresa.

Quase que no mesmo momento em que a Petrobras divulgava seus resultados, o presidente Jair Bolsonaro afirmava em sua live semanal que o lucro da empresa é um "estupro". Ele disse ainda que pediu por uma redução na margem de lucro da petroleira estatal, e fez um apelo para que não haja novos aumentos de preços.

Procurada, a Petrobras não comentou o assunto imediatamente. Mas o presidente da companhia, José Mauro Coelho, afirmou no relatório do resultado que o "sólido" desempenho se deve ao fato de a companhia estar "saneada", tendo reduzido encargos com o pagamento da dívida.

Parte do endividamento no passado da empresa –que chegou a ter a maior dívida de uma companhia de petróleo– foi acumulado durante período em que a petroleira subsidiava combustíveis aos brasileiros, evitando repassar a alta das commodities para os consumidores.

Coelho, que tomou posse no mês passado após o presidente anterior da empresa Joaquim Silva e Luna ter sido substituído em meio a queixas de Bolsonaro sobre os preços dos combustíveis, comentou ainda que com uma empresa saudável financeiramente é possível gerar "retorno importante para o acionista, em especial a sociedade brasileira, representada pela União".

O Conselho da Petrobras aprovou nesta quinta-feira distribuição de dividendos no valor de 3,715490 reais por ação preferencial e ordinária em circulação, somando 48,5 bilhões de reais, conforme informações da empresa. "Tudo isso gera desenvolvimento econômico em toda a cadeia produtiva, gerando emprego, renda e arrecadação de tributos para o país", disse Coelho, mantendo um discurso do ex-presidente Luna.

Coelho citou que no trimestre a companhia pagou para União, Estados e municípios em tributos "uma vez e meia o valor do nosso lucro líquido", ou quase R$ 70 bilhões. "A Petrobras está distribuindo os frutos de sua geração de valor para a população brasileira", acrescentou o CEO.

Para o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), criado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), a distribuição de dezenas de bilhões em dividendos só foi possível em virtude do expressivo aumento das receitas de vendas nos mercados interno e externo, impulsionadas tanto pelas altas dos preços do petróleo quanto pela forte elevação dos valores dos derivados no Brasil.

"A manutenção da política de preços de paridade de importação (PPI) revelou-se, mais uma vez, elemento central da estratégia de geração de valor da companhia, a despeito dos seus impactos nefastos no custo de vida dos brasileiros", disse o pesquisador do Ineep, Mahatma dos Santos, em nota.

A Petrobras disse que a média do preço do barril de petróleo (Brent) no trimestre foi de 101 dólares, patamar que não ocorria desde o primeiro trimestre de 2014. "Apesar do mesmo nível de preço, o desempenho da Petrobras é bastante superior neste trimestre em comparação ao período anterior de preço equivalente de Brent", destacou.

A empresa afirmou ainda que convive com um "nível saudável" de endividamento bruto, que atingiu R$ 58,6 bilhões de dólares no primeiro trimestre, valor 74% menor que a dívida no mesmo período de 2014, quando o endividamento explodiu. Além disso, os juros pagos de financiamentos caíram 65% neste período, destacou. Já a dívida líquida foi de US$ 40,1 bilhões, queda de 16% ante o quarto trimestre.
Source: Rural

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